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ENTREVISTA-M. Dias Branco busca recompor margens após disparada do câmbio

Publicado 08.07.2020, 13:36
Atualizado 08.07.2020, 13:50
© Reuters. Trabalhador utiliza farinha de trigo na fabricação de pães em São Paulo (SP)
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Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) - Na expectativa de um segundo semestre economicamente afetado pela pandemia do coronavírus, a companhia de alimentos M. Dias Branco (SA:MDIA3), uma das maiores produtoras de farinha de trigo, massas e biscoitos do Brasil, adotou estratégias para recompor margens afetadas pelos impactos do câmbio sobre os custos de produção.

Investimentos em automatização, maquinário, estocagem, hedge cambial, otimização de portfólio, nas malhas logísticas e operacionais são algumas das medidas adotadas pela empresa, que tem no trigo a principal matéria-prima, muito importada pelo Brasil.

A estratégia de repasses de custos ao consumidor final foi colocada em prática em duas rodadas, mas o vice-presidente de Investimentos e Controladoria da empresa, Gustavo Lopes Theodozio, disse à Reuters que não será possível repassar 100% do aumento das despesas.

"Fizemos a primeira precificação do portfólio no início do ano e a segunda em junho, o que minimiza um pouco o efeito do câmbio... mas a recomposição de margens é algo muito desafiador", afirmou o executivo da companhia que é líder nos mercados de biscoitos e massas no Brasil, com mais de 30% de market share.

Ele não detalhou a alta no preço do trigo para a empresa. No mercado de referência do Paraná, a matéria-prima registra alta de cerca de 40% no acumulado do ano, para patamares nunca vistos de mais de 1.200 reais por tonelada, enquanto o dólar subiu mais de 30% no período.

Em abril, a associação representante do setor Abimapi disse à Reuters que a indústria brasileira preparava reajustes de 12% a 30% no portfólio durante o primeiro semestre, para repassar o aumento de custos com trigo impulsionado pelo dólar. Mais recentemente, a entidade reportou alta de cerca de 5% no faturamento do segmento no primeiro quadrimestre.

A cotação do dólar interfere na paridade de preços do trigo, principal matéria-prima dos moinhos do setor, e no valor dos insumos importados que são utilizados na formação de blends para o portfólio da indústria.

Tradicionalmente, o Brasil precisa de trigo importado, em sua maioria da Argentina, para complementar a oferta nacional e atender a demanda doméstica estimada em mais de 12 milhões de toneladas.

No caso da M. Dias, Theodozio disse que faz parte dos negócios da companhia buscar trigo de diversas fontes e acessar tanto o mercado argentino, quanto o norte-americano, canadense e russo para composição das receitas de seus produtos.

"(Com isso), o grande ofensor (das margens) é o câmbio, em função da instabilidade global e doméstica (atrelada à pandemia), questão política, etc", afirmou.

Para ele, o dólar perto de 5,50 reais "machuca demais o custo médio" da operação. Na terça-feira, a moeda norte-americana fechou em alta cotada a 5,38 reais.

"Você tem o efeito do aumento de custos, por outro lado, em função da pandemia, você vê uma recessão econômica grande chegando. Tem uma queda da renda dos brasileiros acentuada a partir do segundo semestre e o repasse de 100% do custo para o consumidor não é possível. Temos que achar outras ferramentas para neutralizar esse efeito", explicou.

MEDIDAS

Ele contou que a companhia começou a trabalhar com hedge cambial como medida de proteção e mantém capacidade de estocagem de matéria-prima para, aproximadamente, quatro meses, na tentativa de mitigar as oscilações do dólar e do preço do trigo.

"Além de conseguirmos atuar com portfólio mais rico, estamos fazendo um trabalho de melhoria de produtividade que já vinha desde janeiro. E ele passa por todas as áreas, otimização de malhas logísticas, operacionais", comentou.

Na área logística, foi integrada a distribuição de produtos da Piraquê, fabricante de biscoitos adquirida pela M.Dias em 2018.

O executivo disse que também foi feito um ajuste na força de vendas da empresa e admite que percebeu uma elevação na demanda interna decorrente das medidas de isolamento social contra o novo coronavírus.

"Produtos das nossas categorias estão bastante demandados em função da pandemia, principalmente farinhas, massas e biscoitos... Houve um pico de consumo entre o fim de março e início de abril, que se normalizou em meados de maio, mas segue forte devido ao aumento da alimentação dentro dos lares", disse.

Questionado sobre o percentual de aumento na demanda associada à crise da Covid-19, Theodozio afirmou que é difícil mensurar, pois parte do consumo também estaria atrelado a um plano estratégico que vem sendo executado pela companhia desde antes da pandemia.

AUTOSSUFICIÊNCIA EM FARINHA

© Reuters. Trabalhador utiliza farinha de trigo na fabricação de pães em São Paulo (SP)

Um dos principais elementos deste plano estratégico foi a operacionalização de um novo moinho de trigo em Bento Gonçalves (RS), inaugurado em dezembro de 2019, o que garantiu à empresa autossuficiência em farinha de trigo.

"Com a chegada deste moinho, estamos praticamente sem nenhuma dependência de farinha de terceiros para nossa produção", afirmou.

Sem revelar valores, Theodozio ressaltou que a M. Dias ainda segue investindo em automatização, em máquinas de produção na planta do Rio de Janeiro e em um processo de expansão "relevante" na atuação entre as regiões Sul e Sudeste, o que também pode contribuir para baixar custos com matéria-prima nacional.

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