Por Leandro Manzoni
Investing.com - Já está praticamente no senso comum que a queda da taxa básica de juros para a mínima histórica foi um dos motivos para o Ibovespa ter subido 31,58% ano passado, devido à transferência de recursos da renda fixa para renda variável em busca de melhor rentabilidade da carteira de investimentos. Pouco é falado, no entanto, sobre a performance do grupo de ações que geralmente apresenta desempenho melhor em relação aos papéis que compõem o principal índice acionário brasileiro. Estamos falando das chamadas small caps.
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O Índice Small Cap subiu quase o dobro do Ibovespa em 2019, com alta de 58,20%. Se um investidor conservador que se posicionou com ETF BOVA11 em seu portfólio está satisfeito por surfar em um bom momento da bolsa brasileira sem se preocupar em buscar qual a melhor ação para maximizar os ganhos de portfólio, os que se posicionaram no ETF SMAL11 estão ainda mais felizes.
Por que as Small Caps geralmente têm melhor desempenho?
As ações small caps são de empresas geralmente esquecidas pelos investidores em momento de crise. “Se o PIB cresce, os recursos dos investidores se diversificam entre as empresas menores, diferentemente durante as crises, quando as carteiras de investimentos estão mais expostas às empresas maiores”, avalia Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos.
Também contribui para a melhor performance das Small Caps, refletido no Índice Small Caps, a concentração de ativos que compõem a carteira Ibovespa, com grande peso de empresas inseridas no setor financeiro. “Isso demora para refletir novas situações na economia”, afirma Cavalheiro.
Para se ter uma ideia, as dez ações com maiores pesos da atual carteira Ibovespa, vigente desde 06 de janeiro, representam 51,7% do índice. Entre esses dez papéis, metade são de empresas do setor financeiro.
Por isso, na avaliação de Cavalheiro, o Índice Small Caps reflete melhor o desempenho da economia do que o Ibovespa, pois há menor peso do setor financeiro e presença maior de companhias do varejo, da construção civil, de energia elétrica e logística, setores que foram beneficiados com a queda da taxa de juros e cuja perspectiva para 2020 são promissoras.
Mesmo assim, o gestor da Rio Verde Investimentos pondera sobre o Índice Small Caps. “Nem todas as ações que compõem o índice o segue”.
Desempenho do ano passado vai se repetir?
A expectativa de aceleração da recuperação da atividade econômica em 2020, com previsões de crescimento entre 2,3% e 2,8% no ano, pode contribuir para um melhor desempenho das Small Caps. Na avaliação de Cavalheiro, o cenário de 2019 tende a se repetir neste ano que se inicia. “Não com a mesma intensidade, magnitude”, analisa.
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Além da queda da Selic, Cavalheiro aponta como fatores positivos a menor percepção de risco após a aprovação da Reforma da Previdência e a provável continuação de uma política econômica que visa equilíbrio das contas públicas. “Somente é preciso ver se o governo vai continuar promovendo redução da percepção de risco com continuação das reformas no Congresso”, prossegue. Ele acredita no avanço destes temas no Legislativo dependendo da capacidade de negociação política do governo.
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Em relação ao exterior, Cavalheiro coloca um peso neutro sobre o impacto de eventual fato negativo. “A economia mundial não tem risco de desaceleração abrupta, mesmo com eleições presidenciais nos EUA e a assinatura da fase 1 do acordo comercial entre EUA e China”, diz, além de apontar que os eventos locais atualmente são mais relevantes e positivos do que os externos.
Quem está na frente no início do ano
O peso do setor financeiro interfere na performance do Ibovespa nos primeiros pregões de 2020, que tem uma alta acumulada de 2,36% até o fechamento da última sexta-feira (25), enquanto o Índice Small Caps acumula alta de 6,74% no período. No mesmo período, os papéis dos bancos tradicionais apresentam queda no início do ano. Vale ressaltar, no entanto, que os poucos pregões realizados até o momento não significa uma tendência para o restante do ano. Mas o investidor deve ficar atento o que causou as perdas acumulados dos bancos nos primeiros pregões do ano.
Um dos fatores a ser observado é a agenda de promoção da competição bancária promovida pelo Banco Central (BC). O objetivo do BC é diversificar atividades financeiras concentradas nos cinco maiores bancos do país, criando condições para o desenvolvimento das fintechs, empresas financeiras baseada em tecnologia e presente basicamente no meio digital. “O setor financeiro está sob ameaça com a evolução das fintechs de crédito, cartões, seguros, por isso afeta o índice”, diz Cavalheiro.
Até o fechamento do pregão de 25 de janeiro, as ações do Itaú Unibanco (SA:ITUB4) - maior peso do Ibovespa - têm perdas acumuladas de 7,7%, as preferenciais do Banco Bradesco (SA:BBDC4) caem 5,0%, os papéis do Banco do Brasil (SA:BBAS3) acumulam perdas de 3,8% e as ações do Banco Santander Brasil (SA:SANB11) - que não estão entre os 10 maiores pesos do Ibovespa - descem 7,6%. Itaúsa (SA:ITSA4), holding controladora do Itaú Unibanco e presente entre os Top 10 do Ibovespa, também acumula queda de 5,3%.
As small caps favoritas de cada gestor
Veja agora as small caps escolhidas por gestores diferentes para estar no portfólio dos investidores em 2020:
Fernando Fontoura, gestor da Persevera Gestão de Recursos
São Martinho
A small cap que a gente mais gosta hoje é São Martinho (SA:SMTO3). É uma empresa de açúcar e etanol formada por quatro usinas e no nosso entendimento o que agrada é a questão estrutural.
Do ponto de vista tático, estruturalmente falando o nosso entendimento é que se trata de uma empresa com uma qualidade operacional incrível e capacidade de geração de caixa muito forte. O negócio acaba se destacando mais ainda pelo fato de estar inserido em um setor que passa por uma extrema dificuldade.
O setor de açúcar e etanol vem sofrendo ao longo dos últimos anos aqui no Brasil e no mundo muito em função dos subsídios que a Índia colocou para o preço do açúcar, um incentivo à produção mesmo com preços não competitivos com foco maior em fazer uma política social para os agricultores. Isso causou um cenário global de sobreoferta de açúcar que vem se apresentando ao longo dos últimos 3, 4 anos. Isso tem causado uma reconfiguração no setor. Muitas empresas estão com maior dificuldade para manter suas operações. Um exemplo é a própria Atvos, empresa de açúcar e etanol da Odebrecht.
Eduardo Cavalheiro, sócio e gestor da Rio Verde Investimentos
Ecorodovias
Trata-se do segundo maior grupo de concessões rodoviárias no Brasil atualmente. O cenário de volta do crescimento econômico, a queda dos juros com maior oferta de crédito e a retomada dos leilões de concessões, configuram um cenário perfeito para o destravamento das 3 alavancas principais que vemos para deslanchar os negócios da empresa. Explico a seguir:
1. Crescimento Orgânico: o crescimento econômico potencializa o crescimento do tráfego nas rodovias em operação. Os primeiros sinais desse movimento já apareceram em 2019 e devem se intensificar em 2020.
2. Projetos em Desenvolvimento: melhores condições de financiamento contribuem para a aceleração dos investimentos em projetos já contratados, como é o caso do projeto BR 364/365 entre GO e MG.
3. Novas Concessões: janelas imensas de crescimento surgem esse ano com novas concessões dos governos federal e estaduais. A Ecorodovias (SA:ECOR3) colocou oferta no primeiro leilão do ano (projeto PIPA - governo de SP), mas não ganhou. Deve se mostrar ativa nos próximos leilões, principalmente diante da abundância de recursos disponíveis no mercado, seja via capital ou dívida.
Renoir Vieira, economista formado pelo Insper com mais de 7 anos de experiência em gestão de patrimônio
Tecnisa
Sobre as Small Caps, minha principal aposta é Tecnisa (SA:TCSA3). Acho que a empresa passou por um período muito difícil recentemente, mas teve uma capitalização para melhorar a estrutura de capital. Eles precisam voltar entregar no principal empreendimento, o Jardim das Perdizes. A empresa está cada vez mais próxima da Cyrela (SA:CYRE3) e o balanço está melhorando. É um case que tem tudo para vingar este ano com a melhora da economia e mercado de Real Estate.
Enquanto a gente acompanha a melhora do crédito, no consumo e economia, isso deve ajudar mais pessoas a se animar em comprar apartamentos e esse conceito de bairro planejado é um conceito interessante, que funciona na região da Barra Funda, Perdizes e Pompeia. É um conceito interessante e que, com a empresa voltando a entregar de repente R$1 bilhão por ano de VGV, é um negócio que tem muito potencial.
Werner Roger, gestor da Trígono Capital
Tupy
A nossa tese principal é Tupy (SA:TUPY3). É uma empresa que faz fundidos de ferro sediada em Joinville. É uma empresa com diversas plantas, a maior delas (maior do mundo) fica em Joinville e outras duas plantas ficam no México e fabricam o mesmo produto. Ela acaba de comprar a principal concorrente mundial, a Teksid, que é do grupo Chrysler. Com isso, tende a crescer cerca de 50% em faturamento com plantas em Portugal, Polônia e México. Além disso, a empresa conta com grande distribuição na Itália. Acreditamos que ela vai ter um crescimento fantástico sendo que a Teksid está com 30% de ociosidade e isso significa que ela pode crescer bastante em receita. Já a Tupy não tem mais capacidade ociosa para explorar. A Tupy já atende praticamente todas as grandes montadoras mundiais, principalmente de pesados e caminhonete SUV.
Com forte atuação no mercado americano, a empresa deve se beneficiar do acordo entre EUA e China, algo que provavelmente deve aquecer a economia americana, que já vinha bem, mas ainda gerava algum clima de incerteza.
Acreditamos que nos próximos 3 ou 4 anos, o lucro da Tupy pode dobrar na medida em que todos os investimentos forem maturados. A Teksid vai crescer e melhorar a margem. Além disso, o valor investido de 220 milhões de euros ainda não foi fechado, pois ainda depende da aprovação do CADE e outros órgãos reguladores, mas existe a possibilidade da empresa financiar o valor emitindo um bond de 10 anos neste valor sem que isso traga grandes impactos para o caixa.
Outro catalisador é o anúncio de que o BNDES está vendendo uma participação de cerca de 26% da Tupy, o que ajuda a trazer mais visibilidade e liquidez para a empresa.
Matheus Moura, sócio e analista de investimentos da HIX Capital
Jereissati Participações (SA:JPSA4)
A Jereissati (SA:JPSA4) é uma holding que controla a empresa de shopping centers Iguatemi (SA:IGTA3). A nossa tese de investimentos é bem simples: comprar Iguatemi, que tem um dos melhores portfólios de shopping do Brasil, um ótimo time e boas oportunidades de crescimento, com ~30% de desconto. Hoje a Jereissati negocia nesses níveis de descontos versus 15%~20% das outras holdings listadas (Itaúsa (SA:ITSA4), Gerdau (SA:GGBR4), Bradespar (SA:BRAP4) e Cosan (SA:CSAN3)), além disso, a Jereissati deve ter geração de caixa suficiente para pagar um dividend yield acima de 7% em 2021, assumindo que não tenha nenhum projeto novo na Iguatemi.
Em resumo, vemos a Jereissati como um ótimo investimento pelos seguintes fatores: (i) qualidade do ativo Iguatemi, (ii) dividendo corrente alto e (iii) boas chances de um upside adicional vindo do fechamento de desconto.