Por Geoffrey Smith
Investing.com – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, formalizou a maior apropriação territorial testemunhada pelo mundo nos últimos 50 anos, nesta sexta-feira, mesmo com as forças ucranianas recapturando mais porções de terras reivindicadas pelo Kremlin.
Putin realizou hoje uma cerimônia para formalizar a anexação das províncias ucranianas de Zaporizhzhya e Kherson, além das duas “Repúblicas Populares” de Donetsk e Luhansk, que romperam com Kiev no momento da primeira invasão russa em 2014.
De acordo com cálculos do Investing.com, trata-se da maior transferência territorial de um estado soberano para outro desde que o Vietnã do Norte absorveu a porção sul do país apoiada pelos EUA ao final da Guerra do Vietnã.
A ação da Rússia, que se seguiu à realização de referendos organizados às pressas e sob a mira de armas nos quatro territórios no fim de semana, foi frontalmente condenada pelos Estados Unidos e pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Isso contrasta fortemente com as alegações frequentemente feitas por Putin, desde 2014, no sentido de que não haveria mais anexações de territórios da Ucrânia após a tomada da península da Crimeia.
No início da atual guerra, Putin declarou que seu objetivo era “proteger a população do Donbass”, vale dizer, as regiões de Donetsk e Luhansk, bem como “desnazificar” o regime ucraniano.
“Os Estados Unidos rejeitam os resultados ilegítimos e fabricados dos vexatórios ‘referendos’ da Rússia na Ucrânia, afirmou o Secretário de Estado, Antony Blinken, na quinta-feira. “Trata-se de uma violação da lei internacional. Continuaremos apoiando a soberania e a integridade territorial da Ucrânia”.
A União Europeia também foi contundente em sua condenação, com a presidente da comissão, Ursula von der Leyen, dizendo: “A ilegal anexação proclamada por Putin não mudará nada. Todos os territórios ilegalmente ocupados pelos invasores russo são ucranianos e sempre farão parte dessa nação soberana”.
Em um discurso durante a cerimônia, Putin pareceu justificar a anexação com uma referência aos históricos crimes de colonialismo ocidental, ao afirmar que a Rússia — cujo império territorial foi o maior do mundo entre o século XVII e meados do século XIX — era uma potência “anticolonial”. Ele também aproveitou a oportunidade para criticar a disponibilidade de operações de mudança de sexo nos países ocidentais.
Putin evitou realizar qualquer escalada retórica em torno da guerra, mas acusou os “anglo-saxões”, isto é, EUA e Reino Unido, pelas explosões ocorridas no início da semana, que destruíram gasodutos da rede Nord Stream sob o Mar Baltico. Os governos da Dinamarca e da Suécia, em cujas águas ocorreram os ataques, atribuíram a responsabilidade à Rússia.
Em nenhum momento, durante seu discurso, o mandatário russo especificou os limites do território que estava reivindicando. As forças russas não controlam completamente quaisquer das regiões anexadas na sexta-feira, e seu domínio sobre elas parecia estar se enfraquecendo, após tanto as forças russas quanto ucranianas sugerirem que as forças de Kiev haviam feito novos avanços na região de Donetsk.
Blogueiros militares da Rússia reconheceram que as forças armadas da Ucrânia estavam prestes a cercar combatentes russos em Lyman, cidade que controla uma importante linha de suprimentos para as tropas russas nas regiões sul e oeste. Isso consolidaria ganhos muito maiores das forças ucranianas no início do mês.