O otimismo com a perspectiva de aceleração da retomada econômica nos Estados Unidos, após a aprovação do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão pelo Congresso americano ontem, expectativa de avanço de uma nova ajuda, na faixa de US$ 3 trilhões no país para infraestrutura, e sinais de inflação sob controle nos EUA animam os mercados. Esse otimismo influencia a Bolsa brasileira, que ontem subiu 1,30%, aos 112.776,49 pontos, e hoje sobe acima dos 114 mil pontos.
Além da alta dos índices acionários internacionais, a valorização do petróleo acima de 1% e de 3,66% do minério de ferro no porto chinês de Qingdao no fechamento de hoje estimulam compras na B3.
No entanto, ficam no radar a sessão para votação em segundo turno da PEC Emergencial, que permite a retomada do pagamento do auxílio emergencial no limite de R$ 44 bilhões, e o novo leilão extra de até US$ 1 bilhão em swap cambial do Banco Central (BC). O dólar seguia em queda, na faixa de R$ 5,60.
"A discussão sobre estímulos é positiva, assim como o pacote é positivo. Obviamente que há a questão da inflação global, o que seria o grande contraponto", avalia Naio Ino, responsável pela mesa de trading de equities da Western Asset.
Além do pacote fiscal americano, hoje o Banco Central Europeu (BCE) decidiu deixar sua política monetária inalterada após reunião concluída nesta quinta-feira, como se previa, mas prometeu acelerar suas compras de bônus e ser flexível para evitar um aperto "das condições financeiras".
"Há uma combinação de fatores" que estimula o Ibovespa, diz Naio Ino. "Ações que estavam muito amassadas estão subindo, principalmente as de consumo, caso de Lojas Renner (SA:LREN3) alta de 3,97%, e alguns mais sensíveis a juros, como CCR (SA:CCRO3) 6,55%, além de ações ligadas a commodities. Do lado, negativo, estão as exportadoras, por causa do câmbio, que leva a essa rotação ações', completa. Às 11h15, o Ibovespa subia 1,32%, aos 114.263,18 pontos, após máxima aos 114.435,56 pontos. Vale ON (SA:VALE3) subia 1,57%, enquanto Petrobras (SA:PETR4) tinha alta de 2,33% (PN) e de 2,15% (ON) (SA:PETR3).
No Brasil, hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que acelerou a 0,86% em fevereiro, superando o teto das expectativas na pesquisa Projeções Broadcast, de 0,80%.
Para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, o resultado elevado tende a pressionar o Banco Central (BC) a subir o juro no Comitê de Política Monetária (Copom) da semana que vem. Em tese, apesar de alta de juros ser desfavorável a investimentos em renda variável, essa expectativa, se concretizada, pode reforçar a credibilidade do BC, avalia o estrategista. Para Laatus, a Selic deve subir meio ponto porcentual, para 2,5%. "Uma taxa de 0,25 ponto decepcionaria o mercado, enquanto uma de 0,75 ponto porcentual assustaria", estima.
A despeito da aceleração inflacionária como retratada no IPCA de fevereiro, o avanço não tende a assustar o Ibovespa pois já havia sinais de intensificação, recorda o economista-chefe do banco digital ModalMais, Álvaro Bandeira. "Tivemos uma rodada de proliferação de projeções ruins na semana passada para inflação e atividade por conta da vacinação contra covid-19 atrasada e demora do Congresso com reformas", diz.
Apesar da pressão inflacionária, Bandeira afirma que juro alto nunca é bom para a Bolsa, mas o resultado da inflação indica que um aumento de 0,50 ponto porcentual na Selic está mais do que absorvido. "O susto será se for alta de 0,75 ponto", alerta, completando que, por ora, a força dos mercados externos deve permitir recuperação do Ibovespa. "Os treasuries, que têm sido o grande problema, dão uma folga, e o leilão extra do BC ajuda a conter o dólar um pouco, possibilitando um pregão em alta para a Bolsa, que precisa ultrapassar os 115 mil pontos de novo", diz.
No momento em que o País registrou 2.349 mortes em 24 horas pela covid-19, o presidente Jair Bolsonaro parece tentar correr contra o tempo. Ontem, adotou nova postura em relação à pandemia do novo coronavírus, ao aparecer usando máscara e defendendo vacinas contra a doença. A nova postura do presidente ocorreu horas após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacar a condução do governo federal no enfrentamento da pandemia e defender a vacinação.
"A fala de Lula serviu para mostrar que existe uma oposição e serviu para tirar Bolsonaro da zona de conforto, da posição de segurança, o que tende a ser positivo para o País, para a agenda de reformas", avalia Laatus, em conversa matinal com clientes.
Além do foco em ações ligadas a commodities e ao consumo, o investidor também avalia o balanço da Braskem (SA:BRKM5), que registrou lucro líquido de R$ 846 milhões no quarto trimestre de 2020, após prejuízo um ano antes e no terceiro trimestre.
As ações subiam 2,93% perto de 11h30. Já o conselho de administração da Azul (SA:AZUL4) aprovou programa de recompra de até 2 milhões de ações PN da companhia, enquanto os acionistas do Bradesco (SA:BBDC4) aprovaram aumento de capital de R$ 4 bilhões. Os papéis da empresa aérea tinha alta de 3,55% enquanto os do banco tinham avanço de 1,09% (ON) e de 1,74% (PN).