Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A JBS (BVMF:JBSS3), maior processadora de carnes do mundo, reportou nesta terça-feira lucro líquido de 1,646 bilhão de reais no primeiro trimestre, revertendo prejuízo de 1,45 bilhão de reais registrado no mesmo período do ano passado, com melhorias na maior parte dos negócios, enquanto o segmento bovinos nos Estados Unidos ainda enfrenta desafios.
O lucro teve impulso dos resultados das unidades de carne de aves, em meio a uma demanda "forte" e custos de grãos para ração menos pressionados, tanto na brasileira Seara como na norte-americana Pilgrim’s Pride.
A JBS afirmou que, em carne bovina, permaneceu o contraste entre a fase favorável no Brasil e na Austrália e "o momento ainda difícil do ciclo pecuário nos Estados Unidos". Com a menor oferta de animais nos EUA, os custos de compra de gado aumentam, impactando os preços da carne e o consumo.
Mas o CEO Global da JBS, Gilberto Tomazoni, disse que a plataforma global e diversificada de proteínas da companhia permitiu melhores resultados.
"Gostaria de reforçar a nossa fortaleza. Mesmo com o negócio dos Estados Unidos, olhando pelo IFRS, (com Ebitda ajustado) negativo neste trimestre, mesmo assim estamos entregando uma Margem Ebitda (geral) de 7,2%, e o negócio lá nos EUA é o maior negócio nosso", disse Tomazoni.
"Isso nos dá segurança de que a empresa continua crescendo... O boi está ruim nos Estados Unidos, mas está bom no Brasil, está bom na Austrália. Está ruim o boi nos Estados Unidos? Mas está bom o frango, está bom o suíno. Essa diversidade nos permite entregar resultados, e poucas empresas têm isso", disse.
O lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações (Ebitda) ajustado da JBS quase triplicou ante o mesmo período do ano passado, para 6,4 bilhões de reais, enquanto a receita liquida avançou 2,8% no mesmo período, para 89,1 bilhões de reais.
Já Margem Ebitda ajustada fechou o trimestre em 7,2% no período, avanço de 4,7 pontos percentuais em relação aos três primeiros meses do ano passado.
RETOMADA NO RS, PREÇOS DE GRÃOS
Em entrevista à Reuters, Tomazoni comentou ainda que todas as fábricas da empresa no Rio Grande do Sul estão operando, com exceção de uma em Roca Sales, que deve voltar na próxima semana.
"É uma fábrica pequena de alimentos processados, que deve começar a funcionar na segunda-feira, está em processo de limpeza...", disse ele, acrescentando que algumas unidades ficaram mais de um dia paralisadas, sem dar detalhes.
O executivo disse que a companhia ainda não focou no levantamento de eventuais perdas materiais, porque a "prioridade está em ajudar as comunidades que estão passando por momento muito difícil". A empresa tomou ações como a antecipação do 13º salário para ajudar os funcionários afetados, além da doação de alimentos, água, produtos de higiene e limpeza e colchões e cobertores.
"Tem que apurar o que esse desbalanceamento do processo produtivo pode causar, mas não espero que seja alguma coisa que dentro do trimestre a gente não consiga trabalhar pelo menos para mitigar senão tudo ou uma grande parte."
O executivo disse não ver "impacto maior" na safra brasileira como efeito das enchentes no Rio Grande do Sul, e ressaltou que colheita gaúcha havia sido feita em grande parte antes das chuvas.
Sobre o cenário de preços de grãos, importante matéria-prima da ração para aves e suínos, o CEO da JBS avalia que devem se manter dentro de uma certa estabilidade, com "possibilidade de queda", à medida que estoques de soja e milho estão crescendo nos Estados Unidos.
"Vejo o mercado de grãos bastante estável até com tendência de poder cair."
Em relação ao plano de dupla listagem com ações da empresa nos EUA, ele avaliou que a operação poderia acontecer ainda este ano, mas ressaltou que o prazo depende do processo do órgão regulador de mercados norte-americano (SECA).
"Quando não tivermos mais nenhum questionamento do órgão regulador, aí vamos chamar uma assembleia. Por isso que não dá pra dar um tempo, mas sim, quando eu olho daqui até o final do ano, eu vejo muito tempo para fazer tudo isso."
RESULTADO POR UNIDADE E DÍVIDA
O Ebitda ajustado da Seara aumentou mais de 700% no primeiro trimestre, para 1,19 bilhão de reais, enquanto esse indicador de geração de caixa mais do que dobrou na unidade de carne bovina no Brasil, para 643,3 milhões de reais.
Já divisão de carne bovina dos EUA, a principal do grupo em receita, registrou Ebitda ajustado negativo em 48,6 milhões de reais, enquanto havia sido positivo em 115,8 milhões de reais no mesmo período do ano passado. A Pilgrim´s Pride, por sua vez, aumentou o resultado em 77,7%, para 2,48 milhões de reais.
O custo dos produtos vendidos da JBS como um todo recuou 2% na comparação com igual período do ano passado, para 77,47 bilhões de reais.
Com os melhores resultados, a companhia pagou 666 milhões de dólares de dívida bruta, ressaltou o CFO da JBS, Guilherme Cavalcanti, citando um processo que deve continuar.
"A gente vai continuar pagando dívida bruta neste segundo trimestre", disse ele, apontando redução "significativa" da alavancagem, de 4,4 vezes no quarto trimestre para 3,7 vezes no primeiro trimestre.
"Dependendo da margem... se a gente tiver uma margem de 7,5% no ano, a gente chega no final do ano em 2,5 vezes, é uma alavancagem muito confortável...", disse o CFO, fazendo um exercício matemático, ressaltando que não se trata de um guidance.
A dívida líquida da empresa ficou em 15,9 bilhões de dólares, ante 15,3 bilhões no quarto trimestre.
A companhia ressaltou que encerrou o trimestre com 17,3 bilhões de reais em caixa, e que conta com 3,3 bilhões de dólares disponíveis em linhas de crédito rotativas equivalentes.
(Por Roberto Samora)