Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A AES Tietê (SA:TIET11), braço de geração da norte-americana AES no Brasil, tem avaliado algumas possibilidades de aquisição em renováveis para expandir seus negócios no país, incluindo um projeto eólico colocado à venda pela Renova Energia (SA:RNEW11), disse à Reuters nesta quarta-feira o presidente da companhia, Ítalo Freitas.
Os planos ainda podem passar por uma eventual participação em um leilão da estatal Eletrobras (SA:ELET3) que oferecerá fatias da empresa em usinas eólicas. Mas o foco da AES Tietê será em projetos nos quais a companhia possa ser controladora, segundo o executivo.
As oportunidades fazem parte de um plano da elétrica de ampliar até 2020 a participação de fontes renováveis não-hídricas em seu portfólio, o que deve passar no curto e médio prazo também pelo investimento na construção de parques de geração solar de menor porte ou usinas eólicas para a venda de energia diretamente a clientes.
"O foco nosso hoje é crescer, buscar oportunidades no mercado", afirmou Freitas, que está à frente do principal negócio do grupo norte-americano AES no Brasil, após a empresa ter vendido a distribuidora paulista Eletropaulo (SA:ELPL3).
A AES Tietê já adquiriu um complexo eólico da Renova na Bahia, o Alto Sertão II, próximo ao projeto Alto Sertão III, que a companhia de renováveis da Cemig (SA:CMIG4) agora busca vender por falta de recursos para concluir as obras.
"Nós estamos olhando. Não tem nada ainda fechado, mas estamos lá, tem outros também olhando. Tem (sinergias com Alto Sertão II), mas é um desafio. É um projeto interessante, bem interessante, mas é desafiador", disse o executivo.
A Renova, que tem também entre os sócios a Light (SA:LIGT3), controlada da Cemig, disse em julho que recebeu propostas não vinculantes por Alto Sertão III. Um dos interessados é a Aliança Geração, joint venture entre a própria Cemig e a Vale (SA:VALE3) para investimentos em energia, conforme publicado pela Reuters.
Freitas lembrou que a compra de Alto Sertão II também teve suas complicações, uma vez que o parque apresentava problemas na época da transação, mas hoje é considerado um exemplo de sucesso para a AES Tietê.
"Era um caso também desafiador, ele vinha performando tecnicamente mal e a gente fez um 'turn-around'", afirmou.
A AES Tietê assumiu o parque com 14 aerogeradores indisponíveis em agosto de 2017. Em março deste ano, apenas duas máquinas estavam paradas, uma ociosidade que foi zerada em abril, enquanto o fator de paradas forçadas do empreendimento caiu de 9,6 por cento em agosto para 2,9 por cento em abril.
A companhia pagou 600 milhões de reais por Alto Sertão II, com 386 megawatts em capacidade. Alto Sertão III, que terá cerca de 400 megawatts, chegou a receber uma oferta de 650 milhões de reais da canadense Brookfield, mas as negociações com a Renova não avançaram.
No caso dos ativos eólicos da Eletrobras, que somam cerca de 1 gigawatt e serão licitados pela companhia em 27 de setembro, a AES Tietê pode avaliar os que forem participações majoritárias.
"Estamos vendo mais de longe, porque o leilão da Eletrobras é muito mais de participações nos projetos, e a AES tem uma premissa de ser majoritária. Tem uns ativos interessantes, a gente está olhando alguns, de longe", disse Freitas.
USINAS PARA CLIENTES
A AES Tietê também pretende crescer com a construção de pequenas usinas solares para a venda da produção a clientes comerciais ou industriais, a chamada geração distribuída, como em negócio fechado com as drogarias Araújo, pelo qual a companhia suprirá a demanda da rede com 5 megawatts em geração fotovoltaica.
Um outro negócio semelhante foi fechado recentemente, envolvendo 4 megawatts, disse Freitas, sem abrir detalhes ou o nome do cliente.
Ele acrescentou que a AES Tietê também está prestes a construir duas pequenas usinas solares em Minas Gerais e São Paulo, de cerca de 1 megawatt cada, para vender a energia de forma pulverizada a clientes que não têm uma demanda suficiente para serem abastecidos sozinhos por um parque.
"Em geração distribuída estamos em duas linhas. A primeira são essas fazendas remotas para um cliente. A outra é essa comunidade solar. Para os clientes que não querem fechar uma planta inteira, você fecha uma planta e fatia para vários clientes. Estamos indo nessa linha, inclusive as placas (fotovoltaicas) já estão compradas", explicou.
Outra alternativa, mas que possivelmente renderá negócios no médio prazo, é a construção de usinas eólicas para atender exclusivamente à demanda de clientes com grande consumo, como indústrias eletrointensivas.
Nesse modelo, a AES Tietê pode viabilizar o investimento no projeto, enquanto o cliente recebe os benefícios garantidos na regulação a empresas autoprodutoras, que têm alguns descontos em encargos ao gerar a própria energia.
"Nós queremos estar em toda a cadeia de valor do cliente, apoiando desde a decisão dele de comprar energia, as opções que ele tem, onde pode se encaixar. Se ele vai viabilizar ou não uma geração solar distribuída, uma eólica, ou (se vai ser mais vantajoso) um contrato de longo prazo para energia convencional de nossas hidrelétricas", disse Freitas.
O executivo afirmou que esse modelo de negócios está alinhado a uma visão do setor elétrico do futuro, com novas tecnologias e um crescimento da importância dos serviços.
"O Brasil vai ter que mudar, modernizar o mercado, e a gente na AES já está se preparando", resumiu.
Atualmente, a AES Tietê opera cerca de 2,65 gigawatts em capacidade em usinas hidrelétricas, além de 386 megawatts do parque eólico Alto Sertão II e 150 megawatts de uma usina solar em São Paulo. A empresa ainda tem dois empreendimentos solares em construção, além dos negócios em geração distribuída.