Por Michael Elkins
A Reuters publicou uma matéria especial na quinta-feira, 6, revelando que, entre 2019 e 2022, funcionários da Tesla (NASDAQ:TSLA) teriam compartilhado de forma privada vídeos e imagens altamente invasivas, gravadas pelas câmeras dos veículos dos clientes.
Algumas das gravações mostravam os clientes da Tesla em situações bastante embaraçosas. Um ex-funcionário descreveu um vídeo de um homem se aproximando de um veículo completamente nu.
A Tesla garantiu aos proprietários que sua privacidade “é e sempre será” extremamente importante para a companhia. As câmeras são incorporadas aos veículos da marca para auxiliar na direção e, de acordo com o site da companhia, são projetadas desde o início para proteger a privacidade dos clientes.
A Tesla declara em seu "Aviso de Privacidade do Cliente" disponível na internet que as gravações das câmeras são anônimas e não permitem a identificação do proprietário ou do veículo. Mas sete ex-funcionários disseram aos repórteres da agência que o programa de computador que utilizavam no trabalho era capaz de mostrar a localização exata das gravações, o que poderia revelar o local de residência dos proprietários dos veículos da Tesla.
Outro ex-funcionário revelou também que algumas gravações pareciam ter sido feitas quando os carros estavam estacionados e desligados. Há alguns anos, a Tesla adotava a prática de receber as gravações das câmeras dos seus veículos mesmo desligados, caso os proprietários dessem seu consentimento. Recentemente, a empresa declarou que não realiza mais esse tipo de ação.
"Sem dúvida, foi uma violação de privacidade. E eu sempre brincava que nunca compraria um Tesla depois de ver como a empresa tratava algumas dessas pessoas", afirmou um ex-funcionário.
Outro teria dito o seguinte: "Isso me incomodava, porque as pessoas que compram um carro não imaginam que sua privacidade esteja sendo desrespeitada... Podíamos vê-las na lavanderia e fazendo coisas bastante íntimas. Podíamos ver seus filhos."
David Choffnes, presidente do Instituto de Segurança Cibernética e Privacidade, da Northeastern University, de Boston, classificou o compartilhamento dos vídeos e imagens sensíveis pelos funcionários da Tesla como "moralmente repreensível".
"Qualquer ser humano normal ficaria chocado com isso", declarou. Ele ressaltou que a circulação de conteúdos sensíveis e pessoais poderia ser interpretada como uma grave violação da política de privacidade da própria Tesla, ensejando inclusive uma intervenção da Comissão Federal de Comércio dos EUA, responsável por estabelecer leis federais de privacidade dos consumidores.
"Podíamos ver dentro das garagens das pessoas e das suas propriedades particulares", declarou outro ex-funcionário. "Digamos que um cliente da Tesla tivesse algo curioso na garagem, as pessoas postavam esse tipo de coisa."
Há cerca de três anos, alguns funcionários compartilharam um vídeo de um veículo submarino estacionado dentro de uma garagem, de acordo com duas pessoas que tiveram acesso às imagens. Apelidado de "Wet Nellie", o submersível branco Lotus Esprit apareceu pela primeira vez no filme "007 - O Espião Que Me Amava", de 1977. O proprietário do veículo era ninguém menos que o CEO da Tesla, Elon Musk, que o comprou em um leilão em 2013. Não está claro se Musk tinha conhecimento do vídeo ou que as imagens foram compartilhadas.
A agência não conseguiu determinar se o compartilhamento das gravações, que ocorreu dentro da Tesla até o ano passado, continua até hoje e qual é o nível de difusão dessa prática. Alguns ex-funcionários contatados disseram que o único compartilhamento que observaram foi para fins legítimos de trabalho, para obter ajuda de colegas ou supervisores, por exemplo.
As ações da TSLA encerraram o pregão de sexta-feira, 7, com uma queda de 0,25% e recuavam quase 2% antes da abertura desta segunda-feira, 10, em Nova York.