Por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com - A Simpar (SA:SIMH3) concluiu 2021 com recordes nos crescimentos de Lucro, Ebitda e Receita de Serviços. Para o CFO da holding, Denys Marc Ferrez, isso é resultado de uma governança transparente e independente de cada empresa do grupo, que possibilitou que cada uma crescesse de forma acelerada e sustentável.
“Todos os negócios evoluíram muito e os números do grupo também trazem uma mudança de patamar”, celebra o CFO. O lucro líquido da Simpar ficou em R$ 1,3 bilhões no ano, um avanço de 154,5% sobre 2020. O Ebitda chegou a R$ 4,2 bilhões, alta de 80,6% na comparação anual e a receita líquida de Serviços alcançou os R$ 11 bilhões, um crescimento de R$ 58,4%. Ferrez destaca que esses resultados ainda não incluem a contribuição da última incorporação feita da CS Infra, que trouxe um ativo operacional chamado Ciclos.
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“Este ano a gente está colhendo o fruto daquilo que a gente andou plantando nos últimos anos e é a conclusão de uma etapa do planejamento estratégico importante, que foi a reorganização”, explica Ferrez.
Esse ano foi o primeiro ano completo desde que o grupo decidiu fazer a sua reorganização como holding. Ferrez destaca que foi um período bastante ativo, com uma série de aquisições, como da Vox e da Monarca, e a emissão dos bonds no exterior, que foi um dos primeiros do mundo ligados à sustentabilidade nos nossos setores.
Também teve a incorporação da CS Frotas pela Movida (SA:MOVI3), num processo de governança onde o controlador deixou que os demais acionistas decidissem e foi aprovado por unanimidade. Além disso, Simpar passou a compor o índice de sustentabilidade da B3 (SA:B3SA3), enquanto a BBC recebeu a autorização para funcionar como banco em dezembro passado.
Confira os principais pontos da entrevista exclusiva ao Investing.com Brasil feita com Ferrez.
Investing.com Brasil - Como 2021 pode ser classificado para a Simpar?
Denys Marc Ferrez - Foi uma mudança de patamar. A gente teve um investimento líquido no ano de R$ 8,8 bilhões. Isso é quase quatro vezes maior do que o que a gente fez no ano anterior. Na verdade, se a gente somar os quatro anos anteriores, ainda é menor que os R$ 8,8 bilhões. Foram investimentos em máquina, equipamento, carro, caminhão. Então, ele não produz uma geração de caixa completa dentro do ano que entra. Em 2021, a contribuição desse investimento líquido no caixa equivale a 1/4 do ano. Então a gente já tem uma expansão contratada com base nesse investimento que é majoritariamente para o crescimento. Ao mesmo tempo, a gente continuou firme no nosso compromisso de reduzir gradualmente a alavancagem. A gente terminou com 3,4x de alavancagem no final de 2021, quando a gente tinha 3,5x no final de 2020. Temos a intenção de chegar em um patamar abaixo de 3x, mas nos comprometemos com o mercado de fazer isso gradualmente. Hoje, a gente tem uma empresa muito mais eficiente e isso se apresenta, por exemplo, no retorno do nosso capital investido. Houve uma melhoria geral das empresas, o que obviamente consolida na gente e a gente tem gente entregou no ano um ROIC de 13,2% isso é 5,7 pontos percentuais acima do que a gente fez no ano anterior. E o ROE foi de 29,4%, 10,8 pontos percentuais maior do que no ano anterior.
Inv.com - Quais são os destaques desse primeiro ano de reorganização da holding?
DMF - Algo valorizado pelo mercado é a nossa capacidade de executar. A gente andou falando com vários agentes sobre esse plano de reorganização e não é que o pessoal não acreditava, mas eles pensavam um bocado de coisa que nós deveríamos fazer e a gente teve a felicidade de conseguir executar. O mercado nos deu alguns votos de confiança depois da reorganização. Nos anos de 2018 a 2020, a gente deve ter feito captações de renda fixa e na ordem média de R$ 5 bilhões. Em 2021, nós captamos R$ 21 bilhões. Isso é uma demonstração de que as nossas entregas estão sendo vistas. Além disso, a Simpar recebeu uma classificação de risco melhor que o Brasil.
Inv.com - As aquisições trouxeram mais de R$ 3,2 bilhões às receitas líquidas da Simpar. Como essas estratégias são pensadas?
DMF - Todo M&A ele sai de dentro da Simpar. Naquelas empresas que têm companhia aberta, ela tem três administradores presentes em um conselho de cinco. A nossa visão estratégica é conduzida na Simpar de modo que os executivos das unidades possam tocar o planejamento combinado no início do ano e fazer execução. Obviamente que à medida que a coisa se desenvolve e fazemos parte do fechamento, nós trazemos o CEO junto para fazer as aquisições. Tem funcionado muito bem, tem dado muita velocidade e permitido que os executivos façam o seu trabalho com bastante foco.
Inv.com - A BBC foi a única empresa do grupo que apresentou uma redução no lucro. O que aconteceu?
DMF - A BBC tinha uma uma receita vinda de um serviço, que nós encerramos o contrato. Por isso essa queda no lucro. Não houve nenhum movimento no entorno, porque hoje ela ainda tem uma carteira que é extremamente saudável, com um valor presente de aproximadamente $ 270 milhões. Talvez a BBC aumente um pouco os custos daqui para frente, porque ela está se estruturando em termos de produtos. O foco do Paulo Cafarelli, que é o atual CEO da BBC e é ex-presidente do Banco Central e da Cielo (SA:CIEL3), está em estruturar os produtos para que a gente ofereça dentro do ecossistema do grupo. É uma questão de meses até que os produtos estejam formatados e testados.
Inv.com - Como a alta nos juros e na inflação irá afetar a companhia em 2022?
DMF - A gente tem uma perspectiva de resultados crescentes. Acredito que eles seriam ainda mais fortes se não fosse a inflação e os juros. Isso porque o maior head num grupo de ativos reais como a Simpar foi a própria valorização do ativo.A gente deve ter registrado no balanço como a ativo imobilizado algo entre R$ 15 e R$ 16 bilhões, mas o valor de mercado destes ativos adicionaria outros cerca de R$ 4 bilhões ou R$ 5 bilhões. Isso porque há uma oportunidade de diminuir a depreciação de itens que já estão na sua base, porque você está percebendo um valor de monetização maior lá na frente. Então, isso leva o resultado para cima, ajudando a compensar a alta da Selic. Então, quando a gente olha esse cenário, a gente acha que essa valorização dos ativos superou muito o eventual impacto que a gente vê hoje desenhado na curva futura de juros. Além disso, quando a gente fala no resultado bruto da venda de ativos, ele subiu. Antes a gente fazia uma margem bruta de moção para qualificar de 7% na média do grupo. Agora estamos fazendo uma margem bruta de quase 30%.
Inv.com - Mas os contratos vão conseguir acompanhar a alta nos juros?
DMF - Eu gosto de fazer um exercício com os CFOs das empresas do grupo que é o seguinte: em quanto tempo a gente pagaria nossas dívidas se a gente parasse a companhia hoje? A mudança dos juros acontece dentro de um período de quase dois anos. Isso quer dizer que na medida que eu tenho a companhia de hoje e adiciono novos contratos em um ano e meio ou em um ano e oito e meio, eu reciclo toda a base de contratos, usando o novo ambiente de juros. E além do mais, muitas vezes a gente esquece de falar, mas nossos contratos costumam ter cláusulas que nos permitem repassar o aumento de custos com uns dois ou três meses de atraso.
Inv.com - Por que ainda não vemos a contribuição da CS Infra e concessões no balanço?
DMF - A CS Infra está dentro dos números patrimoniais, mas não tem contribuição no resultado ainda. Então, a partir deste ano a gente vê o resultado da integralmente no nosso balanço. Mas a CS Infra e as concessões que nós já tínhamos que nós levamos pra debaixo dela, tendem a gerar o caixa de forma mais regular nos resultados, por volta do final de 2024.