Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda pelo terceiro pregão seguido nesta quinta-feira, um dia após o BC desfazer o compromisso de não elevar a Selic, com a percepção de maiores riscos fiscais e políticos, além da situação difícil da pandemia de Covid-19 no país, abrindo espaço para realização de lucros.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 1,1%, a 118.328,99 pontos, afastando-se ainda mais da máxima histórica registrada mais cedo no mês, quando superou 125 mil pontos pela primeira vez. O volume financeiro somou 31,1 bilhões de reais.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Selic em 2% ao ano como esperado na véspera, mas retirou de seu comunicado o "forward guidance" (orientação futura) adotado em agosto.
Com o forward guidance, o Copom tinha se comprometido a não elevar os juros até que as expectativas e projeções de inflação se aproximassem das metas no horizonte considerado relevante para a política monetária (até 2022) e contanto que o governo mantivesse seu regime fiscal.
Em paralelo, a falta de um calendário de vacinação no país, com esperados atrasos na entrega de vacinas, segue adicionando incertezas na retomada da economia e abrindo espaço a especulações sobre a prorrogação do auxílio emergencial criado em meio à pandemia, o que preocupa do lado fiscal.
Nesta quinta-feira, em linha com discursos de candidatos à presidência da Câmara dos Deputados, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que disputa o comando do Senado, disse à Reuters ser necessário retomar a discussão sobre um auxílio aos mais necessitados diante da crise com o coronavírus.
Para os analistas da Mirae Asset Fernando Bresciani e Pedro Galdi, o Ibovespa ainda pode seguir pressionado com ruídos políticos e falta de vacina e preocupação do lado fiscal.
A proximidade de um fim de semana prolongado, com feriado na cidade de São Paulo na segunda-feira, que fechará a B3, foi mais um componente, na visão do sócio e líder de renda variável da BlueTrade, Patrick Johnston, a endossar vendas de ações na bolsa paulista nesta sessão.
Desde a máxima de fechamento de 125.076,63 pontos registrada em 8 de janeiro, o Ibovespa acumula queda de 5,4%, com recuo em seis de nove pregões.
DESTAQUES
- ITAÚ UNIBANCO PN (SA:ITUB4) caiu 1,35% e BRADESCO PN (SA:BBDC4) recuou 1,43%, com o setor financeiro entre as maiores pressões de baixa no Ibovespa. B3 ON (SA:B3SA3) fechou em queda de 3,17%.
- ELETROBRAS PNB (SA:ELET6) e ELETROBRAS ON (SA:ELET3) cederam 6,15% e 5,15%, respectivamente. O senador Rodrigo Pacheco, candidato à presidência do Senado, não colocou a privatização da elétrica entre os projetos prioritários na Casa.
- COPEL PNA (SA:CPLE6) avançou 1,77%, descolando do setor elétrico, após a estatal paranaense aprovar nova política de dividendos, a fim de aumentar a remuneração a acionistas e tornar a distribuição de proventos mais previsível.
- EZTEC (SA:EZTC3) ON caiu 5,64%, com o setor de construção como um todo no vermelho, após o BC mudar sinalização e abrir espaço para aumento na taxa básica de juros. CYRELA ON (SA:CYRE3) cedeu 5,35% e o índice do setor recuou 2,97%.
- CSN ON (SA:CSNA3) fechou com acréscimo de 0,97%, distante da máxima, quando chegou a subir 5,5%, embalada pelo viés mais comprador na bolsa pela manhã, além de expectativas relacionadas ao IPO de sua unidade de mineração.
- VALE ON (SA:VALE3) subiu 1,13%, em meio a acordo para comprar fatia da Mitsui em Moatize e notícia de que contratou bancos para vender ativos de carvão em Moçambique. Em paralelo, não chegou a um acordo com Minas Gerais sobre Brumadinho.
- PETROBRAS PN (SA:PETR4) recuou 2,34%, em sessão na qual os preços do petróleo fecharam praticamente estáveis no exterior.