Por Tatiana Bautzer e Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - Companhias elétricas controladas por grupos internacionais de energia desistiram de apresentar ofertas pela distribuidora que está sendo vendida pela italiana Enel (BIT:ENEI) em Goiás, deixando na disputa apenas duas empresas brasileiras, segundo três fontes com conhecimento do assunto.
Equatorial Energia (BVMF:EQTL3) e Energisa SA (BVMF:ENGI4) eram as duas únicas empresas ainda interessadas na compra da Celg-D depois de analisar os detalhes operacionais da empresa colocados no data room, segundo as fontes.
As ofertas deveriam ser apresentadas na semana passada. Entre as empresas que analisaram o negócio e desistiram de fazer ofertas estão a CPFL Energia (BVMF:CPFE3), controlada pela chinesa State Grid Corporation, e a EDP (BVMF:ENBR3) Brasil, da portuguesa EDP.
Segundo as fontes, EDP e CPFL preferiram não entrar na concorrência pela Celg-D por não adquirir usualmente negócios que precisam de "turnaround". A empresa de Goiás tem um dos piores índices de qualidade entre as distribuidoras brasileiras.
Enel, Energisa, EDP Brasil e Equatorial preferiram não comentar. A CPFL disse apenas que está "constantemente olhando as oportunidades que surgem no setor elétrico".
A Enel espera conseguir perto de 10 bilhões de reais pela Celg-D, incluindo a transferência de dívida. A companhia italiana pagou 2,1 bilhões de reais há seis anos para comprar a Celg-D da Eletrobras (BVMF:ELET3) e do Estado de Goiás num leilão de privatização.
Mas a Enel está com dificuldades para melhorar os índices operacionais da companhia como exigido pela privatização. Se determinados índices de qualidade não forem alcançados, a concessão pode ser extinta.
Mesmo depois de anos de altos investimentos, alguns indicadores ainda estão abaixo do exigido pela agência reguladora Aneel.
O índice de duração de interrupções de energia, conhecido como DEC, não alcançou o patamar exigido no ano passado, e a empresa poderia perder a concessão se continuar abaixo do exigido esse ano. A empresa pode apresentar à Aneel como alternativa ao descumprimento um plano para mudança de controle acionário.
Em resposta a questionamento da Reuters, a Enel disse que quintuplicou os investimentos anuais em relação ao que era feito antes da privatização, para cerca de 1 bilhão de reais por ano. Disse ainda que a duração das interrupções de energia caiu 40% desde 2017. "A companhia tem trabalhado para melhorar este indicador e atingir a meta estabelecida para o fim do ano", afirma o comunicado. Se o índice não for atingido, a Enel pode apresentar um plano para mudança de controle acionário.
A Enel tem sido atacada por políticos há algum tempo. Em 2020, o governador de Goiás Ronaldo Caiado criticou o serviço e ameaçou cassar a concessão da Enel. A Câmara dos Deputados realizou uma audiência pública para discutir o processo de venda.
Caiado disse no mês passado que a Enel não foi transparente sobre o processo de venda. "Queremos a Enel for a de Goiás", disse o governador em sua conta no Twitter.
Uma das fontes disse que representantes da Equatorial e Energisa tiveram encontros com políticos durante o processo de due diligence da Celg-D. As duas empresas são experientes em assumir empresas de energia com índices ruins de qualidade e torná-las rentáveis.
A Equatorial, entretanto, ainda está digerindo a aquisição da empresa de energia eólica e solar Echoenergia, pela qual pagou 7 bilhões de reais em março. O negócio foi parcialmente financiado por uma oferta de ações.
(Por Tatiana Bautzer e Letícia Fucuchima)