Por Jessica Bahia Melo
Investing.com - Incertezas econômicas e juros em patamares elevados jogaram um balde de água fria nas empresas que pretendiam abrir capital no ano passado. Após dois anos de um boom de IPOs, sigla para “Initial Public Offering” que, em português, significa Oferta Pública Inicial, 2022 foi marcado pelas desistências. Entre elas, do Madero, CSN Cimentos e Vix Logística. Para 2023, as perspectivas não são muito mais favoráveis, segundo analistas consultados pelo Investing.com Brasil.
Nos anos de 2020 e 2021, mais de 70 companhias abriram capital na bolsa de valores brasileira, a B3 (BVMF:B3SA3), quando colocam parcela das ações à venda visando a captação de recursos com custo mais favorável do que um financiamento bancário. Dependendo da companhia, interesse de possíveis acionistas e nível de maturação, um IPO pode movimentar milhões ou até chegar à casa dos bilhões. A oferta do Nubank (BVMF:NUBR33), última empresa brasileira a realizar a abertura, movimentou US$ 2,6 bilhões.
O que esperar dos IPOs para 2023
O cenário de "seca" não está restrito apenas ao Brasil, levando em conta que os juros foram elevados em todo o mundo visando o controle inflacionário. Muitos investidores, que antes estavam com maior apetite a risco, enxergam desvantagem nas oscilações na bolsa de valores, em relação a uma maior segurança da renda fixa, com rendimentos em alta. Para as companhias, ninguém quer abrir capital abaixo do valor previsto, ou ir ladeira abaixo nos pregões pela falta de maior interesse na renda variável.
De acordo com Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital, o mercado deve continuar com escassez de IPOs até meados do ano. “Devem voltar à pauta algumas empresas para o mercado de capitais, não em volume muito expressivo, mas pode começar a ter demanda, passando cem dias do governo e o rebuliço que aconteceu com Americanas, acho que pode começar a aumentar o apetite como um todo”, avalia.
Segundo Corrêa, o investidor está mais receoso com ativos de risco, o que faz com que a empresas não queiram se expor, para não vender ações a múltiplos baratos com a alta de juros. O acionista ou fundo não quer vender a preços baixos, por isso, a tendência é de que aguardem por uma melhora de cenário, um apetite maior do investidor. “Não vemos nenhuma empresa abrindo a janela, mas o setor agro vem perfomando bem nos últimos anos, então, achamos que pode vir de alguma empresa nessa linha”.
Para Leonardo Horta, sócio fundador da Maitreya, o período da segunda metade de 2020 e primeiro semestre de 2021 foi propício para esse tipo de operação, mas houve uma perda de forças no segundo semestre de 2021, devido a elevação das incertezas e inseguranças.
“Tinham empresas em boa situação para realizar IPO, além de um represamento de mercado de 2020, com tendência maior para que ocorresse a abertura. Por outro lado, no pós-pandemia, o mercado ainda tinha muito que se reestruturar e estabelecer, o que refletiu nos resultados do segundo semestre de 2021”.
Na visão de Horta, enquanto os riscos dos negócios e do mercado não ficarem mais claros, é difícil que novas aberturas ocorram. “Se o mundo inteiro estiver pessimista, é mais difícil para que tenha valorização das empresas e também que o IPO se valorize e tenha uma operação. Alguns devem acontecer, mas não deve ser um 2023 igual 2021.” Com o cenário pós-pandemia, o momento é de preparação e reestruturação das companhias para que possíveis aberturas ocorram no futuro, quando o momento for mais propício.
O IPO é uma das modalidades de saída das companhias de fundos de private equity, conforme detalha Clara Sodré, especialista em investimentos da XP (BVMF:XPBR31). “Cerca de 11% das saídas são para IPO”.
Em relação ao cenário para 2023, Sodré aponta que o movimento de maior cautela prejudica novas abertura de capital. “Se os investidores possuem maior aversão a risco, se a precificação das empresas na bolsa está mais barata, não vale a pena, porque a precificação e o valor que esse empreendedor vai receber é baixo”. O ano de 2023 segue com incertezas no cenário, então, é compreensível que esta não esteja sendo uma saída para captação de recursos.
Para que haja novamente um crescimento de IPOs, Sodré enxerga ser necessário um retorno dos ativos de risco, adaptação das companhias e interesse dos investidores para empresas listadas, com estágio de maturação mais avançada.
Denis Morante, fundador da Fortezza Partners, acredita que os IPOs em 2023 devem seguir prejudicados diante das incertezas econômicas. “Cada vez, vai empurrando mais para outra janela. O ano possui quatro boas janelas, após as publicações de balanços”, indica Morante, que acha que o ano deve ser ruim sob essa perspectiva, mas ainda é incerto se a escassez será tão forte quanto no ano passado. Se houver IPOs, devem ser poucos, provavelmente, depois de agosto, projeta Morante.
Entre os principais fatores, o especialista elenca os juros altos e a desancoragem das perspectivas econômicas. “Quando olhamos 2020, quando teve muito IPO, o investidor pessoa física começou a olhar seriamente para o mercado de ações porque começou a ficar muito ruim aplicar em CDI. As pessoas tinham demanda para comprar ações em bolsa. Com Selic, a 13,75%, é uma disputa inglória”.