Por Juliana Schincariol
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A paranaense Uninter, segunda maior companhia de ensino a distância no Brasil, está se preparando para enfrentar nos próximos meses o resultado da fusão das duas maiores empresas de ensino superior privado do país e tem buscado parcerias que dêem fôlego financeiro para empresa buscar aquisições em um mercado mais concentrado.
A companhia conta hoje com 170 mil alunos de ensino a distância e 450 polos, detendo fatia de 9,1 por cento do mercado de EAD no Brasil. Apesar de ser segunda maior no setor, a empresa já estava distante dos 561 mil alunos EAD da Kroton (SA:KROT3) antes do anúncio da compra pela empresa da Estácio (SA:ESTC3), que tem 164 mil estudantes no segmento.
A consolidação ocorre em um momento de forte crescimento na participação do EAD no mercado de ensino brasileiro. Segundo dados da consultoria Hoper Educação, a fatia do ensino superior a distância no Brasil passou de 1,3 por cento em 2003 para 17,1 por cento em 2014. Para os próximos anos até 2018, a estimativa da consultoria é de crescimento entre 10 e 15 por cento do EAD.
"Com este grande bloco que está se formando (Kroton-Estácio), tenho consciência de que vou ter que me organizar para formar um bloco também. Quero concorrer com ele, não ser engolido", disse à Reuters o presidente da Uninter, Wilson Picler.
"Enquanto isso, estou pondo a casa em ordem, me preparando para minha vez de jogar", disse o executivo, acrescentando que a companhia tem se focado em realizar um forte corte de custos e em aumentar as margens de lucro. "Quando os deveres de casa estiverem feitos, será o momento de conversar com possíveis 'players' (participantes do mercado) para a gente formar mais um grupo", disse Picler.
Além da área de EAD, a Uninter tem 5,5 mil estudantes em ensino presencial. Também faz parte do grupo uma editora de educação superior, a InterSaberes, com mais de 500 títulos no catálogo, que também atende a concorrência.
Na sexta-feira, o Conselho de Administração da Estácio aceitou a proposta de compra pela Kroton, em um negócio avaliado em 5,5 bilhões de reais, o que reforçará a dominância da Kroton sobre o setor, ao formar uma empresa com cerca de 1,6 milhão de estudantes presenciais e EAD.
Questionado sobre eventuais ofertas recebidas pela Uninter diante da consolidação do setor de ensino, Picler disse que nos últimos anos já recebeu muitas propostas de outros grupos de ensino e fundos de investimentos, mas recusou.
"Recebi uma proposta (no ano passado) que passava de 1 bilhão de reais, de um grande player. O passo não foi dado porque eu percebi que o pessoal (interessados na Uninter) estava muito alavancado no Fies", disse o executivo sem revelar o grupo que fez a oferta.
A proposta oferecia um preço por aluno de 5.882 reais, enquanto na transação com a Estácio, que vai envolver uma troca de ações e um pagamento em dividendos, o valor por aluno é de 9.357 reais.
O objetivo de Picler é ter ações da Uninter listadas na Bovespa, o que espera acontecer por volta de 2019. "Precisamos fazer algumas aquisições estratégicas para ganhar mais corpo para entrar no mercado", disse. Antes disso, até 2018, ele estima atingir um valor de mercado de 2 bilhões de reais ante nível de 1,5 bilhão calculado pela empresa atualmente.
Em abril, a Uninter fez uma emissão de debêntures - de valor não relevado - subscrita pela Kinea Investimentos, empresa do Itaú Unibanco (SA:ITUB4), que passou a ter um assento no Conselho da empresa.