Por Claudia Violante
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar registrava leves oscilações ante o real nesta quinta-feira, acompanhando o exterior em meio à escalada da tensão entre Estados Unidos e Coreia do Norte, e também por causa do cenário doméstico, com o desequilíbrio fiscal podendo levar o governo a revisar a meta fiscal deste e do próximo ano.
Às 10:25, o dólar recuava 0,09 por cento, a 3,1494 reais na venda, depois de ter subido a 3,1523 reais na véspera. O dólar futuro tinha leve baixa de cerca de 0,20 por cento.
"Temos cautela nas mesas, com claro enxugamento de risco, mas com indicação de pouca 'crença' no conflito bélico/nuclear efetivo", comentou a corretora H.Commcor em relatório divulgado para clientes.
Nesta quinta-feira, a Coreia do Norte ironizou os alertas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que Pyongyang irá enfrentar "fogo e fúria" se ameaçar os EUA, e divulgou planos detalhados para um ataque com mísseis perto de Guam, território norte-americano no oceano Pacífico.
Apesar disso, o dólar tinha leve alta ante uma cesta de moedas, tendo pisado pontualmente em terreno negativo após os dados mais elevados de pedidos de auxílio-desemprego, que sinalizam aumento gradual dos juros pelos Estados Unidos.
A moeda, no entanto, caía ante divisas emergentes, em meio a uma correção. O dólar cedia ante os pesos chileno, mexicano e o rand sul-africano.
Essa realização no exterior continha a alta do dólar ante o real, em meio a um ambiente doméstico desafiador por causa das discussões para a mudança da meta fiscal deste e do próximo ano.
"O mercado esperava um déficit de 129 bilhões de reais de meta para o próximo ano, mas já estão falando de um número bem maior, algo em torno de 170 bilhões de reais", comentou o superintendente da corretora Correparti, Ricardo Gomes da Silva.
Para este ano, o governo também deve elevar a meta de déficit de 139 bilhões de reais para algo em torno de 159 bilhões de reais.
Na véspera, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, esteve reunido com o presidente Michel Temer e com os ministros Dyogo Oliveira (Planejamento), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) para discutir a questão fiscal. Nesta quinta-feira, uma nova reunião está prevista na agenda de Meirelles.
"O cenário causa desconforto e pode levar o dólar a 3,20 reais no curto prazo. Governo e Congresso não estão falando a mesma língua", acrescentou Silva ao citar ainda a criação de um fundo público para financiar campanha eleitoral já nas eleições de 2018. "Pega muito mal num momento em que governo fala em elevar o déficit e criar mais impostos", concluiu.
Na madrugada desta quinta-feira, a comissão da reforma política na Câmara dos Deputados aprovou o Fundo Especial de Financiamento da Democracia, a ser utilizado para o financiamento das campanhas. A proposta estabelece que o fundo contará com 0,5 por cento das receitas correntes líquidas do Orçamento, o que corresponde hoje a cerca de 3,5 bilhões de reais, de acordo com a Agência Câmara.