Arena do Pavini - A queda dos juros básicos para 6,5% ao ano criou situações inusitadas no segmento de fundos de investimento. É o caso dos fundos que rendem mais para o banco do que para o cotista. Isso ocorre porque a taxa de administração cobrada pelo banco gestor nesses fundos supera a metade (50%) dos juros básicos, ou 3,25% ao ano. Segundo levantamento feito pelo Portal do Pavini com a ferramenta de fundos da Economática, há 11 fundos renda fixa DI ou Curto Prazo cuja taxa de administração supera os 3,25% ao ano. E alguns superam bastante, como pode ser visto na tabela abaixo.
85% para o banco, 15% para você e para o leão
Há fundos que cobram 5,50% ao ano, ou o equivalente a 85% da taxa de juros básica. Ou seja, de cada R$ 100 que o fundo ganha, R$ 85 ficam com o gestor, o banco, e os R$ 15 restantes, com o cliente, que vai ter de dividir a quantia com o leão do imposto de renda.
Carteiras conservadoras
Imaginando que esses fundos são carteiras conservadoras, que não arriscam comprar títulos de maior rendimento e maior risco, e são fundos de curto prazo, cujos papéis não ultrapassam 1 ano, ou são fundos DI, que compram papéis que seguem o juro do overnight Selic, as LFTs, o rendimento bruto dessas carteiras, antes de o banco pegar a parte dele via taxa de administração, normalmente é, no máximo, o juro básico, ou 6,5% ao ano.
Se o banco cobra 5,5% para administrar o fundo, sobra para o investidor 1% ao ano de rendimento. Isso antes do imposto de renda.
Rendimento de 0,775% ao ano
Se for descontado um imposto de 15%, alíquota mais baixa, para aplicações acima de dois anos, o rendimento líquido do investidor cairá de 1% para 0,85% ao ano. Mas se a aplicação for curta, até seis meses, aí a alíquota de imposto será de 22,5% e o rendimento final do investidor será de 0,775% ao ano.
Mas nem é preciso fazer contas. Basta olhar a rentabilidade dos fundos, que já é líquida da taxa de administração. No ano, até dia 11 de julho o fundo que cobra 5,5% de taxa rende 0,40% no ano brutos, ou 0,34% já líquidos de imposto (com alíquota de 15%). Apenas como comparação, hoje, a caderneta de poupança rende 0,37% já líquidos de imposto em um mês. Ou seja, mais que o fundo em seis meses e meio.
Do Inteligente ao Top
Os fundo têm nomes pomposos, como Inteligente, Supremo, Classic, Extra ou Top, apesar de sua gestão se limitar normalmente à compra de títulos públicos corrigidos pelo overnight. Há carteiras de Curto Prazo, destinados a investidores que vão precisar do dinheiro em pouco tempo e que por isso não querer correr riscos de oscilações de juros. Mas, por aplicarem em papéis mais curtos, não têm direito às alíquotas mais baixas de imposto de renda, pagando no mínimo 20% de imposto de renda. São em geral usados por empresas para deixar o dinheiro do caixa para as despesas imediatas. Alguns fundos da lista são inclusive destinados a empresas, como o nome indica.
Fundos para governos e empresas
Já outros fundos são destinados aos governos municipais ou estaduais, e são chamados de fundos Setor Público. Chama a atenção que mesmo prefeituras e empresas paguem taxas tão altas de administração em suas aplicações.
Há também carteiras referenciadas ao juro diário, chamadas de DI, que normalmente aplicam apenas em LFTs do governo federal de prazo mais longo. Nesse caso, o fundo está sujeito a alíquotas mais baixas de imposto de renda, de 17,50% de um ano a dois e 15% acima de dois anos.
Fundos de aplicação automática
Alguns fundos são também de aplicação automática, como o Banrisul (SA:BRSR6) Automático ou o Safra Prático ou o BB (SA:BBAS3) Automático. Essa praticidade é uma das justificativas dos bancos para a taxa de administração mais alta. Outra justificativa é o custo operacional desses fundos, que podem ter muitos cotistas de valor de aplicação mais baixo.
Captação continua
Alguns podem achar que, por esse custo, esses fundos estão perdendo depósitos. Mas não é o que mostram os dados da Economática. Ao comparar o patrimônio atual com a média dos últimos 12 meses, o resultado supera 100%, o que indica que entraram depósitos além dos resgates nessas carteiras. A explicação é que esses investidores não estão prestando muita atenção onde deixam o dinheiro aplicado.
No máximo 0,75% para empatar com a poupança
A taxa de administração tem impacto significativa em fundos mais conservadores, cuja gestão não agrega tanto valor, ou seja, não rendem muito mais que o juro básico. Para empatar com a poupança em todos os prazos, por exemplo, esses fundos deveriam cobrar no máximo 0,75% ao ano. Acima disso, o investidor pessoa física pode pensar em aplicar no Tesouro Direto em uma LFT ou buscar um fundo mais barato no próprio banco ou em outra instituição.
A taxa de administração é provisionada diariamente pelos gestores e descontada uma vez por mês. E incide sobre todo o valor aplicado, não só sobre o rendimento, por isso seu impacto é maior.
Fundo | Gestor | Patrimônio | 30 dias | Ano | 12 meses | 2 anos | |
Santander Fc Inteligente RF CP | Santander | 200.858 | 0,06 | 0,40 | 1,55 | 8,41 | 5,50 |
Banrisul Automatico FI RF CP | Banrisul Corr. | 413.325 | 0,06 | 0,44 | 1,59 | 8,46 | 5,50 |
Santander Fc Classic RF DI | Santander | 649.813 | 0,09 | 0,65 | 2,05 | 9,59 | 5,00 |
Santander Fc Empresas CP | Santander | 515.899 | 0,10 | 0,69 | 2,08 | 9,53 | 5,00 |
Safra Pratico CP Aplic Auto | J Safra | 178.617 | 0,12 | 0,77 | 2,22 | 9,80 | 4,80 |
Santander Fc Extra RF DI | Santander | 61.481 | 0,17 | 0,97 | 2,75 | 11,07 | 4,20 |
BB RF CP Supremo Setor Publico | BB DTVM | 52.072.504 | 0,19 | 1,23 | 3,11 | 11,70 | 4,00 |
Santander FICFI Top RF | Santander | 67.833 | 0,20 | 1,27 | 3,18 | 11,94 | 4,00 |
FI Banestes Invest Public | Banestes | 723.348 | 0,20 | 1,28 | 3,20 | 11,93 | 4,00 |
BB RF LP 100 FICFI | BB DTVM | 11.872.044 | 0,21 | 1,32 | 3,31 | 12,15 | 3,80 |
BB RF CP Automatico | BB DTVM | 15.675.058 | 0,22 | 1,39 | 3,41 | 12,34 | 3,70 |
Por Arena do Pavini