Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - As turbinas eólicas produzidas no Brasil pela dinamarquesa Vestas (CSE:VWS) estão enfrentando concorrência mais acirrada de produtos importados em um contexto de enxugamento da indústria local, após algumas companhias globais terem interrompido sua produção, e de isenção de impostos a máquinas trazidas do exterior.
"Recentemente, enxergamos a entrada de alguns competidores trazendo essas turbinas, e como resultado disso, a Vestas para competir com essas turbinas importadas precisa ir além do preço da turbina", disse Nelson Gramacho Gomes Neto, head de Supply Chain da Vestas para a América Latina, à Reuters.
A Vestas também divulgou um estudo sobre como ampliar a competitividade e eliminar gargalos da indústria eólica no Brasil, no qual aponta que seria preciso estabelecer uma isonomia competitiva entre as turbinas de fabricantes que operam no mercado nacional e os produtos importados, "que dispõem de isenção total de impostos".
Para permanecer competitiva, a Vestas vem apostando em "diferenciais", reforçando por exemplo os serviços prestados aos clientes nas fases de operação e manutenção, afirmou.
"Se olhar simplesmente o preço, à primeira vista, ela (turbina importada) é mais competitiva. Porém, trazemos outros valores adicionados, como conteúdo local que habilita para o Finame (linha do BNDES)", observou o executivo, em conversa durante o evento Brasil WindPower, em São Paulo.
Ele ainda mencionou novas parcerias firmadas para reparo local de suas turbinas.
O aumento das importações de turbinas eólicas para atender o Brasil ocorre após fabricantes do setor enfrentarem turbulências em todo o mundo, com disrupção nas cadeias de fornecimento aliada a uma pressão por mais entregas no contexto mundial de transição energética.
No caso brasileiro, a norte-americana GE deixou de produzir aerogeradores localmente no ano passado. Neste ano, a gigante Siemens Energy (ETR:ENR1n) também paralisou produção em meio a problemas enfrentados pela companhia em todo o mundo, e que em alguns casos chegaram a atrasar a entrada em operação de projetos de geradoras.
"Esse é um sintoma que a cadeia local precisa ser reforçada, porque a gente não via isso acontecendo há dois, três anos, eram situações (de importações) muito mais pontuais", disse o executivo da Vestas.
Ele observou também que alguns competidores "despriorizaram" o Brasil diante da atratividade de outros mercados que vêm oferecendo pesados incentivos para produção de equipamentos voltados à transição energética.
A Vestas, que tem no Brasil seu sexto maior portfólio de geradores instalados, produz equipamentos em Fortaleza (CE) e tem espaço para aumentar sua capacidade produtiva anual, de cerca de 2,5 GW, se necessário, afirmou Gramacho.
A dinamarquesa também está avaliando oportunidades de exportar peças e até mesmo turbinas inteiras para outros países da América Latina, como Argentina, Colômbia, México e Chile, mas para isso será necessário ter mais clareza sobre os volumes demandados por esses mercados.
"A maior alavanca para estabelecer o Brasil como mercado exportador é ter constância dos volumes demandados por esses mercados. Hoje são mercados instáveis, por diferentes motivos... Estabelecer uma plataforma de importação requer 'setup' diferentes, componentes diferentes, não faz sentido fazer isso para volumes pequenos."
(Por Letícia Fucuchima)