Por Rodrigo Viga Gaier e Luciano Costa
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - Uma greve de 72 horas convocada por sindicatos de trabalhadores da Eletrobras (SA:ELET3) tem como "maior risco" para a companhia a exigência da categoria de que o presidente da elétrica, Wilson Ferreira Jr., entregue o cargo, avaliaram analistas da corretora Brasil Plural (SA:BPFF11) nesta segunda-feira.
A paralisação iniciada nesta segunda-feira, em protesto também contra os planos do governo de privatizar a Eletrobras, lembra um movimento dos petroleiros recente, no qual sindicatos pediram a demissão do então presidente da Petrobras (SA:PETR4) Pedro Parente, além de mudanças na política de preços da estatal.
A Petrobras conseguiu na época que a greve fosse considerada ilegal, devido à pauta dos sindicatos, considerada política, mas o Tribunal Superior do Trabalho negou um pedido da Eletrobras e subsidiárias da companhia para definir como "abusiva" a paralisação.
Os analistas da Brasil Plural, no entanto, avaliam que o protesto dos eletricitários "tem espaço limitado para influenciar no cenário político... o que impede uma insatisfação generalizada com a empresa e o seu presidente".
Na Petrobras, por exemplo, a vitória da companhia sobre a greve não foi suficiente para impedir que seu presidente Pedro Parente entregasse o cargo pouco depois, em meio a pressões crescentes contra sua política para os preços dos combustíveis.
"Apesar dos riscos intrínsecos, por enquanto nossos analistas estão céticos em relação a uma possível substituição (no comando da Eletrobras)", afirmaram em nota os especialistas da Brasil Plural.
Segundo fontes da Eletrobras, Ferreira está "incomodado" com campanha contra ele, mas tem dito a pessoas próximas que não pretende deixar o cargo.
"Se depender exclusivamente dele, não cederá às pressões e ficará no comando da Eletrobras", disse uma das fontes, que falou sob a condição de anonimato.
As ações preferenciais da Eletrobras operavam em alta de pouco mais de 1 por cento, no início da tarde.
CONTRA CEO E PRIVATIZAÇÃO
Ferreira, que antes presidiu a privada CPFL Energia (SA:CPFE3) e chegou à Eletrobras em julho de 2016, é bem avaliado por especialistas e pelo mercado por seu plano de reestruturação da companhia que inclui vendas de ativos para reduzir dívidas.
Mas ele é alvo de protestos de sindicalistas devido às propostas de privatização e outras polêmicas, como uma ocasião em que referiu-se a parte dos funcionários da companhia como "vagabundos".
O executivo posteriormente pediu desculpas em um vídeo interno, mas o episódio é sempre lembrado pelos sindicatos nas paralisações e em publicações internas.
A Eletrobras tentou qualificar a greve como "abusiva" junto à Justiça, mas o TST entendeu que o movimento é legítimo porque está vinculado a "interesses econômicos, sociais e profissionais dos trabalhadores".
O tribunal determinou apenas que sejam mantidos em serviço 75 por cento dos empregados em cada uma das subsidiárias da Eletrobras durante a greve.
A paralisação na estatal vem em um momento em que o governo do presidente Temer vê quase naufragados seus planos de privatização para a companhia.
Um projeto de lei sobre a desestatização não avançou na Câmara dos Deputados, enquanto uma medida provisória sobre a privatização das distribuidoras da elétrica não foi votada pelos parlamentares e acabou por expirar.
Analistas políticos avaliam que o governo deverá encontrar cada vez mais entraves ao avanço desses processos no Congresso devido à aproximação da Copa do Mundo e das eleições.