Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A 99 vai escalar sua carteira digital 99Pay no Brasil, apostando em um pacote de benefícios e no uso recorrente de seu aplicativo de transporte urbano para enfrentar gigantes com dezenas de milhões de usuários, como PicPay e Mercado Pago.
"Prevemos terminar 2021 como uma das três maiores carteiras digitais do país em usuários ativos", disse à Reuters Maurício Orsolini Filho, diretor da 99Pay.
O plano mostra como a companhia comprada há três anos pelo grupo chinês Didi Chuxing planeja ampliar mecanismos para fidelizar clientes, na disputa com a rival maior Uber (NYSE:UBER) (SA:U1BE34) no país e ao mesmo tempo buscar opções para rentabilizar a base.
Lançada no ano passado, a 99Pay opera hoje em apenas nove cidades, com 500 mil usuários, disse o executivo. Com a guinada neste ano, o objetivo é chegar aos 20 milhões de usuários ativos da 99, grupo atendido pelos cerca de 700 mil motoristas da marca em 1.600 cidades do país.
A ofensiva ocorre meses após uma aceleração das carteiras digitais no país, com as medidas de isolamento social para tentar conter o avanço da pandemia da Covid-19 levando milhões de pessoas a buscarem meios online para pagar compras ou para receber recursos emergenciais do governo.
O PicPay, por exemplo, triplicou sua base no ano passado, chegando a 41 milhões de contas. Além disso, redes varejistas país estão expandindo ou lançando carteiras digitais próprias, campanhas em geral montadas em custosos subsídios.
Embora não revele o valor do investimento, a 99Pay vai pelo mesmo caminho, com ofertas que incluem desde rentabilidade de 220% do CDI sobre os recursos de clientes que ficarem na conta, até descontos em viagens da 99 e nos pedidos na 99Food.
Embora vejam o movimento com algum otimismo, dado que isso tem contribuído para reduzir a desbancarização, especialistas do setor bancário têm apontado que o mercado de carteiras digitais no país deve passar por uma consolidação, dado que grande fatia dos clientes dessas redes é redundante, ou seja, uma pessoa pode ser usuário de várias marcas ao mesmo tempo.
No entanto, poucos negócios de contas digitais conseguirão sobreviver rentáveis e isso dependerá bastante de quais empresas conseguirão manter a recorrência de uso da sua base.
Para Orsolini Filho, por ter a carteira digital no mesmo guarda-chuva de uma grupo que inclui aplicativo de transporte urbano e de encomenda de refeições, a 99 tem a vantagem de, mesmo eventualmente tendo uma base menor, ter um nível de utilização superior. E é esse o critério que a empresa usa ao prever que será uma das maiores do país, de contas usadas pelo menos uma vez nos últimos 30 dias.
E para tentar otimizar o uso da carteira, a empresa tem ampliado a prateleira de serviços, incluindo a opção de o passageiro fazer um crédito na conta com o próprio motorista, que por sua vez recebe um bônus de 5% sobre o valor da transferência.
O aplicativo permitirá ainda que a diferença do valor das corridas pagas em dinheiro possa ser devolvida na 99Pay, e que os usuários da carteira transfiram valores entre si.
O objetivo, claro, é reduzir a quantidade de pagamentos feitos em dinheiro vivo, que representam cerca de 70% das corridas. Segundo o executivo, nas cidades em que a 99 já opera a carteira digital, esse índice caiu para 60%.
As próximas iniciativas para tentar reduzir esse índice ainda mais serão oferecer na carteira digital a recarga para pagamento transporte coletivo, a integração com o PIX, sistema instantâneo de pagamentos, e a oferta de cartão de crédito, ainda no primeiro semestre deste ano.
Orsolini Filho diz, no entanto, que não há planos no momento para ampliar a prateleira de produtos na 99Pay, como seguros e investimentos, por exemplo.
"Só vamos oferecer serviços financeiros que façam sentido para carteira digital", afirmou.