Por Roberto Samora e José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - O Santander Brasil (SA:SANB11) deverá lançar produtos de hedge de commodities agrícolas para produtores rurais e empresas do setor em 2018, em um movimento que visa expandir a presença do banco no agronegócio brasileiro, incluindo dobrar o tamanho de sua carteira de crédito rural nos próximos anos.
Em entrevista à Reuters nesta quarta-feira, o superintendente-executivo de Agronegócios da unidade brasileira do Santander, Carlos Aguiar, revelou que o banco ainda está desenvolvendo os produtos.
Mas ele destacou que o banco deverá oferecer contratos financeiros aos agricultores, que poderiam assim travar preços de sua colheita futura, sem necessidade de entrega física, paralelamente aos empréstimos.
Além disso, afirmou Aguiar, o Santander também prevê ofertar crédito para tradings operarem derivativos de commodities agrícolas, um mercado que exige pagamento de margens diárias, o que dificulta a participação de companhias menores.
"Assim fazemos barba, cabelo e bigode. O produtor fica totalmente transacionado com o banco", destacou Aguiar.
Itaú e Rabobank já possuem esse tipo de produto de hedge, mas com foco em grandes clientes, diferentemente do que buscará o Santander, que prevê ofertar tais serviços para produtores e empresas médias e pequenas também, acrescentou Aguiar.
O executivo, que trabalhou anteriormente na Cargill, visa desenvolver produtos e serviços inovadores para os clientes do Santander, desde que o banco passou a apostar no agronegócio do Brasil, como uma das formas de alavancar seus lucros no país que é uma potência agropecuária.
Os planos da instituição para o setor têm dado certo, ressaltou Aguiar, uma vez que o banco tem ganhado mercado dos concorrentes.
Pelos números mais recentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em agosto o Santander detinha 4,14 por cento de participação de mercado de crédito rural, com uma carteira de quase 12 bilhões de reais, na quinta posição entre os grandes financiadores.
Há um ano, a instituição ocupava a sexta posição, com um saldo de pouco mais de 8 bilhões de reais e market share de 3 por cento.
Nesse período, o Santander ultrapassou o Itaú Unibanco e agora está atrás de Banco do Brasil (SA:BBAS3), Banco do Nordeste, Bradesco (SA:BBDC4) e Sicredi.
"A meta é dobrar essa carteira nos próximos anos, para ter uma carteira condizente com o tamanho do banco", afirmou Aguiar, o que permitiria à instituição estar apenas atrás do Banco do Brasil, grande operador do crédito oficial agrícola do país.
ESPECIALIZAÇÃO
O crescimento do Santander no agronegócio tem sido obtido com uma estratégia de estar perto dos clientes, em importantes regiões produtoras do país, ao mesmo tempo em que oferta um serviço mais especializado.
Nesse processo de expansão dentro do agronegócio brasileiro, o Santander também inaugurará mais oito unidades exclusivamente voltadas ao segmento, dobrando o número das chamadas lojas agro, entre novembro e dezembro deste ano.
Aguiar revelou que as unidades ficarão em Mineiros (GO), Alta Floresta (MT), Nova Mutum (MT), Chapadão do Sul (MS), Maracaju (MS), Redenção (PA), Unaí (MG) e Vilhena (RO) --as duas últimas pela primeira vez nos respectivos Estados.
"O banco entende que, tendo especialização no atendimento e processo correto de escolha, a rentabilidade de um cliente agro é superior à de um cliente pessoa física", acrescentou o superintendente, ressaltando o porquê do investimento no agronegócio.
No primeiro semestre, o Santander já havia inaugurado oito lojas agro em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Maranhão.
"Fazemos essas lojas onde o agro é preponderante... Não tem caixa, não tem caixa eletrônico, gasta-se menos com segurança... Estão ajudando em nossa expansão", destacou Aguiar, acrescentando que, para 2018, a expectativa é de que até cinco novas unidades sejam inauguradas, em locais ainda não definidos.
"A ideia é aumentar, viabilizar a carteira via lojas agro e especialização de gerentes agro", disse. Segundo ele, o banco conta hoje com mais de 120 gerentes exclusivos para assuntos do agronegócio e cerca de 50 agrônomos.
PERFIL DO CLIENTE
Segundo o superintendente-executivo de Agronegócios do Santander, a queda na Selic abre espaço para o banco trabalhar mais com suas próprias taxas, de acordo com o cliente.
Aguiar explicou que a Selic a 7,5 por cento e as taxas oficiais do crédito rural a 8,5 por cento evitam que muitos arbitrem com os chamados juros controlados do Plano Safra do governo, até porque a transação não vai compensar como no passado.
Os 8,5 por cento são o teto dos juros de custeio do Plano Safra 2017/18, anunciado no início de junho pelo governo e que prevê a destinação de mais de 190 bilhões de reais no ciclo que se encerra em 30 de junho do ano que vem.
Conforme Aguiar, agora "o produtor pode vir ao banco e, a partir de seu perfil de crédito, ter uma taxa específica".
Maior banco estrangeiro no país, o Santander Brasil anunciou na quarta-feira da semana passada que teve lucro recorrente de 2,586 bilhões de reais no terceiro trimestre, alta de 37,3 por cento ante o 1,884 bilhão de igual período de 2016.