Investing.com – Em um ambiente de queda nas taxas de juros futuras, diminuição dos preços das commodities, apreciação do real frente ao dólar e esfriamento da inflação, ao aproveitar as informações corretas promover avanços com reformas, o ciclo de cortes de juros pode ser mais rápido, o que seria bom para retomada dos investimentos, crescimento da economia e para a bolsa de valores, segundo Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional e economista-chefe no BTG Pactual (BVMF:BPAC11). Para o economista, o cenário corrobora o momento de volta da performance positiva do índice da bolsa de valores brasileira, o Ibovespa. O pronunciamento sobre o tema ocorreu nesta quarta-feira, 28, no painel “Queda de juros e oportunidades para potencializar seu portfólio”, durante o BTG Talks 2023, evento promovido pelo banco BTG.
“Se a gente continuar a caminhar na direção correta, ter um compromisso que não vai mudar reformas tão importantes que o Brasil fez nos últimos três anos, conseguir avançar para entregar metas de economia, de resultado primário que o governo divulgou e fazer, por exemplo, uma Reforma Tributária boa, isso pode trazer um upside, uma surpresa positiva para o Brasil”.
Almeida avalia que o cenário para os países emergentes está complicado, mas o foco pode se voltar mais ao país. “E os investidores olham hoje para o Brasil e México de uma forma mais otimista. Mas, para a gente transformar esse otimismo em entrada de recursos para renda variável, por exemplo, com resultado melhor de bolsa, a gente tem que fazer algo a mais. Temos que mostrar que o Brasil vai continuar numa agenda de reformas tão importantes para consolidação e, é claro, o juro vai ter que cair”
Cenário para queda dos juros
Com queda nos preços das commodities, o saldo da balança comercial vai ajudar o câmbio, na visão de Almeida. E a tendência de valorização da moeda traz queda de preços livres e melhora indicadores inflacionários, o que pode auxiliar no ciclo de flexibilização.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve se reunir em quatro momentos no segundo semestre e Almeida espera que a Selic comece a cair em agosto. A última projeção do BTG é de Selic em torno de 12% ao final deste ano, mas é possível que a taxa fique ainda menor, segundo o economista. No entanto, estaria muito cedo para estimativas mais assertivas porque, segundo Almeida, nem tem o BC teria a resposta para esta pergunta. Hoje, a Selic está em 13,75%.
Mensagens públicas de compromisso com a responsabilidade fiscal, não somente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas de outros membros que considera a “ala política” do governo, são importantes para a ancoragem das expectativas e para que o BC corte mais os juros, após um início de gestão com mensagens dúbias, diz o economista-chefe do BTG.
“Isso vai ser essencial para nosso crescimento em 2024. Nesse ano, a agricultura está salvando”, lembra o economista, que acredita que os juros precisariam ser menores no ano que vem para conquistar um patamar semelhante, após uma supersafra colhida em 2023.
Alocação
Diante das incertezas a respeito das mudanças na gestão do BC no futuro, comprar títulos pré-fixados para alongar as taxas traz riscos, na visão de Almeida. Em geral, o vencimento médio é curto no país, lembra. No entanto, para investimento pessoal, os juros longos da NTN-B seguem atraentes. “6,5% já era alto, e 5,7%, 5,6%, continua muito alto”, avalia.
“Voltamos à curva de juros do pós-eleição. Muito do prêmio que surgiu após a eleição, com algumas mensagens desencontradas, se teria ou não ajuste fiscal, se era compatível com aumento do gasto social, esse prêmio recuou muito. O prêmio de tesouro longo, a NTN-B, também recuou bastante”, completa.