Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A elétrica AES Tietê, da norte-americana AES, tem mantido conversas com empresas que são consumidoras intensivas de energia no Brasil para fechar contratos ou parcerias que viabilizem novos parques eólicos ou solares, disse à Reuters um executivo da companhia.
Somente em eólicas, a empresa tenta viabilizar 2 gigawatts médios nessas modalidades de negócios, enquanto no segmento solar não vê parcerias no curto prazo, afirmou à Reuters o diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da AES Tietê, Bernardo Sacic.
Aproveitando seu expertise no setor, a AES negocia a construção de usinas voltadas a atender à demanda dos clientes, seja no chamado regime de autoprodução ou para venda da energia gerada nos empreendimentos por meio de contratos convencionais.
"Hoje temos conversas com clientes envolvendo um total de 2 gigawatts médios (em energia)... são grandes consumidores, na sua maioria eletrointensivos, indústrias de grande porte, com acesso a capital", disse.
A empresa, inclusive, anunciou recentemente dois negócios nesses moldes --um para fornecimento de energia à mineradora Anglo American (LON:AAL) por 15 anos e um para construção de um parque eólico para a Unipar (SA:UNIP3) Carbocloro. As usinas eólicas resultantes desses acordos somarão investimentos de quase 1,3 bilhão de reais.
Segundo o diretor, mesmo após esses contratos, a empresa ainda tem um portfólio de empreendimentos prontos para construção que representam cerca de 2 gigawatts em capacidade e podem viabilizar mais acordos e parcerias semelhantes.
Ao mesmo tempo, AES Tietê mantém conversas com desenvolvedores para acessar novos projetos caso necessário.
Com os clientes, as conversas envolvem tanto transações com energia eólica quanto solar, mas no momento a maior demanda tem sido pelos projetos a vento, afirmou Sacic.
No chamado regime de autoprodução, consumidores que produzem a própria energia possuem desconto em alguns encargos. Mas a maior parte das empresas não está preparada para lidar com os riscos e complexidades associadas ao desenvolvimento de um projeto de geração de energia, apontou ele.
O modelo da AES para essas parcerias em autoprodução prevê que a empresa e os clientes compartilhem investimentos e participação nos empreendimentos, com diversos formatos de contratos, inclusive alguns em que a elétrica pode assumir a maior parte dos riscos do negócio.
Mas a elétrica também trabalha com outros formatos de negócio, nos quais fecha apenas a venda da energia das usinas para os consumidores e fica responsável sozinha pela construção.
"Acho que 2020 vai ser um ano muito intenso nessas negociações, estamos esperando fechar bastantes contratos com esses clientes. Estamos preparados para fazer um grande volume no ano que vem", afirmou Sacic.
Os projetos que a AES tem em carteira para atender esses compromissos envolvem principalmente parques eólicos na Bahia e no Rio Grande do Norte.
Os acordos com Anglo American e Unipar Carbocloro são para usinas no chamado complexo eólico Tucano, na Bahia, no qual a empresa ainda tem disponibilidade para viabilizar mais parques com até 230 megawatts em capacidade, segundo o executivo.
FUSÕES E AQUISIÇÕES
Em paralelo às busca por parcerias e contratos de fornecimento que permitam a construção de novas usinas, a AES também tem buscado ampliar sua capacidade de geração no Brasil com aquisições.
A AES Tietê tem focado oportunidades em energia eólica e solar, em meio a uma estratégia de reduzir sua exposição a riscos hidrológicos devido a seu grande parque hidrelétrico.
"O setor ainda apresenta grandes oportunidades de consolidação... estamos fazendo estudos, temos alguns projetos já em andamento, em negociação, que não posso divulgar, mas estão indo bem. Temos, sim, interesse e vamos continuar a buscar projetos em 2020 também", afirmou.
O interesse, nessa frente, é por ativos em operação, sem riscos de construção, acrescentou.
A AES Tietê chegou a anunciar mais cedo neste ano um pré-acordo com a Renova Energia (SA:RNEW11) para aquisição do complexo eólico Alto Sertão III, que tem quase 90% das obras concluídas, mas depois as negociações foram encerradas sem sucesso.