Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A redução de quase 13% no preço do diesel da Petrobras (BVMF:PETR4), válida a partir desta quarta-feira, diminuiu a diferença entre o valor do produto brasileiro e o do combustível russo, que tem chegado em grandes volumes ao Brasil, segundo a agência Argus.
Mas não encerra no momento a maior competitividade do combustível importado da Rússia, que é mais barato que o nacional mesmo já considerando custos após desembarque, acrescentou especialista da consultoria que realiza levantamento de preços e outros serviços.
Com isso, as distribuidoras que compram da Petrobras --que abastece atualmente cerca de 80% do mercado nacional de diesel-- sofrem forte concorrência daquelas que adquirem o produto russo, que respondeu por mais da metade das importações desse combustível do Brasil no mês passado.
As importações de diesel da Rússia encontraram mercado no Brasil e outros países da América Latina diante de embargos ao produto russo pela Europa, que antes da guerra da Ucrânia era importante compradora.
Dessa forma, o combustível chega mais barato até mesmo do que o produto da Petrobras, em um movimento mais acentuado desde abril.
"O preço da Petrobras fica mais próximo do valor russo (após o reajuste). Mesmo assim, segue acima...", disse Amance Boutin, especialista de combustíveis da Argus.
Pelas contas da agência, o diesel S10 russo adquirido na véspera chegaria ao Brasil daqui a um mês a um valor de 2.665 reaios/m³ (entregue no porto). Considerando custos portuários e outros até Araucária (PR), por exemplo, o valor ficaria em 2.845 reais/m³, uma vez entregue lá.
Já o preço do produto da Petrobras, considerando o reajuste de 12,8%, foi estimado pela Argus em 3.042 reais/m³ em Araucária, onde a estatal opera uma refinaria com capacidade de processamento de mais de 200 mil barris/dia de petróleo.
O produto russo tem entrado principalmente via porto de Paranaguá (PR), colaborando para abastecer o mercado do Sul do país.
Segundo o levantamento da Argus, o diesel S10 russo tem ficado mais barato também que o produto dos Estados Unidos desembarcado no Brasil, com uma diferença de 0,33 real/litro.
Diante dessa competitividade, o diesel da Rússia tira os EUA como tradicionais maiores fornecedores do produto importado pelo Brasil, colaborando para pressionar os preços do combustível nos postos.
No caso das importações brasileiras de gasolina, a situação é diferente.
"A diferença de preço da gasolina russa é muito menor quando comparada com outras origens, então não tem entrado tanto nos fluxos de gasolina acabada. O desconto de preço não tem compensado o fator de risco atrelado à origem russa", disse Boutin.
Raízen avalia
As grandes distribuidoras, como Vibra Energia (BVMF:VBBR3) e Raízen (BVMF:RAIZ4), ainda não trouxeram o diesel russo, considerando riscos de se importar o produto da Rússia, que lida com sanções ocidentais.
Mas o Raízen "está olhando com muita atenção" a possibilidade, disse o diretor financeiro da Raízen, Carlos Moura, em entrevista à Reuters, na segunda-feira, antes do anúncio da redução da Petrobras.
"Essa avaliação estamos fazendo com muito cuidado, eu pessoalmente estou envolvido nela."
Segundo ele, por conta das sanções ocidentais à Rússia --não do Brasil--, existe toda uma regulação para adquirir o produto russo, embora não seja ilegal.
"É decisão que envolve o risco transacional, quem são as contrapartes, quem está fazendo afretamento no navio, o tipo de trading e tem um risco de imagem", acrescentou o executivo da Raízen, uma joint venture da Cosan (BVMF:CSAN3) com a multinacional europeia Shell (NYSE:SHEL).
Ele lembrou que cerca de 55% do diesel importado veio da Rússia em abril, em um mercado que tem 80% do total sendo suprido pela Petrobras, e o restante importado.
Moura disse ainda que a Raízen avalia os riscos "para tomar a melhor decisão, até porque o mercado está afetado por isso e por outros que não têm a mesma preocupação".
Em geral, distribuidoras e importadores menores têm feito as importações do produto russo, cujo custo de produção também é mais baixo.
Em teleconferência de resultados nesta semana, a Vibra Energia afirmou que considera que o efeito de maiores importações de diesel russo está restrito a algumas regiões do país, e ainda não tomou decisão de buscar o combustível na Rússia.
(Por Roberto Samora)