JOANESBURGO (Reuters) - O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciará seu gabinete ao vivo em rede nacional de televisão na noite deste domingo, informou sua assessoria, insinuando que as diferentes alas de seu governo de coalizão chegaram a um acordo um mês depois de o partido governante ter perdido a maioria absoluta nas eleições.
O Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), que foi forçado a fazer um acordo com partidos rivais depois de obter menos de metade dos votos nas eleições do dia 29 de maio pela primeira vez em três décadas, estava em disputa com a principal legenda de oposição, a Aliança Democrática (DA), sobre qual partido ficaria com quais cargos no gabinete.
“O anúncio... será na forma de um discurso televisionado à nação”, disse um comunicado do porta-voz da presidência, Vincent Magwenya, acrescentando que ocorrerá às 21h no horário local.
As negociações foram o último obstáculo para a criação do governo de aliança. Dois jornais locais relataram um avanço neste domingo, depois que a Aliança Democrática recuou na exigência de assumir a pasta do comércio e da indústria.
Durante décadas, o ANC aproveitou o seu legado de acabar com o apartheid 30 anos atrás, quando Nelson Mandela chegou ao poder e reconciliou com sucesso um país profundamente dividido em termos raciais, étnicos e de classe.
Mas os eleitores ficaram irritados com os maus resultados do ANC na prestação de serviços básicos, incluindo água, escolas e eletricidade. A legenda obteve apenas 40% dos votos nas eleições, o pior resultado em todos os tempos.
Para que a atual coligação formada entre antigos inimigos consiga fazer melhor, será necessária grande habilidade para conseguirem deixar de lado as diferenças ideológicas, dizem os analistas. Existem vários obstáculos potenciais na formulação de políticas públicas.
A Aliança Democrática quer acabar com alguns dos programas de empoderamento da população negra do ANC, dizendo que a maior parte deles ajudou a criar uma elite empresarial bastante rica, enquanto grande parte da maioria negra permanece pobre.
A legenda também se opõe ao desejo do ANC de expropriar terras -- a maior parte das quais está em mãos brancas como um legado da conquista dos colonos e do subsequente domínio da minoria branca -- sem compensação e distribui-las aos agricultores negros.
A Aliança Democrática também quer mudar o salário mínimo da África do Sul, atualmente em 27,58 rands (1,52 dólar) por hora, argumentando que isso torna a força de trabalho pouco competitiva.
(Reportagem de Tim Cocks e Wendell Roelf)