Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A elétrica estatal chinesa China Three Gorges (CTG), que nos últimos anos investiu mais de 15 bilhões de reais em hidrelétricas no Brasil, prepara-se agora para em usinas eólicas e solares, afirmou à Reuters o presidente da companhia no país.
A elétrica, que abriu escritório no país em 2013, tem avaliado diversas oportunidades de aquisição no mercado brasileiro e pode fechar algum negócio para estrear nessas novas fontes renováveis em até um ano.
As aquisições têm sido o caminho preferencial para a expansão dos chineses no Brasil, que inclui até o momento a compra de participação em hidrelétricas e eólicas da EDP (SA:ENBR3) Energias do Brasil e de duas usinas hídricas da Triunfo, além das hidrelétricas assumidas neste mês, que pertenciam à Cesp (SA:CESP5).
"Nos primeiros dois anos nosso foco tem sido mais hidrelétricas, mas no futuro nós podemos começar a ter um pouco mais de renováveis... temos olhado as renováveis mais seriamente, e até que possamos fechar alguma coisa deve levar algo entre seis meses e um ano", afirmou Li Yinsheng, que comanda a CTG no Brasil.
A gigante chinesa foi apontada recentemente como uma das interessadas em adquirir uma fatia na Renova Energia (SA:RNEW11), braço de investimento em renováveis da mineira Cemig (SA:CMIG4) que tem procurado um novo sócio.
Li não quis comentar nenhuma transação específica, mas disse que a empresa avalia "diferentes oportunidades" no país por meio de uma equipe especializada em fusões e aquisições.
No longo prazo, no entanto, a China Three Gorges também pretende desenvolver projetos próprios no Brasil a partir do zero, ao invés de focar o crescimento apenas em compras de ativos.
"Desse jeito podemos criar mais valor e criar mais empregos", disse Li.
Questionado sobre o ritmo dos investimentos no país, o executivo disse não haver uma meta em valores ou capacidade instalada, com a expansão sendo guiada pelas oportunidades.
"Não temos um número definido... temos que ter um bom perfil entre risco e retorno", disse.
O executivo também preferiu não comentar se os ativos brasileiros estão baratos para os chineses no atual momento de crise. "Não podemos dizer que esse é um bom ou mau preço, o preço é estabelecido pelo mercado".
Além da Three Gorges, outra chinesa que tem marcado presença no mercado brasileiro é a State Grid, que estreou no país em 2011, também por meio de aquisições.
Na semana passada, a companhia anunciou a compra da fatia de 23 por cento da Camargo Corrêa na CPFL Energia (SA:CPFE3), em um negócio avaliado em 5,8 bilhões de reais. O valor, no entanto, pode ser bem maior se os demais acionistas da companhia também decidirem vender suas participações no negócio. [nL1N19N28K]
HIDRELÉTRICAS DE LEILÃO
A Three Gorges assumiu na semana passada a operação de duas hidrelétricas da Cesp que somam cerca de 5 gigawatts em potência e tornou-se assim a sétima maior geradora do Brasil, com quase 6 gigawatts em operação.
A empresa fica atrás apenas de subsidiárias da estatal federal Eletrobras (SA:ELET3), da privada Tractebel (SA:TBLE3), controlada pela francesa Engie, e da também estatal Petrobras (SA:PETR4), segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
"Foi um bom negócio", afirmou Li sobre a compra dos direitos sobre as usinas da Cesp, que foram licitadas pelo governo federal após o final de suas concessões. O negócio envolveu 13,8 bilhões de reais.
Neste ano o governo deve realizar mais um leilão desse tipo, que deverá oferecer mais de 2 gigawatts em hidrelétricas já em operação. [nL1N19Q0IS]
Questionado sobre o interesse no certame, Li disse é cedo para falar do assunto e que a empresa irá avaliar a participação assim que forem definidas regras e usinas que serão oferecidas.
Responsável pela construção da maior hidrelétrica do mundo em capacidade instalada, a usina chinesa de Três Gargantas, a Three Gorges teve receita operacional de 10,12 bilhões de dólares em 2015, com lucro de 4,6 bilhões de dólares.