Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A Eletrobras (BVMF:ELET3) continua trabalhando com a expectativa de que a usina nuclear de Angra 3 terá suas obras finalizadas, mas fará uma avaliação dos eventuais impactos para a companhia em um eventual cenário de desmobilização do projeto, disse nesta quarta-feira o CEO, Wilson Ferreira Júnior.
Em teleconferência para comentar os resultados trimestrais, a administração da Eletrobras foi instada por analistas a comentar sobre quais seriam os custos para a empresa caso Angra 3 seja descontinuada, conforme defendido por uma ala do governo em notícias publicadas na imprensa.
Segundo Rodrigo Limp, vice-presidente executivo de Regulação e de Relações Institucionais da Eletrobras, não há uma "receita pronta" sobre esse tema, e eventuais efeitos para a Eletrobras dependeriam muito das circunstâncias e da capacidade da Eletronuclear -- hoje estatal e responsável pelo projeto -- de suportar a dívida e os custos associados ao abandono do projeto.
Os ativos nucleares permaneceram sob controle estatal após a privatização da Eletrobras, mas a companhia ainda é acionista da Eletronuclear e mantém alguns compromissos relacionados ao projeto.
A Eletrobras é, por exemplo, garantidora da dívida de Angra 3 e poderia sofrer execução dessas garantias em um caso extremo.
"Entretanto, juridicamente a gente tem todas as prerrogativas de buscar um ressarcimento... dessa eventual execução", disse Limp, lembrando que a dívida do empreendimento é de 6 bilhões de reais.
Ele explicou ainda que os custos de desmobilização da obra não têm garantias da Eletrobras e são de responsabilidade da atual dona do projeto. Não há, porém, clareza de qual seria o papel da Eletrobras em um eventual cenário de aporte de capital para descomissionar o projeto, decisão que exigiria recursos bilionários.
Ferreira Júnior lembrou que a Eletronuclear não é mais uma empresa deficitária como era na época que estava sob o guarda-chuva da Eletrobras. "Ela tem um Ebitda robusto e positivo, ela tem condições de fazer frente a eventuais eventos adversos", disse.
"Trabalhamos sempre com a perspectiva de que esse projeto, dada a sua importância para o Brasil, ele venha a ser continuado e concluído", afirmou o CEO.
"A continuidade do processo não depende de incluí-lo no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)", acrescentou, ao comentar notícias de que o governo poderia deixar o empreendimento fora do programa que será anunciado na sexta-feira.
Projetada com 1,4 gigawatt (GW) de potência, Angra 3 teve suas obras iniciadas na década de 1980, mas ao longo dos anos elas foram paralisadas e reiniciadas algumas vezes. Atualmente, o progresso físico total do empreendimento é de 65%.
O governo brasileiro ainda está debatendo a possibilidade de concluir Angra 3, obra que teria um custo adicional de 20 bilhões de reais e iniciaria operações até 2029. Além do custo elevado do projeto, o governo também pesa na decisão de continuar com o empreendimento o valor da energia gerada, que seria mais cara que a proveniente de outras fontes.
PROVISÕES E PDVS
A Eletrobras divulgou nesta semana um aumento de 16% no lucro líquido no segundo trimestre, a 1,62 bilhão de reais, surpreendendo positivamente analistas, que destacaram uma reversão bilionária de provisões e controle de custos no período.
No caso das provisões, a companhia conseguiu uma redução importante em seu principal passivo, o empréstimo compulsório, principalmente por meio de acordos judiciais.
Segundo a diretora financeira, Elvira Presta, outros acordos já firmados pela Eletrobras mas ainda não homologados devem levar a uma diminuição, no terceiro trimestre, de cerca de 2 bilhões de reais no estoque de provisões da companhia, passando dos atuais 22 bilhões de reais para 20 bilhões.
Já do lado dos custos, a companhia tem visto melhora sobretudo na linha de pessoal, material, serviços e outras despesas (PMSO), principalmente com a abertura de programas de demissão voluntária (PDVs).
Segundo Ferreira Júnior, a companhia tem visto uma saída mais lenta de empregados que aderiram ao primeiro PDV aberto, que levará ao desligamento de 2.494 funcionários até o fim deste ano.
Com essa lentidão, a empresa espera que a economia com essa iniciativa em 2023 fique perto de 790 milhões de reais, abaixo dos 890 milhões previstos inicialmente. Em 2024, a expectativa é de que o PDV atinja a economia anual projetada de 1,2 bilhão de reais.
Já o segundo PDV, lançado pela companhia em junho, teve adesão de 1.475 empregados, com custo agora estimado em 513 milhões de reais.
AQUISIÇÕES
Ainda durante a teleconferência, a Eletrobras ressaltou que está avaliando uma série de oportunidades de aquisições. No caso do setor de geração de energia, estão na mesa tanto compras de ativos separados, quanto de empresas geradoras.
Já uma eventual aquisição da usina hidrelétrica de Belo Monte não está sendo estudada, disse o CEO.
Segundo ele, não seria saudável do ponto de vista financeiro para a Eletrobras adquirir o empreendimento e passar a consolidar em seu balanço uma dívida na casa de 28 bilhões de reais, especialmente depois que a Eletrobras já fez um movimento semelhante com a Santo Antônio Energia, cuja dívida somava 20 bilhões de reais.
A Eletrobras é sócia de Belo Monte junto com outras elétricas, como Neoenergia (BVMF:NEOE3) e Cemig (BVMF:CMIG4), que já anunciaram publicamente sua intenção de se desfazer de suas participações no ativo.
(Por Letícia Fucuchima)