SÃO PAULO (Reuters) -A 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo aprovou nesta segunda-feira o pedido de recuperação extrajudicial da rede de varejo Casas Bahia, que cita dívidas de 4,1 bilhões de reais.
A informação foi confirmada à Reuters pela Casas Bahia, após ser inicialmente divulgada pela coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo.
As ações da empresa dispararam mais de 34% nesta segunda após o anúncio do pedido de recuperação extrajudicial, com analistas vendo na operação um alívio para o caixa da rede de varejo, bem como uma oportunidade de a empresa focar no seu plano "transformacional".
A dívida citada no pedido envolve as sexta, sétima e oitava emissões de debêntures a mercado e a nona emissão de debêntures "e certas CCBs emitidas junto a instituições financeiras", afirmou a companhia em fato relevante.
A empresa disse que o plano não envolve dívidas operacionais com fornecedores e parceiros e não impacta trabalhadores ou clientes, e que já conta com apoio de seus principais credores, Bradesco (BVMF:BBDC4) e Banco do Brasil (BVMF:BBAS3).
A expectativa é que o plano seja homologado em até 40 dias, já que a empresa tem o apoio de credores que detêm cerca de 55% da dívida elencada no processo, disse o presidente-executivo da Casas Bahia, Renato Franklin, em apresentação a analistas nesta segunda-feira.
O plano inclui alongamento de amortização de dívida, incluindo carência de 24 meses para pagamento de juros e de 30 meses para pagamento de principal. Além disso, a estratégia inclui possibilidade de credores apoiadores converterem parte de dívida em participação na empresa.
Segundo a Casas Bahia, o "reperfilamento" da dívida preservará cerca de 4,3 bilhões de reais no caixa da companhia nos próximos quatro anos. Além disso, o prazo médio da dívida sairá de 22 para 72 meses, com redução de 1,5 ponto percentual no custo médio, "que representa uma economia de 400 milhões de reais no período", afirmou a empresa.
Antes do acordo, a Casas Bahia teria pela frente este ano pagamentos de 1,24 bilhão de reais em amortizações e 313 milhões em juros.
Agora, a empresa somente vai retomar os pagamentos a partir de 2026, com 150 milhões de reais em amortização e 103 milhões em juros. Porém, terá em 2030 pagamentos de 2,58 bilhões de reais em amortizações e 1,9 bilhão em juros para cumprir.
Com o pedido, a Casas Bahia reforça grupo de varejistas no país que tem sido obrigado a renegociar com credores desde o escândalo criado com o rombo contábil na Americanas (BVMF:AMER3), revelado em janeiro do ano passado e que afetou o nível de crédito ao setor.
Analistas do Safra citaram que o acordo com os bancos é positivo em termos de fluxo de caixa, já que reduz os desembolsos da empresa até 2026 em 3,1 bilhões de reais.
"Entretanto, no longo prazo, apesar da redução no custo da dívida, o pagamento total de juros vai crescer substancialmente -- de 971 milhões para 2,397 bilhões de reais -- impactando o fluxo de caixa futuro".
OPERAÇÃO
Franklin afirmou que a empresa deverá apresentar no balanço do primeiro trimestre, previsto para publicação em 8 de maio, "redução maciça de custos e redução de estoques" depois de ter realizado no ano passado 8,6 mil demissões e fechado 55 lojas, com quatro centros de distribuição readeaquados.
"Temos 10 (CDs) ainda para trabalhar em devolução ou sublocação de espaço ocioso", afirmou o executivo.
Segundo ele, o pedido de recuperação extrajudicial não muda o foco da empresa no plano "transformacional", que foca a empresa em suas principais categorias de eletrodomésticos, celulares e móveis com investimentos em novas frentes como monetização de receitas com publicidade.
Com o fôlego adicional de 4,3 bilhões de reais em fluxo de caixa nos próximos quatro anos obtido no acordo com os credores, Franklin afirmou que a Casas Bahia poderá até antecipar a execução de "algumas alavancas" do plano de transformação que será concluído em boa parte até o final deste ano. Além disso, a empresa poderá aproveitar o ciclo macroeconômico mais positivo que tem sido sinalizado com a redução de juros da economia, disse Franklin.
O executivo afirmou que a empresa vai continuar processo de abertura de novas lojas físicas e trabalhar em novos produtos financeiros para clientes e fornecedores.
"Vamos ver algum crescimento no crediário nosso ao longo de 2024", disse o presidente da Casas Bahia.
(Por Alberto Alerigi Jr.Reportagem adicional de Paula Arend Laier e Patrícia Vilas BoasEdição de Pedro Fonseca)