Os juros futuros terminaram a sessão em baixa, assegurada pelo recuo do dólar, alívio na curva dos Treasuries e a melhora na perspectiva de solução para a desoneração da folha de pagamentos abriram espaço para uma correção técnica. Uma nova rodada de críticas do presidente Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chegou a reduzir a queda das taxas locais no meio da tarde, mas estas conseguiram retomar o ritmo.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,585%, de 10,622% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,22% para 11,13%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,50% (de 11,60%) e o DI para janeiro de 2029, de 11,92% (de 12,04%). Na semana, as taxas curtas recuaram e as longas subiram, com ganho de inclinação para a curva.
Em dia de agenda esvaziada no Brasil, o mercado pela manhã acompanhou a instabilidade vista no câmbio, mas à tarde o dólar se firmou em baixa e permitiu ajustes na curva. "O mercado passou do ponto com a precificação de alta nas reuniões do Copom de setembro em diante. Embora o Banco Central possa elevar os juros, a curva me parece esticada", afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. O dólar à vista caiu 0,39%, a R$ 5,4408, após ter tocado ontem o maior nível desde julho de 2022.
Outro fator de alívio veio do exterior. Os rendimentos dos Treasuries, que pela manhã avançavam com dados acima do esperado da economia americana, zeraram a alta e a taxa da T-Note de dez anos voltava a rodar nos 4,25% de ontem no fim da tarde.
Enquanto o cenário externo trouxe algum alento para os ativos locais, os ruídos vindos de Brasília seguem limitando correções mais fortes. "O mercado está operando de forma disfuncional. Com os juros nestes níveis, era para termos alívio na taxa de câmbio", afirma Borsoi.
O presidente Lula tem emitido sinais negativos, na leitura dos agentes, sobre a troca de comando do Banco Central e hoje, pelo terceiro dia consecutivo, voltou a criticar a gestão da autarquia e a figura de Roberto Campos Neto, o qual chamou de "adversário político, ideológico e do modelo de governança que fazemos". "Eu acho que as coisas vão voltar à normalidade, porque o Brasil é um País de muita confiabilidade", disse logo após lembrar que está chegando "o momento de trocar o presidente do Banco Central".
A nova rodada de críticas chega num momento em que o mercado começa a desconfiar que se trata de uma estratégia do governo para fortalecer o nome de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, como sucessor de Campos Neto, cujo mandato termina em dezembro. Inicialmente indigesto ao mercado, o nome de Galípolo vai ganhando adeptos ante o risco de perfis mais heterodoxos para assumir o BC, como André Lara Resende, defensor da Teoria Monetária Moderna (NASDAQ:MRNA).
Pelo lado fiscal, teria favorecido ainda a descompressão das taxas na etapa vespertina a informação trazida pelo portal Poder 360 de que o Congresso pode retomar a discussão do projeto de lei que antecipa recebíveis da PPSA (Pré-Sal Petróleo), retirado da tramitação da Câmara em 2023, como forma de compensar as perdas com a desoneração da folha de pagamentos. Segundo o portal, a receita possível pode passar dos R$ 300 bilhões. Apesar da rejeição do presidente Lula à época, a proposta é vista como de aprovação simples e que pode garantir o cumprimento da meta zero de primário em 2024, num cenário de resistência do governo ao contingenciamento de gastos.