Por Marc Jones
LONDRES (Reuters) - O novo chefe de classificações soberanas da Fitch disse que a empresa provavelmente terá uma ideia mais clara de como o segundo mandato de Donald Trump como presidente pode impactar o rating de crédito dos EUA na próxima revisão de classificação, no verão norte-americano.
Em sua primeira entrevista desde que foi nomeado no ano passado, James Longsdon disse que as classificações ameaçadas de rebaixamento da China e da França também seriam um foco importante, juntamente com a forma como o Reino Unido responde às dificuldades fiscais.
A Fitch rebaixou os EUA em agosto de 2023, tornando-se a segunda grande agência de classificação, depois da Standard & Poor's, a retirar de Washington sua classificação AAA.
A pontuação atual AA+ tem uma "perspectiva estável", o que significa que um rebaixamento ou uma atualização são improváveis no futuro próximo.
Mas as expectativas de que Trump adotará uma agenda agressiva de corte de impostos e desencadeará uma guerra comercial global estão gerando muita angústia em torno da dívida norte-americana, de 36 trilhões de dólares, que já cresce a uma taxa de 2 trilhões de dólares por ano.
"Acho que você teria algumas respostas", disse Longsdon, referindo-se à próxima revisão de classificação dos EUA, que deve ocorrer até o final de agosto.
"Certamente você teria tido a chance de ver como o processo legislativo está operando", disse ele, acrescentando sobre a questão de tarifas: "Será muito gradualista? Ou será menos gradualista? Eu simplesmente não sei".
A Fitch atualmente assume que as "taxas tributáveis" -- tarifas sobre produtos já sujeitos a tarifas, e não sobre todos os produtos -- serão aumentadas para 60% na China, para 25% no México e no Canadá e para 10% no resto do mundo.
As classificações dos países já consideram esses números, o que significa que somente algo mais extremo, como impor tarifas sobre todas as importações, causaria mudanças radicais.
A nota da China já está em alerta de rebaixamento, o que significa que inevitavelmente receberá mais atenção.
"Vamos observar o que acontece e qual será a reação (às tarifas)", disse Longsdon, "particularmente o tipo de estímulo fiscal".
Um ponto positivo para a China foram "alguns pequenos sinais de recuperação no mercado imobiliário", embora mais informações sobre tarifas e questões internas sejam necessárias, ele acrescentou.
FRANÇA E REINO UNIDO
As classificações AA- da França e do Reino Unido também estão em foco devido aos respectivos problemas internos.
A perspectiva da França foi reduzida para "negativa" em outubro, com um alerta de que sua incapacidade de controlar os gastos estava rapidamente elevando sua dívida para 118,5% do Produto Interno Bruto (PÌB).
Paris ainda precisa definir um orçamento para este ano, mas esta semana reduziu sua meta de cortes de gastos de 40 bilhões para 32 bilhões de euros, em uma tentativa de obter o apoio dos parlamentares da oposição.
"Poderá haver novas eleições em junho, julho?" devido a todas as dificuldades, questionou Longsdon, reconhecendo que era "difícil dizer" quando uma decisão sobre a classificação poderia ser tomada.
Por usa vez, o Reino Unido parece ter um pouco mais de "espaço livre". Ele carrega uma perspectiva "estável", embora as dúvidas tenham crescido em meio a sinais de que o governo agora não atingirá suas metas de finanças públicas.
A Fitch, que ganhou a reputação de ser pioneira entre as "três grandes", deve avaliar o Reino Unido em 28 de fevereiro.
"O que vamos analisar é se eles (o governo do Reino Unido) acabarão não cumprindo as metas fiscais e, se isso acontecer, o que farão a respeito?", disse Longsdon.
"Isso é importante", afirmou. "Pelo que vemos e ouvimos, parece haver, como você esperaria, suponho, de uma regra (fiscal) razoavelmente nova, um compromisso de fazer ajustes, se necessário."
Mais amplamente, ele quer manter o talento da Fitch de ser a primeira em grandes decisões. "Se você vai fazer uma ligação que acabe sendo certa, você quer ser o primeiro".
(Reportagem de Marc Jones)