SÃO PAULO (Reuters) - Um potencial ganho de mercado diante da atual situação da rival Americanas (BVMF:AMER3) será no longo prazo e tem que ser construído, disse o presidente da Via (BVMF:VIIA3), dona das redes Ponto e Casas Bahia, nesta sexta-feira, avaliando que o mercado varejista está mais racional.
Na visão de Roberto Fulcherberguer, parte do consumo pode estar indisponível para ser capturado pelas companhias do setor, porque não existe mais, já que era estimulado por posturas comerciais mais agressivas, como políticas de 'cashback'.
"O mercado fazia preços via 'cashback' extremamente agressivos, então talvez uma parte desse consumo nem exista, porque a hora que você dá 40%, 50% de 'cashback', o consumidor pode até nem estar precisando comprar, mas vai lá e compra", disse o executivo, sem citar nomes, em entrevista à Reuters após a Via divulgar resultados na véspera.
Com relação à fatia do mercado que, para ele, segue existindo, o executivo afirmou não acreditar "como muito tem se falado" que "o primeiro a sair capturando (participação de mercado) é quem ganha".
"Esse negócio é de longo prazo e tem que ser construído de maneira sustentável. Quando construído de maneira atabalhoada, queimando dinheiro para fazer, é uma construção que é desconstruída muito rápido na hora que acaba o dinheiro".
A Americanas entrou em recuperação judicial no início do ano após revelar um rombo contábil da ordem de cerca de 20 bilhões de reais.
Em meados de fevereiro, Stelleo Tolda, conselheiro do Mercado Livre (NASDAQ:MELI), disse que a derrocada da Americanas estaria levando rivais a ganhar participação de mercado.
Mais cedo, para analistas, Fulcherberguer disse que a Via alcançou em sua operação online (contando vendas próprias e marketplace) um recorde de participação de mercado em março. Questionado se isso poderia ser um efeito de curto prazo da crise na Americanas, ele disse que "é difícil agora entender de onde está vindo" esse ganho.
Em 2023, de acordo com o executivo, o foco da empresa segue em buscar aumento de 'market share' tanto nas vendas próprias quanto no marketplace (plataforma online da companhia para venda por terceiros), "preservando rentabilidade e acelerando geração de caixa, seja através de monetização (de créditos tributários), seja através de maior ganho de produtividade na operação".
A Via observou as vendas em seu marketplace, que passa por uma reestruturação para ampliação do escopo de produtos ofertados, medidas pelo indicador GMV ficarem praticamente estáveis no quarto trimestre. Mas o executivo disse que elas cresceram cerca de 20% em dezembro e em patamar similar nos primeiros meses de 2023 na comparação contra um ano antes.
A companhia publicou na véspera um prejuízo líquido de 163 milhões de reais no quarto trimestre de 2022, revertendo lucro de um ano antes, e suas ações desabavam 6,7% no final da tarde desta sexta-feira na bolsa.
(Por André Romani)