Por Carolina Mandl e Aluisio Alves Pereira
SÃO PAULO (Reuters) - A plataforma de serviços financeiros XP, que fez sua estreia na bolsa norte-americana Nasdaq nesta quarta-feira, vai usar o 1 bilhão de dólares de sua oferta de ações para impulsionar o crescimento de sua unidade bancária.
O presidente-executivo da companhia, Guilherme Benchimol, afirmou a jornalistas que com a ampliação de sua oferta de produtos financeiros, incluindo cartões de crédito pela primeira vez, a companhia vai capturar uma parcela maior dos ativos de seus atuais clientes.
Benchimol estima que os clientes investem 45% de suas economias na XP, com o restante ficando com bancos de varejo. "A concentração bancária no Brasil é brutal", disse ele.
Fundada em 2001 como uma assessoria financeira independente, a XP acumula mais de 1,5 milhão de clientes e 350 bilhões de reais sob gestão.
As ações da companhia listadas na Nasdaq fecharam nesta quarta-feira a 34,46 reais ante preço no IPO de 27 dólares. A oferta movimentou cerca de 1,96 bilhão de dólares, sem considerar lotes adicionais de papeis.
O preço de 34 dólares atribui à XP um valor de cerca de 78,3 bilhões de reais (19 bilhões de dólares), metade do valor do Santander Brasil (SA:SANB11), terceiro maior banco privado do país.
"Os investidores perceberam o potencial que nós temos diante de nós em termos de quão concentrada é a indústria financeira no Brasil", disse o vice-presidente financeiro da XP, Bruno Constantino, em entrevista na Nasdaq.
AQUISIÇÕES?
Questionado por jornalistas sobre aquisições, Benchimol afirmou que a XP "não temos planos de aquisição no radar". O executivo também descartou para breve planos da XP para entrar em outros mercados, enfatizando que o foco por ora é ampliar negócios no Brasil.
Nesse sentido, a XP prioriza obter a licença para ter um banco próprio, o que lhe dará flexibilidade para ofertar mais serviços aos atuais clientes da plataforma, disse ele.
Benchimol disse ainda que avalia futuramente listar ações da XP também na bolsa brasileira B3, quando eventualmente houver uma regulamentação sobre o chamado voto plural, que permite que alguns sócios tenham mais poder do que outros.
A abertura de capital da XP marcou o quarto maior IPO dos Estados Unidos e a maior operação do tipo de um grupo brasileiro neste ano.
A demanda de investidores pelas ações da XP superou 14 vezes a oferta, segundo dados da Reuters. Por conta disso, a companhia foi avaliada a cerca de 60 vezes o lucro anualizado de 2019. Em contraste, as norte-americanas TD Ameritrade é negociada a cerca de 13 vezes seus resultados, de acordo com a Refinitiv, e a Charles Schwab carrega múltiplo de cerca de 18 vezes.
A operação de terça-feira marcou a segunda vez que a XP buscou o IPO. Em 2017, a empresa estava perto de listar suas ações quando fechou um acordo com o Itaú Unibanco, que pagou 6,3 bilhões de reais em dinheiro e ações por uma participação de 49,9% na empresa.
Nos nove primeiros meses de 2019, a XP teve receita total de 3,44 bilhões de reais, enquanto o lucro líquido atingiu 692 milhões.
O IPO da companhia foi assessorado por Goldman Sachs, JPMorgan Chase & Co (NYSE:JPM), Morgan Stanley (NYSE:MS), Itaú BBA, XP Investments, BofA Securities, Citigroup, Credit Suisse e UBS.
Na visão da equipe do Safra, o sucesso do IPO da XP chancela a perspectiva do mercado de que a empresa continua apresentando altas taxas de crescimento, se beneficiando da intermediação dos bancos no universo de investimentos, conforme nota a clientes.
"Acreditamos que o IPO traga um resultado positivo também para o Itaú Unibanco, de cerca de 1,2 bilhão de reais, com a reavaliação da participação do Itaú no patrimônio da XP. No entanto, merece destaque que a participação atual do Itaú na XP de 46% está avaliada em 28,4 bilhões de reais (considerado resultados não realizados), valor muito superior aos 6,3 bilhões de reais investidos pelo Itaú em meados 2017."
(Com reportagem adicional de Paula Arend Laier e C Nivedita)