Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - A produção de açúcar no centro-sul do Brasil deve ficar entre 36 milhões e 38,5 milhões de toneladas na safra 2023/24, que se inicia em abril do ano que vem, a depender do comportamentos de preços do petróleo e da gasolina, além do cenário econômico, estimou nesta terça-feira a consultoria Datagro.
Em sua primeira projeção para a nova temporada, o presidente da consultoria, Plínio Nastari, afirmou durante evento que é cedo para marcar uma posição definida, porém estima-se que a moagem de cana-de-açúcar aumente para o intervalo entre 575 milhões e 590 milhões de toneladas, com melhores condições climáticas e investimentos nos canaviais.
A moagem estimada para a safra atual é de 542 milhões de toneladas, em uma safra em recuperação após produtividades muito ruins em função da seca e geadas no ciclo passado, enquanto a produção de açúcar deve ficar em 33,25 milhões de toneladas na região em 2022/23.
"A produção de açúcar em 2023/24 deve depender dos preços do petróleo e da gasolina, da competitividade do etanol em função da tributação sobre combustíveis e da expansão da economia", disse ele.
Na melhor das hipóteses para o açúcar, a produção na nova safra cresceria mais de 15%.
Na véspera, a trading e produtora chinesa Cofco já havia feito análise semelhante, apontando incertezas sobre o mix de cana para a nova safra, que dependerá da continuidade ou não da isenção dos impostos federais de combustíveis a partir do ano que vem.
Do ponto de vista climático, Nastari afirmou que o início de 2023 ainda será marcado pelo fenômeno La Niña, que reduz as precipitações na região Sul e gera incertezas sobre os volumes de chuvas para o Sudeste.
"Além disso, a La Niña estará em fase de transição para neutralidade, é por isso que ainda não podemos cravar qual será a produção de 2023/24 e trabalhamos com uma margem", justificou.
Ele ressaltou que, até o momento, os canaviais do maior polo produtor de cana do país estão se desenvolvendo bem para a nova safra, em resposta a condições climáticas mais favoráveis deste ano, porém com expectativa de redução na área destinada à cultura.
"Estamos prevendo para 2023/24 uma redução adicional de 1,8% de área, o que a gente leva em conta nas nossas estimativas", disse ele, sem detalhar a área estimada para o próximo ciclo.
A redução é decorrente das margens de lucro dos grãos, que se sobressaem aos resultados da cana e têm levado produtores ao plantio de soja, por exemplo, em detrimento dos canaviais.
Ainda em relação ao açúcar, o presidente da Datagro afirmou que um atraso na safra indiana aliado a uma modesta recuperação na produção da Tailândia deve fazer com que o mercado internacional se mantenha aquecido e demande o adoçante brasileiro.
O saldo global de açúcar, no entanto, foi estimado em superávit de 1,87 milhão de toneladas para o ciclo de 2022/23, iniciado em outubro no mercado internacional, contra superávit de 1,49 milhão de toneladas.
Já para o etanol, Nastari ressaltou que a crise energética na Europa, motivada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, indica exportações aquecidas para o biocombustível.
Por outro lado, a contínua expansão na produção de etanol de milho tende a elevar a oferta do biocombustível no Brasil, o que pode levar as usinas a optar por um mix de produção mais açucareiro em 2023/24. A Datagro não divulgou as projeções para a fabricação de etanol na nova safra.
Para o ciclo atual, a produção total de etanol foi estimada em 29,27 bilhões de litros, sendo 24,67 bilhões provenientes da cana e 4,6 bilhões do biocombustível de milho.
FIM DE SAFRA
Em relação ao ciclo de 2022/23, que caminha para o encerramento, Nastari lembrou que amplos volumes de chuvas fizeram com que as usinas perdessem dias de moagem em um patamar maior do que em anos anteriores, o que afetou o volume produzido.
"Estamos com uma safra atrasada e agora os produtores do centro-sul estão em um dilema sobre até quando podem esticar essa safra, em termos de moagem", comentou.
Com isso, ele acredita que algumas usinas ainda estarão em atividade de processamento durante o primeiro trimestre de 2023.
Por outro lado, são justamente estes níveis de chuvas que geram condições mais favoráveis para os canaviais da próxima temporada.
(Reportagem de Nayara Figueiredo)