LONDRES (Reuters) - O chefe do escritório da Reuters em Bagdá deixou o Iraque depois de receber ameaças via Facebook e de ser denunciado por um canal de TV via satélite, pertencente a um grupo paramilitar xiita, devido a uma reportagem da Reuters da semana passada, que dava detalhes de linchamentos e saques na cidade de Tikrit.
As ameaças contra o jornalista Ned Parker começaram em uma página de Facebook iraquiano administrada por um grupo que se autointitula "the Hammer" e que é considerado por uma fonte da segurança iraquiana, de ter ligações com grupos xiitas armados. A postagem do dia 5 de abril e os comentários subsequentes, exigiam que ele fosse expulso do Iraque. Um comentário dizia que matar Parker seria a "melhor maneira de silenciá-lo, e não expulsá-lo".
Três dias depois, um noticiário de TV da Al-Ahd, uma emissora de TV que pertence ao grupo armado apoiado pelo Irã, Asain Ahl al-Haq, transmitiu um reportagem sobre Parker que incluía uma foto dele. A reportagem acusava o repórter e a Reuters de denegrirem o Iraque e suas tropas apoiadas pelo governo e incitou os telespectadores a exigirem a expulsão de Parker.
A pressão aconteceu depois de uma reportagem do dia 3 de abril feita por Parker e dois colegas dando detalhes sobre abusos de direitos humanos em Tikrit, depois que as tropas do governo e as milícias apoiadas pelo Irã libertaram a cidade do controle de um grupo extremista do estado Islâmico. Dois jornalistas da Reuters testemunharam o linchamento de um combatente do Estado Islâmico, na cidade, por policiais federais iraquianos.
A reportagem também descreveu incidentes generalizados de saques e incêndios criminosos pela cidade, que políticos locais atribuíram às milícias apoiadas pelos iranianos.
Uma porta-voz da Reuters disse que a agência de notícias apoia a precisão e integridade dessa reportagem. O Facebook, atendendo a um pedido da Reuters, removeu uma série de mensagens ameaçadoras essa semana.
As ameaças parecem ser parte de uma mais ampla luta de poder no Iraque. O país está dividido entre a sua maioria xiita, que agora domina o governo, e a minoria sunita, que dominou o país durante o governo do falecido ditador Saddam Hussein.
O primeiro-ministro Haidar al-Abadi, um xiita moderado, está tentando derrotar o estado Islâmico – uma ramificação radical sunita da Al Qaeda, que conquistou grandes porções do território iraquiano – ao mesmo tempo em que tenta fazer as pazes com grande parte da comunidade sunita.