O Ibovespa mostrou resiliência à tarde, moderando perdas apesar da aversão global a risco que atingiu, desde cedo, em especial o setor bancário europeu e no Brasil, com intensidade, as ações de commodities, ante mergulho que chegou a exceder 6% para os preços do petróleo durante a sessão na B3 (BVMF:B3SA3) - e em queda acima de 4% no fechamento do Brent e superior a 5% para o WTI, nesta quarta-feira.
Ao final, o índice da bolsa brasileira mostrava leve baixa de 0,25%, aos 102.675,45 pontos, mais próximo à máxima, de 103.048,28 (+0,11%), do que do piso da sessão, de 100.692,04 pontos, mínima intradia desde 27 de julho. Ainda assim, foi o menor nível de fechamento para o Ibovespa desde 1º de agosto (102.225,08), que emendou hoje a quinta perda diária. O giro foi a R$ 52,5 bilhões nesta quarta-feira de vencimento de opções sobre o índice, o que reforça o volume. Na semana, o Ibovespa cai 0,91%; no mês cede 2,15% e, no ano, perde 6,43%.
Petrobras ON (BVMF:PETR3) e Vale ON (BVMF:VALE3), que chegaram a cair mais de 4% no pior momento, limitaram as perdas e fecharam em baixa, respectivamente, de 2,44% e 3,01% - Petrobras PN (BVMF:PETR4) cedeu hoje 1,77%. O movimento de contenção de perdas, em paralelo ao observado em Nova York - onde o Nasdaq conseguiu virar e fechar em alta de 0,05%, com o S&P 500 ainda em baixa de 0,70% e o Dow Jones, de 0,87% no fechamento - foi amplificado pelos grandes bancos na B3, que reagiram no meio da tarde e, na maioria, passaram a operar em alta, com destaque para Bradesco (BVMF:BBDC4) (ON +1,89%, PN +1,42%).
Na ponta do Ibovespa, destaque hoje para Méliuz (BVMF:CASH3) (+14,44%), após balanço trimestral na noite de ontem, à frente na sessão de MRV (BVMF:MRVE3) (+7,19%), Natura (BVMF:NTCO3) (+6,63%) e Eletrobras PNB (BVMF:ELET6) (+6,01%). No lado contrário, CVC (BVMF:CVCB3) (-6,12%), CSN (BVMF:CSNA3) (-6,04%), Gerdau (BVMF:GGBR4) PN (-4,66%) e Gerdau Metalúrgica (BVMF:GOAU4) (-4,10%).
As preocupações em torno de dificuldades no sistema bancário, que emergiram no fim da semana passada com a quebra do californiano SVB, ganharam nesta quarta-feira nome de mais peso, que já vinha no radar: o europeu Credit Suisse (SIX:CSGN). O principal acionista do banco suíço, o Saudi National Bank, descartou mais assistência financeira à instituição - inclusive por questões regulatórias -, o que deflagrou nova onda global de aversão a risco.
Assim, ficou totalmente em segundo plano, na sessão, leitura melhor do que o esperado para o índice de preços ao produtor (PPI) nos Estados Unidos, em retração de 0,1% em fevereiro, na margem, comparada à expectativa de alta de 0,3% para o mês.
De acordo com o Financial Times, o Credit Suisse apelou ao Banco Nacional Suíço por demonstração pública de apoio depois que suas ações caíram até 30%, provocando liquidação mais ampla nas ações de bancos europeus e americanos, nesta quarta-feira. O banco pediu uma resposta semelhante da Finma, reguladora suíça, disseram duas fontes, mas nenhuma das instituições, a princípio, decidiu intervir publicamente, relata o FT. Segundo a Bloomberg, o custo dos derivativos de crédito vinculados ao Credit Suisse explodiu a níveis que lembraram o pânico de 2008.
No fim do dia, o BC suíço veio a público dizer que o Credit atende a exigências de capital e liquidez, e que a instituição fornecerá liquidez ao banco, caso seja necessário. "Não há risco de contágio direto de turbulência nos Estados Unidos às instituições suíças", acrescentou a autoridade monetária, em comunicado conjunto com a autoridade financeira do país sobre a "incerteza no mercado".
Neste contexto desafiador, os movimentos no mercado de ações vão ficando "muito curtos e a volatilidade, muito grande", diz José Simão, sócio da Legend Investimentos. "Não é uma situação exatamente nova (a do Credit Suisse), mas há preocupação quanto a contágio (de problemas no sistema bancário), e de que novos 'cadáveres' continuem a surgir", acrescenta Simão, destacando o temor quanto ao efeito que as dificuldades no sistema de crédito, em ambiente de juros globalmente já elevados, poderão trazer ao crescimento econômico mundial.
"A perspectiva de arrefecimento da expansão econômica, com possibilidade de recessão nos Estados Unidos, tem ganhado força, conforme visto hoje nessa forte correção dos preços de commodities como o petróleo", diz Simão.
Na quinta-feira passada, ruídos em torno do banco suíço já haviam contribuído para fazer preço em Nova York, piorando o desempenho dos índices de ações por lá naquela tarde, "após o Credit Suisse anunciar atraso na publicação do relatório anual referente a 2022, por conta de um pedido dos reguladores do mercado de ações dos Estados Unidos por mais informações sobre demonstrações dos anos de 2019 e 2020", aponta Lucas Martins, especialista em renda variável da Blue3.
"Paira uma desconfiança sobre as instituições financeiras globais", diz Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos. Ele chama atenção para a acentuada correção, nesta quarta-feira, dos rendimentos dos Treasuries de 2 anos - mais sensíveis à perspectiva de curto prazo para a política monetária americana -, agora abaixo de 3,90%, com a aversão a risco e a perspectiva de espaço cada vez menor para que o Federal Reserve continue elevando os juros, em um contexto de dificuldades no setor bancário. "Na próxima reunião do Fed (na semana que vem), deve vir mais 25 pontos-base de alta nos juros de referência, mas o mercado espera que pare por aí", acrescenta.