Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quarta-feira em forte alta, superior a 20 pontos-base nos vencimentos a partir de 2026, refletindo o avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior, a aceleração do IPCA e a persistência dos receios quanto ao cenário fiscal no Brasil.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava em 11,11%, ante 11,086% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2026 estava em 12,5%, em alta de 20 pontos-base ante o ajuste de 12,299%, e o vencimento para janeiro de 2027 marcava 12,58%, ante 12,332%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,53%, em alta de 26 pontos-base ante 12,269%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,45%, ante 12,195%.
O principal fator para o avanço das taxas futuras no Brasil nesta quarta-feira vinha do exterior, conforme profissionais ouvidos pela Reuters.
A expectativa de que o Federal Reserve cortará os juros em apenas 25 pontos-base em novembro -- e não em 50 pontos-base -- sustentava o avanço dos yields dos Treasuries, o que também impulsionava a curva brasileira.
“Desde o payroll na semana passada, tivemos uma reprecificação forte nos Treasuries, com o mercado ajustando o ritmo de cortes para 25 pontos-base e algumas casas até questionando se haverá corte nos EUA em novembro”, pontuou o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia.
“Isso contaminou os mercados emergentes, com o dólar mais forte também. Hoje o Brasil está com performance até pior que os demais emergentes”, acrescentou Garcia, ao justificar o avanço firme das taxas dos DIs.
A curva brasileira também reverberou, na visão de Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pela manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O indicador oficial de inflação subiu 0,44% em setembro e acumulou alta de 4,42% em 12 meses, percentuais que ficaram próximos das projeções de economistas ouvidos pela Reuters, de 0,46% para o mês e 4,43% para os 12 meses. No entanto, o IPCA de setembro passou por forte aceleração ante o resultado de agosto, quando cedeu 0,02%.
“É uma aceleração muito robusta, aceleração que faz com que a inflação de 12 meses avance para próximo do teto (da meta de inflação)”, pontuou Spiess. “Isso gera preocupação do mercado, que sabe que a Selic vai ter que se manter elevada.”
O centro da meta contínua de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com margem de 1,5 ponto percentual (teto de 4,50%). Atualmente, a taxa básica Selic está em 10,75% ao ano.
Receios de que o governo Lula não será capaz de equilibrar as contas públicas também seguiu permeando os negócios, servindo como um terceiro fator para o avanço firme dos prêmios.
Durante a tarde, já após a divulgação da ata do último encontro de política monetária do Fed, as taxas renovaram máximas em alguns vértices da curva brasileira. Às 15h51, a taxa do DI para janeiro de 2033 -- um dos mais líquidos na ponta longa -- atingiu o pico de 12,48%, em alta de 29 pontos-base ante o ajuste da véspera.
Perto do fechamento a curva precificava 95% de probabilidade de alta de 50 pontos-base da Selic em novembro, contra 5% de chance de elevação de 75 pontos-base. Na terça-feira os percentuais eram de 98% e 2%, respectivamente.
No exterior, as taxas dos Treasuries seguiam em alta firme, já após a ata do Fed. O documento mostrou que uma "maioria substancial" das autoridades na reunião de setembro apoiou o início do ciclo de corte de juros com uma redução de 0,50 ponto percentual na taxa básica. No entanto, pareceu haver ainda mais concordância de que, com o movimento inicial, o Fed não estaria comprometido com nenhum ritmo específico de cortes à frente.
Na quinta-feira boa parte das atenções estarão voltadas à divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro nos EUA, no período da manhã. O dado tem potencial para mexer com a curva norte-americana e, consequentemente, com os DIs no Brasil.
Às 16h37, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 3 pontos-base, a 4,063%.