Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a segunda-feira em alta, em especial entre os contratos com prazos mais longos, em meio ao desconforto dos investidores no Brasil com a área fiscal e com o cenário de inflação, enquanto no exterior o dia foi de queda para os rendimentos dos Treasuries.
No fim da tarde a taxa do DI para outubro de 2024 -- um dos mais líquidos atualmente, refletindo apostas para o Copom deste mês -- estava em 10,598%, ante 10,586% do ajuste anterior.
A taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,95%, ante 10,955% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2026 estava em 11,83%, ante 11,811%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,97%, ante 11,883%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,94%, ante 11,851%.
No início do dia o relatório Focus do Banco Central indicou que a mediana das projeções do mercado para a inflação em 2024 foi de 4,30% para 4,35% e em 2025 passou de 3,92% para 3,95%. Em ambos os casos acima dos 3% da meta perseguida pelo BC, numa indicação de que as expectativas de inflação seguem desancoradas.
A projeção para a inflação em 2026 no Focus foi de 3,60% para 3,61%.
“Muito difícil o BC colocar esta inflação na meta em 2026”, disse o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, em comunicado enviado a clientes. “Nem é (colocar a inflação na meta em) 2025”, acrescentou, chamando atenção para o fato de a desancoragem de expectativas persistir para além de 2025.
Entre os fatores que alimentam a pressão inflacionária para os próximos meses estão o crescimento da economia brasileira, que tem surpreendido os analistas, e os eventuais efeitos da seca que atinge o país sobre os preços de alimentos e energia.
“O Focus mexeu pouco, mas está mostrando que as expectativas vão continuar desancoradas”, pontuou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano.
Segundo ele, porém, mais do que os receios com a inflação, a curva a termo brasileira foi impactada nesta segunda-feira pelas preocupações em torno do equilíbrio fiscal brasileiro.
No fim de semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou que o governo federal abra crédito extraordinário para atender às demandas causadas pelas queimadas e pelos incêndios da Amazônia e do Pantanal neste ano, sem que os recursos sejam limitados pelo arcabouço fiscal ou sejam computados para fins de cálculo das metas fiscais.
Mesmo que não haja impactos para fins do cumprimento da meta, as despesas extraordinárias ainda contribuiriam para o crescimento da dívida pública brasileira.
A autorização do STF, em si, foi apenas mais um fator que se somou ao cenário mais geral, de dúvidas sobre se o governo vai de fato conseguir equilibrar receitas e despesas até o fim do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries cediam, em meio às apostas de que o Federal Reserve poderá começar o ciclo de corte de juros com uma redução de 50 pontos-base, e não apenas de 25 pontos-base. Ainda assim, em função do cenário doméstico, a curva brasileira abriu.
Na ponta curta, o movimento foi mais estreito, mas ainda assim o viés foi de alta.
Perto do fechamento a curva brasileira precificava 91% de probabilidade de alta de 25 pontos-base da taxa Selic na quarta-feira e 9% de chance de aumento de 50 pontos-base. Na sexta-feira os percentuais estavam em 88% e 12%, respectivamente. Atualmente a Selic está em 10,50% ao ano.
Às 16h39, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 2 pontos-base, a 3,625%.