Por Laura Sanches
Investing.com - “A decisão do BCE sobre a taxa de juros marca uma aceleração na valorização dos balanços dos bancos europeus e deve ser claramente positiva após 10 anos de queda e taxas negativas. Mas taxas mais altas com menor volume de empréstimos não vão acabar com os problemas de rentabilidade das entidades”.
É nisso que acredita Nicolas Hardy, vice-diretor de instituições financeiras da Scope Ratings. E assim explica:
Segundo ele, a receita de juros se deteriorou nos últimos anos devido ao longo tempo em que as taxas de juros permaneceram baixas. Os bancos conseguiram limitar o impacto dessa erosão graças a uma mudança paralela nas despesas com juros. Os aumentos das taxas já são uma realidade e os bancos posicionaram a duração de seus balanços para se beneficiarem da reavaliação. No entanto, eles não estão igualmente posicionados para aproveitar esse movimento.
“A medida do BCE visa tornar os empréstimos mais caros, mas também tornar a poupança mais atrativa. Lembre-se de que os bancos já acumularam excesso de liquidez durante a pandemia graças às políticas acomodatícias do banco central e às economias preventivas dos clientes. A questão da gestão do excesso de passivos se tornará mais urgente se a política de contenção da demanda por crédito funcionar”, diz Hardy.
Instrumentos
O BCE quer ainda garantir que os levantamentos de liquidez das TLTRO em vencimento "não prejudiquem a transmissão suave da política monetária" e "vai avaliar opções para remunerar o excesso de liquidez", segundo este especialista.
“Mas resta saber se o BCE será capaz de priorizar a eficácia da transmissão da política monetária sem problemas à medida que as medidas de apoio forem retiradas. A introdução do Instrumento de Proteção à Transmissão (TPI) poderia permitir a compra de títulos do setor privado. Na pendência do conhecimento de todos os detalhes, o TPI poderá funcionar como mecanismo de proteção caso as condições de mercado sejam negativas para os bancos mais expostos. Esperamos que esta opção só seja implementada em circunstâncias muito específicas”, acrescenta.
Para este analista, a velocidade com que a poupança é valorizada ou a forma como os bancos conseguem manter o acesso aos mercados de atacado mais voláteis também influenciarão os custos de refinanciamento.
Prêmios de risco
“O aumento das taxas de juros permitirá que os investidores diferenciem melhor os credores, aumentando os prêmios de risco. Os bancos aplicarão os prêmios de risco aos seus clientes, mas também estarão expostos a eles. Uma fuga para a qualidade em condições de operação mais difíceis poderia acentuar essa evolução”, destaca o especialista da Scope.
“O desafio da lucratividade será agravado pelo aumento dos custos operacionais (devido aos aumentos salariais) e maior custo do risco, pois condições financeiras mais apertadas levam a empréstimos inadimplentes mais altos. Isso explica porque as avaliações dos bancos continuam abaixo do valor contábil de muitos bancos europeus”, conclui.