Por Alberto Alerigi
SÃO PAULO (Reuters) - A produtora brasileira de software para o varejo Linx deve levar um tempo maior do que está acostumada para integrar sua primeira aquisição internacional, a argentina Synthesis, em uma estratégia de diversificação de risco ante um mercado brasileiro que viu fechamentos de dezenas de milhares de lojas no ano passado.
A companhia anunciou a aquisição na noite da véspera, um negócio de até 25,8 milhões de dólares que ficou dentro da média das mais de 20 compras de ativos realizadas pela empresa brasileira desde 2008, afirmou o presidente da Linx, Alberto Menache.
O executivo disse em entrevista à Reuters que a Linx deve levar até um ano para integrar completamente os negócios da Synthesis em seu portfólio, comparado com alguns meses em aquisições passadas realizadas no Brasil. Enquanto esta etapa não estiver concluída a Linx não deverá fazer outros movimentos fora do Brasil.
"Gostamos de fazer passo a passo. Não pretendemos ficar só na Synthesis, mas não vamos dar outro passo antes de provar que o primeiro deu certo. Precisamos entender a cultura regional de cada país. Vamos analisar oportunidades depois disso", disse Menache.
Segundo ele, os focos principais da Linx na integração da Synthesis serão os mercados da Argentina e do México. Enquanto o primeiro tem passado por crescimento, o México poderá ver um impulso ao consumo local dependendo dos planos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem ameaçado impor tarifas sobre importações de produtos feitos no México.
"Vemos uma oportunidade no México... Quando olhamos para o México e para as políticas norte-americanas isso pode gerar uma expansão do consumo interno em um país voltado hoje para a exportação. Qualquer coisa que venha a fomentar o consumo interno seria bom para o varejo", disse Menache.
Outra oportunidade é internalizar no Brasil alguns produtos da Synthesis como o "Promo", que faz gestão de promoções e que "pode ser eventualmente interessante no Brasil. A Linx já tem uma série desses módulos, mas podemos achar oportunidade adicional", acrescentou.
Analistas elogiaram o movimento da companhia, que tem enfrentado um crescimento menor nos últimos trimestres diante da redução da base de usuários causada pelo fechamento de lojas no Brasil.
O Credit Suisse afirmou que sinergias devem vir de vendas cruzadas em três produtos principais: Bridge (POS), Promo e o Vtol (omni-channel para pagamentos), enquanto a Brasil Plural (SA:BPFF11) mencionou a capacidade da empresa de agregar valor por meio de fusões e aquisições.
Às 13h36 as ações da companhia caíam 1,08 por cento, negociadas a 17,38 reais.
"A crise prejudicou demais o varejo e o consumo. O varejo não cresceu durante estes anos no Brasil e o comércio eletrônico cresceu menos do que podia. (A compra da Synthesis) é uma forma da gente não ficar somente exposto ao Brasil", disse o Menache.
Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o varejo viu o fechamento de quase 10 mil lojas no primeiro trimestre deste ano, após encerramentos totais em 2016 de cerca de 106 mil estabelecimentos e de 102 mil em 2015.
"Nossos clientes nos pagam um valor mensal por usuário. Conforme esse número não cresce tanto, a gente acaba crescendo menos", disse Menache. Ele acrescentou que a companhia chegou a ter crescimento orgânico anual de 15 a 20 por cento no faturamento antes da crise, mas "neste momento" está em torno de 10 por cento.
Para Menache, a economia brasileira vai ficar em "banho-maria por mais algum tempo" e citou ainda a crise fiscal dos Estados, que afeta uma grande massa de funcionários públicos e, por consequência, o consumo. "Não vejo no curto prazo uma retomada muito vigorosa de expansão no varejo."