Por Kevin Yao e Winni Zhou
PEQUIM/XANGAI (Reuters) - A China concordou em permitir que especialistas de Saúde norte-americanos entrem no país como parte das iniciativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater a epidemia de coronavírus, mesmo depois de acusar os Estados Unidos na segunda-feira de criarem pânico por conta da doença com restrições a viagens e repatriamentos.
"A China aceitou uma oferta dos Estados Unidos" para participar de um grupo de especialistas em uma missão da Organização Mundial da Saúde à China para aprender mais sobre o vírus e sobre como combatê-lo", afirmou o porta-voz da Casa Branca Judd Deere.
Na província de Hubei, no centro da China, epicentro da epidemia, a TV estatal informou que houve 2.345 novos casos do vírus e outras 64 mortes, elevando o total de fatalidades relacionadas a vírus em Hubei para 414 na segunda-feira.
Com Wuhan, cidade onde o vírus se originou, e outras cidades chinesas bloqueadas, restrições severas de viagens e a China enfrentando cada vez maior isolamento internacional, os temores de distúrbios econômicos ainda mais amplos estão crescendo. Fontes na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) disseram que os produtores estavam considerando cortar a produção em quase um terço para dar um suporte aos preços.
Na semana passada a OMS declarou a epidemia do vírus, que é análogo ao da gripe, uma emergência global. Casos da doença foram confirmados em 23 outros países e regiões. A primeira morte por coronavírus reportada fora da China aconteceu nas Filipinas.
Companhias aéreas por todo o mundo pararam de operar seus vôos para regiões da China. Uma suspensão dos Emirados Árabes Unidos nesta segunda-feira irá afetar as companhias Etihad e Emirates.
A China acusou os Estados Unidos de espalharem o medo ao retirarem seus cidadãos e aplicarem restrições de viagem.
Washington tem "fabricado e espalhado o medo incessantemente", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Hua Chunying a jornalistas, notando que a OMS havia aconselhado contra restrições a viagens e ao comércio.
"São precisamente os países desenvolvidos, como os Estados Unidos, com fortes capacidades e instalações de prevenção a epidemias que tomaram a liderança na imposição de restrições excessivas contrárias às recomendações da OMS", disse.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) defendeu as medidas tomadas pelo governo do país, entre elas a suspensão da entrada de cidadãos estrangeiros que visitaram a China nos últimos 14 dias.
"Tomamos uma decisão agressiva diante de uma ameaça sem precedentes. Essa ação agora tem o maior potencial para desacelerar essa crise. Essa é a teoria aqui", disse Nancy Messonnier, diretora do Centro Nacional para Imunização e Doenças Respiratórias do CDC, enquanto observava que já há 17 mil casos de um vírus para o qual a população ainda não tem imunização.
OMS REAFIRMA POSIÇÃO
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse novamente que as restrições de viagens são desnecessárias.
"Não há razão para medidas que interfiram desnecessariamente nas viagens e no comércio internacional", disse ele ao conselho executivo da OMS em Genebra.
"A chance de levar esse vírus para qualquer lugar fora da China é muito baixa, e mesmo na China quando você vai para outras províncias, é muito baixa", acrescentou.
O surto é uma reminiscência da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), um vírus da mesma família que surgiu na China em 2002 e matou quase 800 pessoas em todo o mundo, dos cerca de 8.000 infectados.
Dados chineses sugerem que o novo vírus, embora muito mais contagioso que o da Sars, é significativamente menos letal, embora esses números possam evoluir rapidamente. Antes dos últimos números de Hubei, o número de infecções confirmadas na China era de 17.205.
A OMS disse que pelo menos 151 casos foram confirmados em 23 outros países e regiões, incluindo Japão, Tailândia, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, que na segunda-feira relataram seu segundo caso de transmissão entre pessoas dentro de suas fronteiras.