Assombrados pela guerra, israelenses hesitam em retornar ao kibutz atacado pelo Hamas

Publicado 03.11.2025, 12:05
Atualizado 03.11.2025, 12:07
© Reuters.

Por Andrew MacAskill

NAHAL OZ, ISRAEL (Reuters) - Avishay Edri quer voltar para o kibutz que deixou, no sul de Israel, após o ataque de homens armados palestinos há dois anos, mas hesita devido aos temores de que a guerra na vizinha Faixa de Gaza recomece e o local não esteja seguro.

Edri, de 41 anos, guarda boas lembranças de criar seus quatro filhos em Nahal Oz, a apenas algumas centenas de metros da fronteira com a Faixa de Gaza, atravessando campos de batata e girassol.

Mas foi também lá que eles passaram 17 horas trancados em um abrigo antibombas, escondendo-se de homens armados do Hamas que mataram 15 pessoas em Nahal Oz e levaram outras oito como reféns para Gaza, em 7 de outubro de 2023.

Desde que o grupo militante palestino e Israel concordaram com um cessar-fogo, no mês passado, uma relativa calma retornou à região, mas Edri e outros moradores dizem que o alívio se mistura com a apreensão sobre o que o futuro reserva.

"Estamos muito divididos sobre a possibilidade de voltar", disse Edri à Reuters por telefone, de um kibutz no norte de Israel.

"Tornou-se muito importante retornar para obter o encerramento emocional após o desamparo e a humilhação que vivenciamos", disse ele. "Mas isso entra em conflito com a lógica sobre o que acontecerá a seguir."

LUTO, DESCONFIANÇA E INCERTEZA

O ataque liderado pelo Hamas em 2023 contra comunidades no sul de Israel levou a dois anos de guerra, até o cessar-fogo intermediado pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

Apesar dos surtos de violência que tensionaram o cessar-fogo, Israel, após dois anos, suspendeu o estado de emergência em áreas próximas à fronteira com Gaza, que permitia aos militares restringir a circulação de cidadãos.

Para incentivar as pessoas a voltarem para casa, o governo também afirmou que deixará de pagar para que os moradores de Nahal Oz morem em outro lugar.

Diante de questões difíceis sobre se é seguro retornar e como reconstruir casas e vidas em um local que agora guarda memórias traumáticas, cerca de metade dos 400 moradores ainda não retornou.

Tudo o que separa Nahal Oz de Gaza são os campos e as fileiras de arame farpado. Os poucos moradores que retornaram antes do cessar-fogo disseram que foguetes disparados contra Israel por militantes palestinos às vezes atingiam Nahal Oz, enquanto a guerra assolava Gaza.

Quando a Reuters visitou o kibutz, na semana passada, os edifícios ainda apresentavam danos causados por ataques de foguetes, e o bombardeio regular da artilharia israelense podia ser ouvido enquanto uma fumaça preta subia sobre Gaza.

DEFESA DA PAZ

Antes da guerra, muitos moradores do kibutz defendiam a paz com os palestinos, e Edri levava habitantes doentes de Gaza para hospitais em Israel.

Ele disse que agora acharia isso difícil e se descreveu como "ingênuo" por pensar que ações individuais poderiam prevenir a guerra.

Questionado se acreditava que a paz poderia ser alcançada, ele respondeu: "Talvez, após essa enorme catástrofe, as pessoas de ambos os lados percebam que não há nada a ganhar com esse tipo de guerra".

Mas isso parecia improvável, disse ele, ecoando os pensamentos de muitos israelenses.

Segundo uma pesquisa do Pew Research Center, o número de israelenses que acreditam ser possível uma coexistência pacífica com um Estado palestino caiu para 21% este ano, ante cerca de 50% em 2013.

FUNDADA POR SOLDADOS, DESTRUÍDA PELA GUERRA

Nahal Oz, que tradicionalmente obtém renda da agricultura, foi fundada por soldados três anos após a independência de Israel, em 1948. Muitos moradores consideravam a permanência ali, apesar dos riscos, importante para que Israel demarcasse território e garantisse sua sobrevivência.

Então veio o ataque de 2023, no qual 1.200 pessoas foram mortas no sul de Israel, segundo dados israelenses, e 251 foram feitas reféns e levadas para Gaza. A ofensiva retaliatória de Israel matou mais de 68.000 palestinos, afirmam autoridades de saúde de Gaza.

Os militantes palestinos que entraram em Nahal Oz em 2023 mataram moradores enquanto transmitiam suas ações ao vivo nas redes sociais, usando telefones roubados dos residentes.

Caminhando perto da cerca da fronteira, Yael Raz Lachyani, de 49 anos, que cresceu no kibutz e retornou com sua família em agosto, lembrou-se de que costumava ir à praia e comer em restaurantes em Gaza no início dos anos 1980.

Ela pensava no sofrimento das pessoas do outro lado da cerca em tempos de conflito, disse, mas agora não há mais "espaço em meu coração tão despedaçado para pensar nelas".

Questionada sobre a probabilidade de uma nova geração de violência, ela disse: "Espero que não, mas neste momento me parece bastante provável".

(Edição de Timothy Heritage)

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