Embora os números do quarto trimestre, divulgados pela Rumo Logística (SA:RAIL3) na quinta-feira (13), estejam dentro do esperado, as ações são precificadas mais pelas expectativas do que por fatos consumados. E, neste ponto, quem investir em seus papéis pode esperar bastante volatilidade nos próximos meses.
É o que afirma o Credit Suisse, em relatório assinado pelos analistas Felipe Vinagre e Alejandro Zamacona. O que mais chamou a atenção da dupla foi a ampliação do intervalo do ebitda estimado pela Rumo para 2020.
No guidance (conjunto de metas divulgadas) publicado com o balanço trimestral, a companhia estabelece uma faixa de R$ 4,15 bilhões a R$ 4,65 bilhões.
Segundo o Credit Suisse, a “boa notícia” é que o ponto médio desse intervalo, R$ 4,4 bilhões, é bem próximo do consenso do mercado. A má notícia é que a diferença de R$ 500 milhões entre o menor e o maior valor não agrada, pois mostra que a empresa não sabe exatamente o que virá pela frente.
O banco lembra que, no guidance de 2019, a faixa era mais estreita – R$ 300 milhões –, o que permitia maior precisão na análise da companhia.
Baixa visibilidade
Entre os motivos que deixam a companhia mais expostas às incertezas, o Credit Suisse lista desde fatores externos, como o impacto do coronavírus sobre a economia mundial, eventuais resquícios da guerra comercial entre EUA e China (que pode afetar as exportações brasileiras de soja), até fatores internos, como a conclusão da pavimentação de importantes rodovias, transferindo a carga dos trens para caminhões.
Há, ainda, problemas da própria Rumo (SA:RAIL3). O mais importante, segundo os analistas, é a queda dos contratos do tipo “take-or-pay”, em que o cliente é obrigado a pagar, mesmo que não utilize os serviços. Vinagre e Zamacona observam que esses contratos estão abaixo da média histórica da Rumo.
“As incertezas mencionadas anteriormente, em conjunto com a baixa exposição a contratos take-or-pay devem trazer uma volatilidade maior que a usual nos resultados trimestrais de 2020”, diz o banco.
Dentro dessa lógica, a instituição espera períodos em que a Rumo apresente picos de tarifas e volume transportado, quando o poder de barganha estará do seu lado. Porém, nos períodos de transição entre safras, o poder de negociação se inverterá, e os clientes poderão pressionar por tarifas menores.
Como última nota de confiança, o banco observa que a Rumo começa 2020 com uma boa situação de caixa e endividamento sob controle, após os maus resultados de 2018.
Com a dívida líquida equivalente a 1,8 vez seu ebitda, a empresa está “com bastante poder de fogo para financiar seu ambicioso plano de investimentos”.
O Credit Suisse não fez menções a mudanças na sua recomendação para os papéis da companhia. O preço-alvo proposto é de R$ 24, ante a cotação de R$ 23,80 do fechamento de quinta-feira (13). A recomendação é de outperform, isto é, desempenho esperado acima da média do mercado.