Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O papa Francisco, cada vez mais fraco aos 87 anos de idade, faz uma viagem por suas memórias e fala de suas esperanças para o futuro da Igreja Católica em um novo livro que reflete sobre sua vida e sua interseção com eventos históricos.
"Vida: A minha história através da História", um livro de memórias escrito com o jornalista italiano Fabio Marchese Ragona e publicado pela HarperCollins, estará à venda em 19 de março, no 11º aniversário da posse de Francisco como o primeiro papa latino-americano.
Embora ofereça poucas novidades, o livro de 230 páginas é uma leitura descontraída e em estilo de conversa, começando com sua infância em Buenos Aires até os dias de hoje.
Ele é pontuado por eventos como a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, a Guerra Fria, o pouso do homem na Lua em 1969, a queda do Muro de Berlim em 1989, os ataques de 11 de setembro de 2001 e a renúncia do papa Bento 16 em 2013.
Francisco, cuja saúde recentemente tem mostrado sinais de fragilidade com sucessivas crises de bronquite, uma série de internações hospitalares e dificuldade para caminhar, repete que não tem intenção de renunciar como seu antecessor, a menos que "surja um sério impedimento físico".
Ele brinca que, embora alguns de seus críticos conservadores "talvez esperassem" que ele anunciasse a renúncia após uma internação hospitalar, há pouco ou nenhum risco de que isso aconteça porque "há muitos projetos a serem realizados, se Deus quiser".
Ele defende novamente sua recente decisão de permitir bênçãos para indivíduos em relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, reiterando que não são bênçãos para a união em si, mas para aqueles "que buscam o Senhor, mas são rejeitados ou perseguidos".
A Igreja, diz ele, "não tem o poder de mudar os sacramentos criados pelo Senhor" e que "isso (as bênçãos) não significa que a Igreja seja a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo".
Ao abordar a controvérsia sobre a recente decisão, ele diz: "Imagino uma Igreja mãe que abraça e acolhe a todos, mesmo aqueles que sentem que estão errados e que foram julgados por nós no passado".
Ao longo do livro, ele se baseia em eventos históricos como pano de fundo para fazer apelos relacionados a situações atuais, às vezes semelhantes.
Falando sobre a Segunda Guerra Mundial, ele escreve que ainda hoje "os judeus continuam sendo estereotipados e perseguidos. Isso não é cristão; não é nem mesmo humano. Quando entenderemos que esses são nossos irmãos e irmãs?"
Refletindo sobre os ataques de 11 de setembro contra os Estados Unidos realizada por militantes extremistas islâmicos, ele escreve: "É uma blasfêmia usar o nome de Deus para justificar o massacre, o assassinato, o ataque terrorista, a perseguição de indivíduos e populações inteiras -- como alguns ainda fazem. Ninguém pode invocar o nome do Senhor para causar o mal."
No lado mais leve, ele fala do polêmico gol "Mão de Deus" do também argentino Diego Maradona nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986 contra a Inglaterra, que o árbitro validou, presumivelmente porque não percebeu que o jogador havia usado a mão.
Anos depois, quando Maradona visitou o papa no Vaticano, "eu lhe perguntei, brincando: 'Então, qual é a mão culpada?", escreve Francisco.