Por Ana Mano
CAMPINAS (Reuters) - Operadores globais de grãos são contrários à proibição das compras de soja provenientes de novas áreas desmatadas no Cerrado, medida que duplicaria uma moratória similar em vigor na Amazônia, disse nesta quinta-feira a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
"Não há intenção de que isso ocorra", disse à Reuters o assistente executivo da Anec, Lucas Brito, durante uma conferência da indústria em Campinas (SP).
A Anec representa grandes tradings do setor, como Archer Daniels Midland, Cargill, Cofco, Louis Dreyfus, Glencore (LON:GLEN) e outras.
Os comentários de Brito vêm dois dias após agricultores brasileiros afirmarem que irão lançar uma campanha para acabar com a Moratória da Soja na Amazônia e que não veem espaço para um acordo semelhante no Cerrado.
Estabelecida em 2006, a Moratória da Soja proíbe o comércio da oleaginosa obtida em áreas desmatadas após 2008. Antes, o setor elogiava a medida por dificultar o desmatamento relacionado à soja na região.
Vizinho da Amazônia, o Cerrado ocupa cerca de um quarto do Brasil e é o segundo maior bioma do país, atrás apenas do Amazônico.
A região tem sido essencial para a expansão do cultivo da soja no Brasil, mas tal crescimento também levou à destruição de cerca de metade da vegetação do Cerrado ao longo de 50 anos.
Ambientalistas dizem que o relativo sucesso do Brasil na preservação da Amazônia ajudou a impulsionar ainda mais a expansão da soja no Cerrado, o que levou alguns deles à defesa de uma moratória similar para a região.
A Anec alega que replicar o modelo no Cerrado não funcionaria.
Brito disse que um dos motivos é o novo Código Florestal do Brasil, que entrou em vigor em 2012. Pelo código, os agricultores têm o direito de expandir o plantio de suas propriedades observando certos limites, o que é incompatível com o conceito da moratória, segundo ele.
Brito disse que o desafio atual é conciliar as regras de uso da terra e os requisitos de produção sustentável impostos pelos principais clientes do Brasil.
Ele sugeriu uma ideia há muito tempo proposta, que pagaria aos agricultores pela preservação de áreas nas quais eles pudessem eventualmente plantar. Esforços prévios para que tais pagamentos fossem instituídos por "serviços ambientais" foram interrompidos, já que não ficou claro como os pagamentos seriam realizados.
Um representante do Ministério da Agricultura concordou com a sugestão da Anec quanto à implementação desse sistema.
"Se o mercado e os consumidores virem um prêmio nessa preservação adicional, eles estão livres para pagar por esse tipo de iniciativa", disse Flavio Bettarello, secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais da pasta.