Taxas dos DIs sobem após Trump impor tarifa de 50% para produtos brasileiros

Publicado 10.07.2025, 16:53
Atualizado 10.07.2025, 16:55
© Reuters. Presidente dos EUA, Donald Trumpn08/07/2025nREUTERS/Kevin Lamarque

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quinta-feira em alta ante os ajustes da véspera, ainda em reação ao anúncio de que o governo Trump imporá uma tarifa de 50% sobre os produtos comprados do Brasil a partir de 1º de agosto.

Apesar do avanço, as taxas futuras demonstraram certa acomodação ao longo do dia e terminaram em patamares não tão elevados quanto o visto no início da sessão, quando o pânico gerado por Trump pressionava os DIs, o dólar e a bolsa.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2027 estava em 14,285%, ante o ajuste de 14,161% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2028 marcava 13,555%, em alta de 14 pontos-base ante o ajuste de 13,416%.

Entre os contratos longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,58%, ante 13,447% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,64%, em alta de 12 pontos-base ante 13,52%.

No fim da tarde de quarta-feira, com os ajustes dos DIs já definidos no Brasil, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre todas as exportações do Brasil para o país, vinculando a decisão ao tratamento recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo julgado por planejar um golpe de Estado.

O anúncio fez o dólar para agosto -- o mais líquido no Brasil -- disparar e as taxas dos DIs terem fortes altas na sessão estendida.

Na manhã desta quinta-feira, isso se traduziu na forte alta das taxas dos DIs em relação aos ajustes da véspera, com investidores incorporando prêmios de risco ao longo de toda a curva brasileira. Às 9h04 -- pouco depois da abertura – a taxa do DI para janeiro de 2033 atingiu a máxima de 13,900%, em alta de 38 pontos-base ante o ajuste da véspera.

“A parte longa da curva vinha de um movimento de fechamento de taxas muito forte, justamente desde o Liberation Day (2 de abril). Mas ontem, com a tarifa de Trump, o dólar pulou e a curva reagiu muito mal, estressou bem”, comentou Gustavo Jesus, sócio da Victrix.

No Liberation Day Trump havia anunciado uma série de taxas para diversos países, incluindo o Brasil, mas posteriormente o prazo foi alterado, até que na quarta-feira Trump comunicou o governo brasileiro que a alíquota a ser cobrada será de 50%, a partir de 1º de agosto.

Ainda durante a manhã desta quinta, no entanto, as taxas futuras perderam força e retornaram a patamares mais baixos -- ainda que em alta ante os ajustes da véspera. O movimento ocorreu em paralelo a certa acomodação do dólar ante o real e do Ibovespa.

“A curva é muito ligada ao dólar. Se o dólar perde a referência, o DI longo vai para 15%. Só que o dólar deu uma estressada, mas agora está nos R$5,55”, pontuou durante a tarde Gustavo Jesus, ao justificar a perda de força da curva durante a sessão.

Profissionais ouvidos pela Reuters ponderavam que, além das dúvidas sobre a cobrança de fato da tarifa de 50% a partir de 1º de agosto sobre os produtos brasileiros, o impacto da medida sobre a atividade e a inflação no Brasil é pouco claro.

“Uma medida como esta, de surpresa, vai fazer preço, não tem como. Esperava-se até a elevação (da tarifa) dos 10% para 20%, mas de repente foi para 50%, e sem qualquer motivação econômica”, comentou o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima.

“O câmbio se ajustou rapidamente, é natural, e os juros também, com o aumento dos prêmios de risco. Mas o governo brasileiro não fez anúncios agora, o que ajuda a tirar um pouco da pressão vinda de ontem”, disse Lima, acrescentando que ainda não estão claros os eventuais efeitos da tarifa de Trump e da possível retaliação brasileira sobre a economia.

Em entrevista à TV Record nesta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o governo irá adotar as mesmas tarifas comerciais sobre os EUA que Trump impuser ao Brasil.

"Se ele cobrar 50% da gente, a gente vai cobrar 50% dele", disse Lula, segundo trecho da entrevista publicado pelo portal R7, da Record. A íntegra está programada para ser veiculada nesta noite.

Ainda que a disputa tarifária possa ter efeitos sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e sobre a inflação no Brasil, os profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que, por enquanto, o cenário para o Banco Central pouco mudou.

Perto do fechamento desta quinta-feira a curva brasileira precificava 98% de chances de manutenção da Selic em 15% no encontro do fim deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

A ameaça tarifária dos EUA acabou deixando em segundo plano nesta quinta a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 0,24% em junho, após avançar 0,26% em maio. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses passou a 5,35%, de 5,32% em maio, permanecendo acima da meta contínua de 3,0% do BC, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (inflação até 4,5%).

Em função deste descumprimento da meta -- que completou seis meses consecutivos -- o BC precisará se explicar em carta aberta ao Conselho Monetário Nacional (CMN), a ser publicada às 18h.

No exterior -- que também ficou em segundo plano para o mercado brasileiro -- os rendimentos dos Treasuries oscilavam próximos da estabilidade neste fim de tarde. Às 16h42, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 1 ponto-base, a 4,348%.

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