Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quarta-feira com altas firmes, ampliadas no meio da tarde após o governo Lula confirmar a indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central, em um movimento que já era aguardado pelo mercado, mas que intensificou as apostas de que a autarquia subirá a Selic em setembro.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,93%, ante 10,878% do ajuste anterior.
Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,69%, ante 11,543% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,615%, ante 11,478%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,71%, ante 11,613%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,69%, ante 11,601%.
As taxas dos DIs se firmaram em alta desde o início da sessão, com a curva traduzindo receios do mercado em relação à área fiscal brasileira e dúvidas sobre os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.
“O debate sobre se haverá ou não alta da Selic em setembro adiciona um pouco de prêmio na curva também”, comentou durante a tarde Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
A alta firme do dólar ante o real, acompanhando o mercado externo, era outro fator de suporte para as taxas futuras.
Pouco antes das 15h30, no entanto, surgiu o principal fato do dia: após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que Galípolo será indicado para a presidência do BC, em substituição a Roberto Campos Neto a partir de 2025.
Atual diretor de Política Monetária do BC, Galípolo precisará passar por sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e ser aprovado pelo plenário da Casa, que fará um esforço concentrado de votações na primeira semana de setembro, em meio às campanhas eleitorais.
Haddad ressaltou que agora o governo começará a trabalhar na definição de outros três nomes que ocuparão cargos na diretoria do BC, formada por nove dirigentes. Segundo ele, as indicações serão feitas "oportunamente".
A indicação de Galípolo para o comando do BC já era largamente esperada pelo mercado, mas após a confirmação trazida por Haddad as taxas dos DIs renovaram os picos do dia.
A taxa do contrato para janeiro de 2025, por exemplo, atingiu a máxima de 10,94% às 15h49, pouco depois do anúncio, em alta de 6 pontos-base ante o ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2026 atingiu o pico de 11,71% às 15h48, em alta de 17 pontos-base ante o ajuste da véspera. O movimento ocorreu a despeito de, no exterior, os rendimentos dos Treasuries estarem acomodados, com variações pequenas.
A reação da curva brasileira traduziu a percepção de que aumentaram as chances de alta da Selic em setembro -- ainda que Galípolo só vá assumir o comando do BC em 2025. Isso porque o diretor, em suas falas mais recentes, tem reforçado que o BC elevará a taxa básica se for necessário.
Uma das avaliações é a de que a alta da Selic em setembro poderá trazer credibilidade para Galípolo e para a diretoria que comandará o BC a partir de 2025.
Perto do fechamento a curva traduzia a percepção de que o BC pode até mesmo começar um ciclo de alta da Selic com elevação de meio ponto percentual em setembro. Ela precificava 69% de probabilidade de alta de 25 pontos-base e 31% de chance de elevação de 50 pontos-base. Na véspera, quando havia apenas a expectativa pela indicação de Galípolo, os percentuais eram de 95% e 5%, respectivamente.
Comentários do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, em evento do Santander (BVMF:SANB11) pela manhã acabaram ficando em segundo plano. Ele disse que os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de agosto, divulgados na véspera, vieram melhores do que números anteriores, mas ainda não forneceram conforto, reiterando que a autarquia fará o que for preciso para atingir a meta de inflação.
"Tivemos número de inflação ontem que veio um pouco melhor, o IPCA-15, mas não nos dá conforto", disse Campos Neto, chamando atenção ainda para a pressão exercida pelo mercado de trabalho aquecido sobre os preços.
Em relação a isso, durante a tarde o Ministério do Trabalho e Emprego informou que o Brasil abriu 188.021 vagas formais de trabalho em julho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado veio apenas um pouco abaixo da expectativa de economistas em pesquisa da Reuters, de criação líquida de 190.000 vagas.
No fim da manhã, o Ministério do Planejamento e do Orçamento informou que o corte de 25,9 bilhões de reais anunciado pelo governo para fechar as contas de 2025 a partir da revisão de cadastros e programas atingirá principalmente desembolsos do INSS e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
No exterior, em meio à expectativa pela divulgação de novos dados econômicos nos EUA até o fim da semana, no fim da tarde os yields seguiam próximos da estabilidade. Às 16h39, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 1 ponto-base, a 3,846%.