Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A norte-americana GE passou a produzir inversores para usinas de energia solar em sua fábrica de Betim, em Minas Gerais, em uma aposta no desenvolvimento da indústria de geração renovável no Brasil e também na possibilidade de exportações a partir do país, afirmou um executivo à Reuters.
Embora o anúncio venha em um momento em que parte dos investidores em usinas fotovoltaicas tenta negociar um adiamento de prazos para as obras, devido à alta dos custos com a desvalorização cambial, a GE acredita que o desenvolvimento da tecnologia solar no país é apenas uma questão de tempo.
"É inevitável, um caminho sem volta... há um comprometimento político, via acordos internacionais, de se investir em energia renovável. A GE não faria esse investimento se não visse um potencial forte tanto para exportação quanto para o mercado local", afirmou o diretor comercial da divisão Power Conversion da GE para América Latina, Sérgio Zuquim.
Os inversores, um dos mais importantes componentes de usinas fotovoltaicas, convertem a energia gerada pelas placas solares em corrente contínua, para que a produção possa ser injetada na rede elétrica. O equipamento da GE foi certificado pelo programa de conteúdo local do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o que permite que os clientes possam financiar o produto em condições atrativas.
Segundo Zuquim, a companhia já fechou quatro contratos de fornecimento dos equipamentos junto a empresas que participaram de leilões promovidos pelo governo nos últimos dois anos para a construção de usinas fotovoltaicas.
Ele destacou que o Brasil possui um dos maiores potenciais globais para energia solar, enquanto outros países próximos também têm investido na expansão dessa tecnologia, como o Chile, que também tem condições bastante favoráveis a essa forma de geração principalmente no deserto do Atacama.
O crescimento das renováveis na América Latina, inclusive, é um dos fatores por trás da produção da GE no Brasil, que poderá atender outros países da região.
"Podemos utilizar o Brasil como plataforma de exportação, para que a gente possa se beneficiar de acordos comerciais com mercados latino-americanos, aproveitando a desvalorização do real", afirmou Zuquim.
Segundo ele, a competitividade do produto dependerá do nível do câmbio e das condições de cada mercado.
México e Chile são vistos como locais em que a disputa com fábricas de outros países pelas vendas seria maior, dada a ausência de tarifas de importação.
MERCADO ENGATINHA
A maior parte dos investidores vitoriosos na primeira licitação para construção de usinas solares do Brasil, realizada em 2014, ainda não iniciou obras.
As empresas tentam negociar uma ampliação do prazo para concluir os empreendimentos, com alegações de que a valorização do dólar desde o certame desequilibrou economicamente os empreendimentos.
Entre as companhias que pedem o prazo extra estão grandes players como Canadian Solar, Grupo Cobra e Fotowatio, além da brasileira Renova Energia (SA:RNEW11) em parceria com a norte-americana SunEdison.
Para Zuquim, o resultado do primeiro leilão foi atrapalhado pela grande desvalorização do câmbio e pela ausência de fabricantes locais de placas solares, que dificulta a obtenção de financiamento para as usinas junto ao BNDES.
Ele acredita, no entanto, que usinas viabilizadas em leilões realizados em 2015 não terão os mesmos problemas, além de apostar na continuidade das licitações anuais voltadas à geração solar.
"Os leilões vão adiante mesmo com a crise econômica que estamos vivendo... nesses leilões do ano passado o preço já foi mais atualizado, esses projetos devem correr normalmente. Mas deve haver, sim, um atraso nos projetos do primeiro leilão", afirmou.
Com três licitações realizadas desde 2014, o Brasil já contratou 3,2 gigawatts em usinas solares a serem instaladas nos próximos anos. Segundo o Ministério de Minas e Energia, os projetos devem demandar cerca de 13 bilhões de reais em investimentos.
Em março foram agendados mais dois certames que contratarão energia solar, um para 29 de julho e outro para 28 de outubro.