Os juros futuros encerraram a primeira sessão do mês de junho em alta, reflexo do clima de aversão ao risco no exterior e preocupações com a inflação global, nesta quarta-feira acentuada pelo avanço nos preços do petróleo. Enquanto a commodity vai mirando novamente os US$ 120 por barril, a defasagem ante os preços domésticos vai abrindo e alimentando o imbróglio em torno dos combustíveis, com a política de preços da Petrobras (SA:PETR4) sob ataque e dúvidas sobre a evolução do projeto do teto do ICMS no Senado. Nesta quarta, nem o câmbio nem os Treasuries, cujos rendimentos subiram diante dos receios de que o aperto de juros nos Estados Unidos possa se estender, ajudaram.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a sessão regular em 13,405%, de 13,385% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,886% para 12,975%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,37%, de 12,254%, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 12,25%, de 12,12%.
Enquanto o real e a Bolsa tiveram pela manhã alguma volatilidade, os juros se posicionaram em alta durante toda a sessão, pressionados principalmente pelo exterior, com o petróleo em destaque. Além da perspectiva de aumento da demanda por commodities pela flexibilização nas medidas anticovid na China e estímulos à economia adotados pelo governo do país, o petróleo vem sendo afetado pelo acordo na União Europeia para banir as importações do óleo russo como resposta à ofensiva de Moscou contra a Ucrânia.
Ainda, como destaca Edward Moya, analista da Oanda em Nova York, os bons indicadores da economia norte-americana apontam para fortalecimento da demanda. "Os dados econômicos dos EUA mostram que a economia está se sustentando, o que apoia a ideia de que a demanda por petróleo deve melhorar e que esta será uma temporada de forte impulso", disse.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, lembra que com o barril se estabilizando ao redor de US$ 120 crescem os temores com o cenário de preços no Brasil. "O preço de combustíveis é o grande vilão da inflação e pega também nos serviços", comentou, destacando que alguns grandes bancos já não descartam a possibilidade de petróleo a US$ 150.
Em seus documentos recentes, o Banco Central vem trabalhando com a premissa de que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$100/barril.
Como lembrou nesta quarta o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deixar os preços de commodities equilibrarem o mercado, reduzindo o consumo, "não é socialmente nem politicamente viável." E intervir nos preços, como fazem vários países neste momento, pode desencorajar investimentos.
Nesse contexto, a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras vem sendo colocada em xeque por Brasília, com o Congresso em busca de alternativas para suavizar o impacto para a população. Em tramitação no Senado, o projeto que limita alíquotas do ICMS sobre combustíveis e energia encontra resistência dos governadores, que não querem abrir mão da arrecadação e agora propõem aumentar a taxação das empresas de petróleo e criar uma conta de compensação de perdas.
Além do petróleo, os juros dos Treasuries foram outra fonte de pressão sobre a curva doméstica, com falas hawkish de dirigentes do Federal Reserve e dados mostrando resiliência da economia dos Estados Unidos. No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos saltava a 2,93%, do nível de 2,86% da terça.