Por Trevor Hunnicutt e Nandita Bose e Jeff Mason
WASHINGTON (Reuters) - A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, que está consolidando o apoio dos democratas para a sua súbita candidatura presidencial, reuniu apoiadores nesta segunda-feira com um discurso de campanha inicial prometendo ir para cima do candidato republicano Donald Trump como a procuradora de tribunal que já foi.
“Eu enfrentei criminosos de todos os tipos. Predadores que abusaram de mulheres, fraudadores que roubaram consumidores, trapaceiros que quebraram as regras para seu próprio ganho”, disse Kamala aos integrantes da equipe de campanha 28 horas depois que o presidente Joe Biden, de 81 anos, abandonou a corrida à reeleição e a endossou.
“Por isso, ouçam-me quando digo que conheço o tipo de Donald Trump. Nesta campanha, vou orgulhosamente, vou orgulhosamente colocar meu histórico contra o dele”, disse Kamala, que foi procuradora-geral da Califórnia e senadora dos EUA antes de servir como vice-presidente de Biden.
Trump deverá ser sentenciado em setembro, depois de ter sido considerado culpado de falsificar registros para ocultar pagamentos de suborno a uma estrela pornô. Ele também enfrenta acusações criminais relacionadas a seus esforços para reverter a vitória de Biden em 2020. Ele alega falsamente que perdeu por causa de fraude eleitoral.
Biden, que encerrou sua campanha em meio a questionamentos sobre sua idade e saúde, fez uma ligação para o evento. Recuperando-se de Covid-19 em sua casa em Delaware, ele parecia rouco, mas agradecido a sua vice-presidente.
Ele disse que achava que tinha tomado a decisão certa ao desistir. Biden, a pessoa mais velha a ocupar a Sala Oval, disse no domingo que permaneceria na Presidência até o seu mandato terminar em 20 de janeiro de 2025.
Kamala, de 59 anos, delineou uma série de políticas que prometeu seguir, incluindo leis para proteger os direitos ao aborto e para a proibição de rifles de assalto, e fazer da reconstrução da classe média o foco de seu mandato na Presidência.
Poucos minutos depois de receber o apoio de Biden, no domingo, Kamala começou a consolidar o apoio democrata à sua candidatura presidencial, assegurando o compromisso de centenas de delegados na convenção, anunciando uma enorme arrecadação de fundos e obtendo o apoio de figuras proeminentes do partido.
Entre elas, a ex-presidente da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi, que continua a ser influente desde que deixou o cargo de líder do partido na Câmara dos Deputados.
A campanha de Kamala pretende garantir o compromisso da maioria dos cerca de 4.000 delegados democratas para a convenção do Partido Democrata do próximo mês até quarta-feira à noite, disseram fontes à Reuters, definindo efetivamente a nomeação.
Integrantes da campanha e aliados fizeram centenas de ligações instando os delegados a nomear Kamala como candidata para presidente na eleição de 5 de novembro.
A equipe de campanha de Kamala disse que arrecadou 81 milhões de dólares nas 24 horas após a saída de Biden, o melhor resultado em um único dia na campanha de 2024 para qualquer um dos partidos.
Praticamente todos os democratas proeminentes que eram vistos como possíveis adversários de Kamala a apoiaram, incluindo os governadores Gretchen Whitmer de Michigan, Gavin Newsom, da Califórnia, e Andy Beshear, de Kentucky.
A saída de Biden foi o mais recente choque em uma disputa pela Casa Branca que incluiu o quase assassinato do ex-presidente Trump por um homem armado durante um comício e a nomeação de um linha-dura como companheiro de chapa de Trump, o senador J.D. Vance.
Kamala elogiou Biden por seu serviço ao país nesta segunda-feira, em sua primeira aparição pública desde que ele abandonou abruptamente sua candidatura à reeleição e a endossou para disputar sua sucessão.
"O legado de Joe Biden nos últimos três anos é inigualável na história moderna", disse Kamala em um evento na Casa Branca para homenagear atletas universitários.
Kamala viajará para Milwaukee na terça-feira, no Estado crucial de Wisconsin, que na semana passada sediou a Convenção Nacional Republicana que ofereceu uma demonstração clara do domínio de Trump sobre seu partido.
NOVA GERAÇÃO
Kamala, que é negra e asiático-americana, criaria uma dinâmica totalmente nova com Trump, de 78 anos, oferecendo um vívido contraste geracional e cultural.
A campanha de Trump vem se preparando para sua possível ascensão há semanas, disseram fontes à Reuters. Nesta segunda-feira, a campanha enviou uma crítica detalhada de seu histórico sobre imigração e outras questões, acusando-a de ser mais progressista do que Biden.
O documento alega que Kamala favoreceu a abolição da agência de Imigração e Alfândega dos EUA e a descriminalização das travessias de fronteira, apoiou o chamado New Deal Verde, apoiou os mandatos de veículos elétricos do governo e incentivou os esforços de "desfinanciamento da polícia".
Algumas dessas posições foram adotadas por Kamala como candidata presidencial malsucedida na eleição de 2020, quando ela estava concorrendo com uma agenda mais progressista do que Biden, mas não foram as que o governo assumiu, principalmente no que diz respeito à segurança nas fronteiras e às questões de aplicação da lei.
Trump, cujas falsas alegações de que sua derrota em 2020 para Biden foi resultado de fraude inspiraram o ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, questionou nesta segunda-feira o direito dos democratas de mudar de candidato.
"Eles roubaram a corrida de Biden depois que ele a venceu nas primárias", disse Trump em seu site Truth Social.
A maioria das pesquisas públicas realizadas antes da desistência de Biden não constatou que Kamala tivesse um desempenho estatisticamente melhor do que Biden contra Trump.