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Rodrigo Marques: Motores dos mercados gastaram a gasolina em 2023 e perderão força

Publicado 29.12.2023, 10:52
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Investing.com – Os motores que guiam os mercados de risco gastaram a gasolina em 2023 e tendem a perder força em 2024. Essa é a visão do gestor Rodrigo Octavio Marques, sócio da Nest, que concedeu entrevista exclusiva ao Investing.com Brasil. “Tem uma inércia, pode andar agora com o motor desligado em 2024, mas uma hora os atritos começam a segurar um pouco do desempenho dos mercados”, alerta Marques.

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As ações devem ter um desempenho “ok”, segundo ele, mas não “tão estelar inicialmente quanto esse, que deixa a gestão de ativos um pouco mais complexa ao longo do tempo”, considera, ao indicar que os mercados hoje estão alheios aos riscos que deverão vir pela frente.

Confira a entrevista na íntegra:

Investing.com – Na sua avaliação, os dados econômicos melhoraram ou pioraram neste ano?

Rodrigo Octavio Marques – Começando pelo cenário global, principalmente a economia americana demonstrou desempenho bem fora do esperado no início do ano. O mercado estava dividido entre aqueles que achavam que iria ocorrer uma recessão em 2023 e que eventualmente o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) já teria que parar de subir os juros ou iniciar a flexibilização monetária ainda esse ano. Mas, o pensamento forte mesmo era que teria uma recessão, que não ocorreu, parece mais um pouso suave e essa narrativa ganhou mais força realmente a partir desse último trimestre. O mercado correu um pouco atrás do prejuízo.

É um cenário super benigno, mostrando uma narrativa de economia saudável em processo de desinflação. Isso em geral é bom para ativos de risco. As expectativas foram sendo incorporadas ao longo do tempo. No primeiro semestre, as expectativas estavam bem ruins.

Teve o choque de realidade, a narrativa mudou, e todo mundo ficou otimista de novo para 2024 em termos de economia global, já esperando uma redução da taxa de juros, em algum lugar lá na frente, com um processo desinflacionário.

Tem um ciclo político americano que é razoavelmente favorável, porque em geral, o terceiro e o quarto ano performam melhor do que a soma do primeiro e do segundo ano. O quanto mais de alta sobrou para o quarto ano é que é a dúvida agora.

Não acho que ano que vem terá um desempenho tão bom quanto esse. Ainda vai ser um desempenho ok, mas acho que não tão estelar inicialmente quanto esse, o que deixa a gestão de ativos um pouco mais complexa ao longo do tempo. Mas acho que o mercado está indo hoje para um cenário de acreditar que não tem risco nenhum, porque em 2023 achou que tinha muito risco. Teve duas guerras, Ucrânia e Rússia e Israel e Hamas. O preço do petróleo, que para todo mundo, ia bater US$100, não bateu.

No caso brasileiro, o Brasil se beneficiou a ser o primeiro ano do governo. O Lula 3 não é nem o Lula 1 nem o Lula 2, adquiriu características próprias. O mercado realmente estava mais pessimista em relação ao desempenho do governo. E o governo se beneficiou, no curto prazo, de uma lua de mel que faz parte do ciclo político, o presidente entrante tem algum espaço, conta com a benevolência do mercado.

Por exemplo, a substituição da regra fiscal foi feita até de uma forma tranquila. O mercado aceitou, tolerou a flexibilidade fiscal. De uma certa forma, vem até tolerando muito bem todas essas flexibilidades e o real risco de não cumprimento nenhum a meta de déficit primário. Mas esse é um brinquedo de 2023. Isso não é algo para 2024.

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Inv.com – E quais são as perspectivas para 2024?

Marques – As perspectivas são razoavelmente boas, só que o otimismo vai ser corrigido em algum lugar do segundo trimestre do ano que vem. Eu acho que o otimismo ainda continua, a narrativa vai perdurar até o Carnaval, quando começa a ter vários choques de realidade, onde provavelmente vai todo mundo querer rever posição se a inflação nos Estados Unidos não continuar caindo ou se os resultados das empresas mostrarem uma economia um pouco mais fraca na virada do segundo trimestre.

No Brasil, nesse ano, como o cenário internacional acabou sendo muito bom, um pedaço respingou para nós. Então, como a situação também não estava tão deteriorada, só tinha um problema no fiscal, mas a inflação estava bem conduzida, incluindo balança comercial, então não havia grandes problemas. O único problema que podia cobrar um pouco de prêmio era o lado fiscal e o tamanho da dívida. Isso se tornou tolerável ao longo do tempo, porque agora, o cenário está melhor. A minha visão é que será menos tolerado em 2024. A tolerância do mercado deve se reduzir se o fluxo de boa notícia parar.

Isso tudo está meio precificado, já está lá dentro. O primeiro trimestre deve ser razoavelmente positivo, só que as expectativas, como elas estão hoje, estão tirando absolutamente todos os riscos da frente.

Acho que dá para ter um otimismo, pois há vários sinais econômicos que surgiram em 2023 que vão ser carregados para 2024. Mas o importante é ressaltar que não na mesma magnitude. Corte de juros, por exemplo, no Brasil, já está razoavelmente bem precificado. Lá na curva, o pedaço curto da curva. O mercado vai procurar uma narrativa, tentar justificar um corte mais acelerado, mesmo quando o próprio Banco Central já disse que a diminuição será de meio ponto.

O nível de atividade já começou a voltar, não está sendo aquele desastre que pessoas achavam que ia ser neste ano. A discussão para o próximo ano será o tamanho do crescimento, pois se ficar abaixo de 2% não seria bom. Deixa difícil a gestão de ativos.

Os motores que guiam os mercados de risco, todos gastaram gasolina em 2023. Tem uma inércia, você pode andar agora com o motor desligado em 2024, mas uma hora os atritos começam a segurar um pouco do desempenho dos mercados.

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Inv.com – Quais os principais drivers e entraves para a bolsa brasileira em 2024?

Marques – O que poderia impulsionar mais: se o processo de desinflação continuar, com sinalização de que realmente vai ter corte de juros lá fora, acaba sendo um driver positivo. Só que já está um pedaço aqui. Tem um carrego de mais uns dois ou três meses para incorporar toda essa expectativa.

Como risco, os últimos números vieram melhor que o esperado em muitos casos, o risco é uma correção muito rápida, se de novo parecer que a taxa de inflação, tanto no Brasil quanto lá fora, está rígida, que ela não vai cair. Então vai haver questionamentos, não se vai ter corte ou não, mas sobre a velocidade dos cortes. E assim, o mercado pode dar uma segurada.

O grande tema para 2024 é saber se a combinação de inflação e desemprego será benéfica para os mercados de risco. Se tiver muito desemprego, com a inflação alta, é ruim. Se tiver pouco desemprego, com a inflação alta, também é ruim. Se a inflação é baixa, com muito desemprego também, não é bom. Então, para ter algo parecido com o que foi esse ano, precisa continuar tendo desinflação com resiliência no mercado de trabalho global e na economia como um todo. O mercado entra esperando isso. Como o mercado tende a exagerar nas expectativas, ainda não vejo exageros agora, mas mais para o ano que vem. E então, pode haver correções um tanto brutas, caso o nível de atividade comece a cair muito ou então a inflação comece a vir fora do que é esperado.

Além disso, 2024 é um ano de eleição nos Estados Unidos, tem uma série de riscos que ainda que vão precisar ser alocados de uma forma correta. Em dezembro de 2022, todo mundo achava que a economia americana iria entrar em recessão, a economia brasileira estava respondendo pouco aos estímulos fiscais. A grande história era os estímulos fiscais do final do governo Bolsonaro. Não tinha regra fiscal. Não tinha nada.

O mercado entrou muito mais pessimista, mas também não viu nada de bom e depois teve que reincorporar as expectativas. Agora, o ciclo de mercado me parece ser o inverso. Vai incorporar, vai exagerar. Não vai haver nada negativo, espera. A Ucrânia, ninguém nem fala mais. Israel também. Então os riscos geopolíticos foram todos tirados de cena e o mercado acha que não tem nenhum risco, por exemplo, as eleições nos Estados Unidos. No caso brasileiro, deve haver uma redução da tolerância com relação às questões fiscais na comparação com esse primeiro ano de governo.

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Inv.com – Nesse cenário, alguma mudança sugerida de alocação? Avalia que algum setor pode ser mais impulsionado que outro?

Marques – A visibilidade do longo prazo não está tão clara. Provavelmente tem espaço para as bolsas continuarem subindo, ainda que a uma taxa não tão elevada. A fase mais dinâmica da alta meio que já foi, mas ainda temos espaço para continuar comprados tanto em bolsa brasileira quanto bolsa americana.

No caso de metais preciosos, que eu particularmente gosto, acho que tem um espaço até maior do que nas bolsas. Então uma alocação, por exemplo, de 10% em metais preciosos não é ruim. Em metais preciosos, eu estou incluindo ouro e prata.

Prata é um pouco mais volátil que o ouro, porque é como se fosse um ouro alavancado. Se você carregar hoje uns 10% em metais preciosos, dependendo do perfil de risco da pessoa também, ainda tem espaço. Mas essa é uma posição que tem que ser diferente da posição de bolsa, que você consegue ficar um pouquinho mais no carrego, a alocação em metais preciosos exige um pouco mais de trabalho, exige market time, porque os metais preciosos não rendem como a bolsa, que paga dividendo. Mas é algo que se beneficia dessa narrativa de queda de taxa de juros ainda de forma mais rápida em 2024, auxiliado inclusive pelo Fed.

Por último, eu incluiria algumas commodities, mas é uma alocação mais para profissional, para o público em geral, dá mais trabalho. Acho que temos tem espaço melhor para bolsa, em segundo lugar, para preciosos, em terceiro lugar, para commodities em geral.

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