SÃO PAULO (Reuters) -A entidade que representa os produtores de aço no país, Aço Brasil, manteve nesta segunda-feira expectativa de crescimento de 2% na produção da liga este ano, mas reduziu a previsão de vendas no mercado interno, de alta de 1,9% para queda de 0,7%.
A associação espera produção de 34,65 milhões de toneladas de aço no Brasil em 2023 e vendas de 20,1 milhões. A previsão anterior do Aço Brasil foi divulgada em novembro do ano passado e uma nova avaliação deve ocorrer em julho.
No primeiro trimestre, o setor produziu 8 milhões de toneladas de aço, queda de 6,8% na comparação com um ano antes. As vendas no mercado interno subiram 2%, a cerca de 5 milhões de toneladas. Já as importações dispararam 22%, para 1 milhão de toneladas.
Segundo o presidente do conselho da entidade, Jefferson de Paula, o desempenho do primeiro trimestre foi puxado pelos meses de fevereiro e março, com distribuidores independentes ampliando seus estoques de aço, em meio a anúncios de altas de preços por empresas como a CSN (BVMF:CSNA3) em abril.
"Em março teve compra estratégica de clientes, estoques de distribuidores subiram muito em fevereiro e março...As distribuições independentes no Brasil compraram mais que o consumo real", disse o executivo.
Outro fator que contribuiu para o desempenho do trimestre foram preparativos para reformas de alto-fornos, incluindo o da Usiminas (BVMF:USIM5), que tinha programação de desligamento por mais de 100 dias a partir deste mês e por isso a empresa teve de montar estoques para atender clientes ao longo do ano.
Segundo o presidente-executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, o quadro pintado pelo setor para o ano é conservador.
"Com os dados que temos hoje, com as informações dos consumidores, com o ambiente macroeconômico, não dá para ter razão concreta objetiva para apresentarmos crescimento (de consumo de aço no Brasil) até o final do ano", disse o executivo.
"É possível reverter", mas para isso uma série de fatores, que incluem o andamento da reforma tributária e a redução de juros da economia, precisam acontecer, acrescentou.
Com uma previsão de crescimento na produção e uma expectativa de queda nas vendas do mercado interno, o Aço Brasil espera que as exportações das usinas nacionais cresçam 7,6% este ano, ante estimativa anterior de alta de 2,1%, para 12,85 milhões de toneladas. A previsão para importações foi mantida em alta de 2,5%, a 3,4 milhões de toneladas.
De Paula comentou que parte da produção brasileira de aço que seria dedicada ao mercado interno vai acabar migrando para o mercado internacional, apesar do quadro de excesso de capacidade mundial de produção da liga, que no ano passado era de 564 milhões de toneladas, segundo dados da entidade.
O Brasil é o nono maior produtor de aço do mundo, com 34 milhões de toneladas em 2022, próximo da Turquia na oitava posição, mas longe de países como China e Índia, com produções de 1 bilhão e 125 milhões de toneladas, respectivamente.
CRESCIMENTO?
Para 2024, a expectativa do Aço Brasil para o consumo aparente, a medida que considera vendas de aço produzido no país e importado, é de crescimento de 3%, para cerca de 24 milhões de toneladas. Para este ano a previsão é de queda de 1% ante estimativa anterior de crescimento de 1,5%.
De Paula, que também é presidente ArcelorMittal Brasil, afirmou que a projeção para o consumo aparente para o ano que vem é baseada em uma série de premissas que incluem crescimento do PIB da ordem de 2% a 2,5%, aprovação da reforma tributária, queda dos juros, fim de incertezas sobre o marco do saneamento, além do andamento do programa habitacional Minha Casa Minha Vida reformulado, uma das promessas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Existe uma inércia neste ano...Este é um ano de transição e a expectativa é de crescimento para o ano que vem", disse o executivo.
Nesta segunda-feira, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que a proposta de reforma tributária deve ser apresentada até 19 de maio e que o governo gostaria de aprová-la ainda na primeira metade deste ano.
Questionado sobre negociações para o fim das medidas de proteção do mercado norte-americano impostas em 2018, durante o governo de Donald Trump, Lopes comentou que a entidade segue reivindicando alterações nas cotas de exportação de aço impostas ao Brasil.
(Por Alberto Alerigi Jr.)