Os juros futuros fecharam a segunda-feira, 30, com viés de alta, refletindo uma postura mais defensiva dos agentes após declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, num dia também negativo no ambiente internacional. Pela manhã, o mau humor externo era neutralizado por notícias domésticas positivas, mas à tarde começou a pesar junto com a fala do ministro sobre câmbio, juros e política fiscal dentro da estratégia de "reindustrialização" do país, além das trocas na diretoria do Banco Central. A agenda pesada da semana, com destaque para as reuniões de vários bancos centrais e o payroll americano, também limitou o alívio nas taxas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 terminou em 13,55%, de 13,54% no ajuste de ontem, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 12,91%, de 12,84%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,92% (de 12,85% na sexta) e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 13,11% (de 13,08%).
O movimento era de queda pela manhã. Os agentes repercutiam a informação, publicada pela Folha de S.Paulo, de que, apesar das críticas do presidente Lula, o governo não estaria considerando alterar os atuais níveis das metas de inflação. O mercado vinha estressado nos últimos dias pela possibilidade de o governo alterar as metas para cima, o que representaria uma tolerância maior à alta de preços e sobrecarregaria a política monetária num cenário de pressão fiscal.
Além disso, no sábado (28), o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, havia dito não haver neste momento discussão sobre estender a desoneração tributária da gasolina, o que foi lido como um possível incremento de receitas permanentes para ajudar as contas públicas. "Tudo isso servia, pela manhã, de contraponto a uma pesquisa Focus muito ruim e ao exterior negativo", afirma o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, destacando que o alívio, na sequência, não resistiu ao discurso de Haddad, na Fiesp.
Além de ter dito não haver alteração prevista na questão dos combustíveis, o ministro defendeu a necessidade de se "harmonizar" a política monetária e fiscal e disse haver que espaço para "acomodação virtuosa" de câmbio e juros. É o tipo de afirmação que traz desconforto ao mercado, em meio à discussão colocada pelo próprio ministro sobre política de crédito para ajudar a indústria e o papel de fomento do BNDES.
A troca na diretoria de Política Monetária do Banco Central - Bruno Serra deixa o cargo em 28 de fevereiro - também foi abordada por Haddad. Segundo ele, a substituição foi discutida com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, em reunião nesta segunda-feira, e que uma avaliação "em parceria" será feita com cuidado. De acordo com ele, uma lista com "bons nomes" será levada a Lula.
Já as previsões de IPCA não param de avançar. No Focus, a mediana para 2023 saltou de 5,48% para 5,74%, já 1 ponto acima do teto da meta (4,75%) e a de 2024, que cada vez ganha mais peso no horizonte relevante, foi para 3,90%, se distanciando do centro de 3,00%. Para 2025, manteve-se em 3,50%.
Quanto à Selic, no Focus, as previsões seguem em 12,50% e 9,50% para o fim deste e do próximo ano. Para o Copom de quarta-feira (1º), é consenso a estimativa de manutenção dos atuais 13,75% e o mercado vai se concentrar no comunicado, que deve abordar a forte deterioração das estimativas de inflação e alertar sobre o aumento dos riscos fiscais. No mesmo dia, haverá reunião do Federal Reserve e o consenso é de redução da magnitude do aperto para 25 pontos-base. Na quinta, haverá encontro de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra - em ambos os casos é esperado aumento e 50 pontos - e na sexta-feira tem o relatório de emprego nos Estados Unidos. Nesse cenário, os juros dos Treasuries avançaram, com a taxa da T-Note de dez anos projetando 3,54% no fim do dia.