SÃO PAULO (Reuters) - A Volkswagen Caminhões e Ônibus (DE:VOWG) iniciou nesta segunda-feira a produção em série no Brasil de seu primeiro veículo elétrico, após meses de testes e desenvolvimento de um projeto que começou em 2017 e que tem como primeiro cliente a Ambev (SA:ABEV3).
O caminhão, voltado a entregas urbanas e chamado de e-Delivey, tem packs de bateria importados da chinesa CATL pela nacional Moura, motor da brasileira WEG (SA:WEGE3) e componentes para recarregamento da alemã Siemens.
O movimento tenta desafiar o status quo de uma indústria cuja eletrificação está ainda distante no Brasil, enquanto vários países anunciam planos para fim de motores a combustão.
"Estamos dimensionando a fábrica para 1.000 a 3.000 unidades por ano", disse o presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, uma unidade do grupo Traton, Roberto Cortes.
Desse volume, a Ambev deve ficar com 100 unidades neste ano, de um total de 1.600 caminhões elétricos encomendados até 2023. O veículo tem autonomia para 200 quilômetros com uma carga e pode ser recarragado totalmente em 3 horas, ou 30% em 15 minutos, disse o executivo.
Como comparação, a capacidade de produção da versão diesel do e-Delivery é de cerca de 15 mil unidades por ano. Os veículos são fabricados em Resende (RJ), onde fica o complexo fabril da companhia e de parceiros de produção.
"Se chegar a 7 mil (unidades montadas do e-Delivey), já começa a fazer sentido", disse Cortes sobre uma eventual nacionalização de componentes importantes do caminhão elétrico, como a bateria. O componente vem da China para a fábrica da Moura em Pernambuco, onde recebe ajustes, antes de embarcar de novo para Resende, onde é montada nos veículos.
Segundo Cortes, apenas o preço da bateria entregue em Resende já é maior que o preço da versão diesel do e-Delivery. O caminhão elétrico em si custa 2,5 a 2,9 vezes mais que o modelo a combustão, dependendo da variação do dólar.
O lançamento comercial do veículo ocorre em julho, quando a Volkswagen Caminhões e Ônibus deve divulgar novos clientes do caminhão elétrico, disse Cortes. Questionado sobre novos modelos elétricos, o executivo afirmou que o próximo deve ser um ônibus de transporte urbano, ainda sem data para ser lançado.
O e-Delivery vem no momento em que a indústria global tem enfrentado grave escassez de chips para veículos. Na sexta-feira, a Volkswagen anunciou suspensão por 10 dias da fabricação de veículos em duas unidades de São Paulo e outra no Paraná, devido à falta de chips.
Há também temores no Brasil de possível crise no fornecimento de energia por causa do baixo nível dos reservatórios de hidrelétricas.
Cortes afirmou que em ambos os casos o lançamento do e-Delivery deve ser pouco impactado diante do relativamente baixo volume de entregas, por enquanto.
"A tendência é que veículos elétricos urbanos têm tudo para terem uma procura bastante grande", disse o presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus. "A medida que tivermos (uma eventual) nacionalização da bateria ele vai começar a fazer sentido. Hoje estamos em 30 países com exportações e não tem motivo para (o e-Delivery) não ser exportado", acrescentou.
(Por Alberto Alerigi Jr.,edição Aluísio Alves)